13 agosto 2006

Glup!

Era cedo, tava frio, nublado, e o vento era gelado. Aí, começou a chover, a roupa colou nos ombros e pingos d'água se penduraram na ponta do nariz. Mas tava bom. E eu não era a única.

10 agosto 2006

Meu voto invisível

Tenho assistido ao Jornal Nacional com uma expectativa que há muito tempo não sentia. O JN não está entre meus telejornais preferidos – que vêm a ser, primeiramente, o Bom Dia Brasil, às 7h, e o Jornal da Globo, lá pela 0h, em segundo lugar; mas, como se nota, existe uma certa incompatibilidade de horários para que eu consiga assistir, na seqüência, aos meus dois noticiários prediletos.
Pois o JN renovou minha atenção ao abrir uma série de entrevistas com os candidatos à presidência. Ok, eu não vi a do Alckmin, mas isso não significa nada, porque o Alckmin está fora de cogitação para a Loraine-eleitora.
Os candidatos têm 11min30s para falar, o Bonner sempre avisa. E o meu nervoso começa. Tenho sempre a sensação de que há 20 perguntas para serem feitas, porque fica aquele clima pré-interrupção, a Fátima com a mãozinha suspensa, o Bonner com a boca entreaberta pra emendar uma questão, o candidato falando, falando, falando uma resposta três vezes maior do que a necessária e o reloginho correndo. Se há uma coisa que a faculdade de jornalismo não ensina (bem, há muitas coisas...) é interromper entrevistado. Que nervoso que me dá. Parece um jogo. Parece prorrogação de decisão de título com o teu time precisando de um único gol.
Mas acho que o nervoso também é provocado pela postura dos dois entrevistadores. É postura mesmo: embora as perguntas estejam sendo bem cruas, sem rodeios ou confetes (ok, EU NÃO VI A DO ALCKMIN), o Bonner e a Fátima me parecem mais agressivos. E arrisco dizer que isso tem um pouco a ver com a frustração geral com a classe política. Com o festival de mentira e corrupção revelado sem trégua, se perdeu um pouco o respeito, o pudor. E, como o jornalismo sempre teve demais disso ao tratar com as “vossas excelências”, a decepção acabou por dar uma boa aparada (natural/inconsciente) nos excessos da relação mídia-políticos. Acho.
Ok, mas o que eu queria dizer é que acho que defini meu voto ontem, na terceira entrevista da série. Na verdade, não foi o voto que defini, foi a minha postura. Eu não tenho esperança que ele ganhe. Mas eu decidi ser humilde. Decidi parar de acreditar que o próximo vai, sim, resolver os problemas do país que o outro não conseguiu. Desisti de pensar grande, desisti de pensar que o Brasil vai dar certo em quatro anos, basta pôr lá a pessoa certa. Desisti de tudo isso e vou pensar pequeno, miúdo. Vou votar pensando a longo prazo, tipo: é preciso pôr o primeiro tijolo para ter uma parede, né? Tipo isso eu decidi. E esse primeiro tijolo é qualquer coisa, mas qualquer coisa mesmo de uma daquelas que o candidato de ontem disse que ia fazer. Qualquer uma que for feita eu já vou me sentir em paz com o meu voto. O entrevistado foi o cândido Cristovam Buarque.
Qualquer coisa que seja feita na área da educação terá valido a pena. O futuro vai me dar razão. O Brasil precisa de sutilezas. Precisa de ações que não pareçam grandes ações. Precisa de atos meio que invisíveis, para que nem a teia de corrupção nem o olho gordo da oposição os perceba. O Brasil precisa ser humilde e começar do começo, com atos invisíveis, mas altamente transformadores – e isso só ocorre numa área: educação.

08 agosto 2006

Ei, amigos

Se estou lendo algum blog de amigo ou conhecido e volto pra cá, na maior parte das vezes acho meus textos muito chatos. Quanto drama. Quanta instrospecção. Quanta emoção (?!). Quanto pretensão. Ok, o blog é meu, eu faço dele o que quiser, mas às vezes parece que não é assim: é ele que faz de mim o que quer. Ops. Tá, chega.
Eu só entrei para dizer (após ter mais uma vez a sensação de que sou uma chata) que eu não sou tão chata assim, ok? Ei, amigos, testemunhem a meu favor! Não deixem esses textos acabarem comigo! :)
***
Uma vez, quando eu era bem mais novinha, pensei em ter uma agenda/diário pros dias tristes e outra pros dias alegres. Mas daí fiquei com medo de não preencher as duas igualitariamente... Desisti. Achei melhor tocar a vida sem a expectativa sobre qual agenda eu pegaria no final do dia.
***
O receio acima pressupunha um relato sincero, imparcial. Mais uma vez, meu jeito chato prevalecendo. Porque eu simplesmente poderia usar as duas agendas para brincar, relatar o mesmo dia nos dois cadernos, um sob olhar triste, outro sob olhar feliz. Algo como Melinda & Melinda, sabe? Seria, ao menos, a garantia de um exercício ficcional todo dia.
Mas não tive essa boa idéia, na época. O chato, em geral, não vê alternativas na situação, não vê o todo. Ok, vou parar de dizer que sou chata. Ficar dizendo isso é mesmo muito chato.

06 agosto 2006

E quando entra minha amiga nessa história?

Teve uma vez que entendi um filme pelos olhos de uma amiga. Estávamos no cinema, lado a lado, a história se desenrolava na tela há algum tempo e foi só quando percebi sua emoção discreta (quase sem deixar marcas depois que as luzes se acenderam), já no final do filme, é que entendi a força dele.
Eu disse a ela que escreveria sobre isso no blog logo em seguida, o tempo passou, ela foi pra São Paulo e, porque me ligou ontem, lembrei da vontade de contar o episódio aqui.
Há várias produções, principalmente recentes, que se valem da brincadeira da metalinguagem para pôr um filme dentro de outro. Estrela Solitária é francamente isso – e foi nesse filme que a reação de minha amiga valeu o ingresso.
Estrela Solitária é (aparentemente) ingenuamente isso: um filme dentro de um filme. O recurso nem parece importante, porque é a história de um ator que larga as filmagens de uma produção repentinamente, num surto, para rever suas escolhas, rever o caminho percorrido – aquele batido acerto de contas com a gente mesmo, nada raro em muitos filmes. E ele chuta tudo para o alto, porque esse tudo não o motiva, não lhe preenche mais, e vai reencontrar o passado, que significa uma mãe, uma paixão e dois filhos deixados para trás numa cidade, por sua vez, ainda mais perdida, no meio do nada. E, como o próprio personagem, o espectador realmente se fixa nesse lado do filme e põe à parte, em segundo plano, as filmagens – a dificuldade da produtora, do diretor de terminar a obra sem a presença do ator principal.
A necessidade da finalização do filme está presente em todo momento, na figura, inclusive, de um cara (advogado? Não lembro) que vai atrás do personagem/ator para que ele volte e termine as filmagens. Como o personagem, o espectador pensa toda vez: “Que merda, deixa ele resolver o passado dele, porra, deixa ele reparar os erros, fazer as pazes com os filhos e tal”. A gente fica nessa torcida até que se dá conta de uma sensação sutil, mas que se agiganta sem volta: qual filme está dentro de qual? Qual é a História dentro da história?
Evidentemente, era na “vida real” que se concentrava a carga emocional do filme: o reencontro com a mãe, com a (ok...) mulher de sua vida, a descoberta dos filhos e a sensação, claro, de que fez tudo errado (mas como saber disso antecipadamente? Depois da vida percorrida, fica fácil, né?). Era ali, nessas cenas, que o personagem e o espectador sofriam. Era para aquilo tudo que esperávamos a virada, o desfecho, o grande desfecho. E enquanto ele não vinha, segurávamos todas as emoções que estávamos experimentando no escuro. Só que o desfecho não vem. Não há nada mais o que fazer na “vida real”. O personagem revive todo aquele passado como num sonho (e a fotografia do filme por vezes lembra uma atmosfera onírica, um silêncio como que quando mergulhamos no fundo da piscina e nada mais é ouvido, só há nós mesmos e os personagens de nosso sonho). Até que, depois dessa espécie de regressão, ele tem de voltar e cumprir seu contrato com a “vida de mentirinha”. Tem de voltar às filmagens. Ele acorda para a vida que escolheu. Todo o resto fica como estava (claro que não fica, mas não é esse realmente o efeito de um sonho? Tudo continua igual aqui fora, mas algo em você mudou depois dele). Então, o espectador percebe que vinha torcendo por algo impossível: mudar o passado. Dito assim fica até superficial, mas não é, até porque já sobraram talento (dos atores), sensibilidade (sua, se vc não é um idiota) e tempo suficientes para que o espectador tenha se identificado com essa angústia de simplesmente aceitar o que não pode ser mudado.
E quando entra minha amiga nessa história?
Bem, o personagem volta para terminar o filme para o qual foi contratado. E a cena do filme dentro do filme é a de sua despedida da mocinha. Eles se despedem apaixonadamente. Ele terá de deixá-la, com coragem, desapego, uma força de herói (que ele não teve na vida real). Uma cena boba, de um filme de sessão da tarde, mas o estopim perfeito que faltava. Explico: foi nesse momento que vi minha amiga se emocionar. Eu também me emocionei nessa hora. E arrisco dizer que mais gente se emocionou na sala só nesse momento. Nesse momento, na “história de mentirinha”, é que nos permitimos soltar um pouquinho da emoção contida durante todo o tempo da “história de verdade”. Por que chorar só no momento que parecia menos real? É evidente que a emoção geradora das lágrimas não tinha rigorosamente nada a ver com a história da mocinha, que sequer conhecíamos. Talvez porque ali o choro era mais fácil, mais inofensivo, menos revelador de nós mesmos. Ali, com a mocinha, o choro nos atingia menos.
Foi aí que percebi a impossibilidade de definir que filme estava dentro de qual – e mais: definir que história pessoal está dentro de qual em nossas vidas. Foi aí que percebi como enrolamos a nós mesmos quando se tratam de emoções. Como nos atrapalhamos com escolhas emocionais, exatamente como o personagem do filme. E, então, acho que, se tive a intenção, no início do filme, de julgar o personagem ou suas escolhas, desisti – como acabaram fazendo a mãe, a ex-mulher, os filhos, o advogado e ele próprio.

04 agosto 2006

Plantão

Caminhava pelos bairros Farroupilha e Cidade Baixa hoje e vi e ouvi várias vezes o chamado. Era um carro com aqueles sistemas de som. A voz grave e séria explicava que um cachorrinho havia se perdido ou sido roubado. Os vidros e a lataria do veículo exibiam cartazes/reproduções de fotos do animalzinho. A mensagem frisava o fato de ele estar doente, de precisar de cuidados regularmente. E gratificava-se quem o encontrasse, claro.
Até aí nada muito extraordinário.
Acontece que o texto em tom grave era precedido por aquela musiquinha do plantão da Globo. Aquela com a qual todo mundo pára o que está fazendo e fixa os olhos na tela da TV, a espera da notícia que, diferentemente de todas as outras do dia, não podia esperar. A vinhetinha do flash extra, fora dos telejornais, sabe? Bem, então eu fiquei algumas horas ouvindo de tempos em tempos a musiquinha e, por causa dela, acionando a pesada sensação de atenção que ela provoca -- desnecessariamente.
Mas que a idéia do cara foi boa, ah, isso foi, né?
Tomara que o cachorrinho esteja bem.
Na real, eu queria que a vinheta do plantão tocasse agora na TV avisando que o bichinho foi encontrado. Ok, menos, Loraine...

Elogio

Uma vez cheguei da rua, ainda morava com meus pais... Mais anterior ainda: meu pai ainda era vivo. Mais mais anterior ainda: eu acabara de me formar em jornalismo. Cheguei em casa, oi, oi, tudo normal. Daqui a pouco, meu pai veio com essa:
- Li tua monografia.
Tinha um rascunho impresso sobre a minha escrivaninha.
Eu queria lembrar aqui exatamente o que ele disse, mas não guardei a palavra para abrir o travessão e me autorizar a ordem direta. Lembro apenas (apenas?) que ele fez um comentário positivo, tinha gostado mesmo, seus olhos diziam.

Foi a surpresa que me impediu de gravar a frase exata que ele disse. Mas o fato era esse: meu pai, em algum momento daquela tarde, tinha parado o que quer que fosse para ler, espontaneamente, algumas dezenas de páginas do meu trabalho final de curso. Nem precisava ter gostado. Ainda seria o maior elogio que uma pessoa podia receber mesmo que ele não tivesse gostado.
O elogio está na consideração (para dizer o mínimo), evidente no gesto e interesse espontâneos.

Dois verbos

Pertencer
Aprender

Pertencer para aprender ou aprender para pertencer, tanto faz. Pode ficar sozinho cada um, mas os dois verbos meio que aprendem um com o outro, meio que se pertencem.

Lead

Claro que não é meu. É do Fabrício Carpinejar, num texto* sobre o poeta Manoel de Barros:

“Manuel de Barros tem uma letra miúda, a caligrafia emendada e tímida. Em um mínimo cartão, aproveita os dois lados, curte toda borda. Não desperdiça uma vírgula da resma. Qualquer fresta é a festa do grafite. Com lupa, atinge-se o tamanho normal de leitura. A olho nu, é um canteiro de formigas no açúcar da folha. É necessário cheirar o papel para entender o que ele escreve.”


*Revista Vida Simples, edição de agosto

Bem juntinhas

Bem juntinhas
eu e a Búio