25 junho 2006

Verdades

Toda palavra não teria começado como metáfora? Se no princípio era o nada ou muito pouco, de que forma os falantes se referiam às coisas senão valendo-se da relação de semelhança entre elas? Por isso que eu acho que, se a metáfora é hoje uma figura acessória de estilo, no princípio foi a principal forma de compreensão das coisas – e um importante meio de comunicação entre as pessoas. Porque, diferentemente de outros recursos lingüísticos, a metáfora requer a comparação, a análise, até a definição do que é igual, do que se parece, estabelecendo outro significado. Então, o pensamento está muito presente. Eu diria mais: a sensação está muito presente. Quando não se tem a palavra exata para exprimir o que está ali, sentido ou notado, o que fazemos? O que fazemos diante da necessidade de verbalizar o que a mente construiu indiferente à falta de substantivos? Misturamos o pensamento sobre uma coisa já nominada com a sensação provocada pela coisa ainda não nominada. Dependemos, de certa forma, da emoção – ainda que numa medida controlada, sem transbordamentos, no ponto, certeira.
Por que estou viajando desse jeito? A culpa é dessa frase, que li há pouco, atribuída a Nietzsche:

“Todas as evidências da verdade nascem apenas dos nossos sentidos”.

E o tempo passou, temos tantas palavras, tantas, tantas, precisas, suficientes para o diálogo, que as metáforas ficaram restritas a casos especiais. Mas fica a impressão de que, se nos dispuséssemos a prestar mais atenção a nossos sentidos, se tivéssemos tempo para isso no dia-a-dia, recorreríamos às metáforas mais vezes, como deve ter sido no princípio do mundo das línguas. E mais rapidamente novas palavras se incorporariam aos diálogos – não eternamente como estilos, mas logo, logo como substantivos comuns. E mais verdades nasceriam. Quantas verdades ainda não conhecemos?

Bem juntinhas

Bem juntinhas
eu e a Búio