30 julho 2006

Te organiza

Tenho pensado várias coisas, mas não consigo desenvolver nada. Já inventaram um nome para isso: confusão mental. O bom é que a gente consegue ir tocando aquelas coisas que fazem os outros acreditarem de que está tudo bem com a gente. Então, ninguém me perturba. Ninguém sabe da minha confusão mental – quer dizer, agora é possível que algumas pessoas saibam, né, porque estou escrevendo aqui.
Se bem que o próprio fato de eu estar escrevendo isso mostra que a confusão não é tão grande assim. Escrever organiza. Na real, eu estou falando da confusão mental para poder dar algum sentido às frases que se seguirão a essa (confusa) introdução.
Antes delas, porém, lembrei de uma coisa ao escrever ‘escrever organiza’. Durante um tempo, fiz aula de pilates com uma professora que dizia isso antes de cada exercício: “Te organiza”. Eu achava genial. Tipo assim: te prepara. E eu acho mesmo que a gente é capaz de “dizer” coisas aos músculos. Quando você pára e pensa em algum músculo, é óbvio que alguma carga elétrica, energética, sei lá o quê, ele recebe. Como que não? Afinal, estamos vivos. Mexemos o dedo porque pensamos em mexer o dedo, certo? E o que faz mexer o dedo são os músculos servidos, evidentemente, por terminações nervosas cuja origem está na nossa cabeça. Então, ao atender o “te organiza”, pensar nisso, eu acredito que realmente me organizava, a nível músculo-esquelético – o que em muitos casos é o que basta para a gente se sentir melhor.

Que viagem, né? Confusões mentais encontram terreno fértil por aqui, como se vê... Eu tô precisando urgentemente de um “Te organiza”.

Curtas:

1) Vai dizer que tu não torce quando vê uma pessoa correndo para pegar o ônibus que já ameaça partir?
2) Os morangos são uma farsa. Gordinhos, vermelhinho-vivos, com aquela folhinha verde por cima. Perfeitos. Parece que saíram de um desenho animado. Mas cadê o sabor? A pêra, por exemplo, não engana ninguém. Você olha pra ela e pensa “não posso esperar muito de algo com esse visual”. Vai lá e come por motivos do tipo que faz a gente comer pipoca de isopor: só para mastigar algo. A pêra é o chuchu das frutas. O morango, não. O morango é muito do enganador. O morango é o publicitário das frutas.
3) Me irritam muito as pessoas que entram no ônibus e deixam para achar todas as moedas do mundo – para pagar a passagem – quando já estão na roleta. Custa levar no bolso e agilizar? Parece que pegar o ônibus foi uma decisão de última hora. Claro que não foi.
4) Já escrevi aqui sobre os tipos de cobradores de ônibus? (adoro fazer essa perguntinha blasé, tipo pra deixar a pessoa curiosa e ao mesmo tempo mostrar que tenho algo a dizer sobre aquilo, mas como não sei ainda como dizer, faço a perguntinha querendo parecer simpática, tentando garantir a audiência previamente, porque é claro q eu sei que ainda não escrevi aqui sobre os cobradores).
5) Só falo de ônibus, né... Eu gosto de ônibus... Gosto de transportes coletivos. Acho muito estranho aquele monte de carros, engarrafados, com cinco lugares disponíveis e apenas um ocupado.
6) Minha Porto Alegre ideal teria ciclovias por toda parte. Minha Porto Alegre ideal teria porto-alegrenses adeptos de transportes alternativos. Minha Porto Alegre ideal também perderia um naco de cada lado da avenida Ipiranga, para dar lugar a uma pista para caminhada, um calçadão, uma ciclovia, de ponta a ponta. O Dilúvio seria navegável também. E nos arredores da cidade eu construiria uma cidade cinematográfica para que os pichadores e os artistas de rua mostrassem o que tanto têm a dizer em marquises e pilares. Os trabalhos mais legais, mais corajosos, iriam para cidade verdadeira, depois de escolhido por voto popular. Eu abriria um planetário no topo de algum dos morros de Porto Alegre e acabaria de vez com o muro da Mauá e o Guaíba seria despoluído, evidentemente. E nunca, jamais, em tempo algum, cercaria os parques.
7) Casaizinhos de estudantes caminhando juntos, abraçadinhos no final de tarde pelas calçadas próximas da escola, são bonitinhos, né? Os vestidos com o uniforme do colégio militar me comovem em particular. Por que será?
8) O fim de tarde tem algo de definitivo, solene, né? Como se não fosse se repetir no dia seguinte. Aquele monte de gente indo pra algum lugar, desordenadamente. Trabalho cumprido, sabe? Todo mundo liberado para ir. Buzinas, engarrafamento, paradas lotadas, pressa, apesar das caras conformadas. Incrível como tantas vidas diferentes podem se parecer tanto nesses horários clássicos. Todo mundo vai pra casa no mesmo horário, meu Deus? Nunca esqueci uma frase que li num texto do Paulo Fancis. Ele descrevia alguma avenida de Nova York, eu acho, mas pra mim serve para qualquer lugar. A grosso modo, ele dizia que esse momento “fim de tarde”, com todo mundo indo de algum lugar pra outro, deveria ser parecido com o do juízo final.
9) Do jornalismo impresso, minha preferência gráfica é pela capitular. Adoro capitulares. Organizam tudo.
10) Vai dizer que tu não sente um certo prazer ao ver que a pessoa que corria conseguiu pegar o ônibus? Boba essa sensação, passageira até, mas que faz um bem... Por que eu nunca corro pra pegar o ônibus que chegou antes de mim à parada?

02 julho 2006

Entendeu?*

Hoje fiz um troço simples, que há tempo não fazia e que simplesmente adoro. Que bom, né? Você também? Tomara que sim.

O que eu fiz foi bem simples, bem bobo até. Talvez você nem ache bom, nem entenda por que adoro. Mas como eu adoro mesmo, como me faz bem mesmo, eu realmente não me importo com sua opinião. É assim quando a gente tem a serenidade da certeza: não se importa em se explicar. Apenas faz.

Eu vesti uma roupa confortável e que me protegesse do vento, porque não havia muito sol. Pus um boné, para meio que me esconder mesmo, enfiei uns tênis velhos e abri a mochila. Lá coloquei algumas coisas que pudessem parecer um kit sobrevivência. Algo que me desse a idéia de que levava tudo do que precisava. Que me desse, enfim, a idéia de que partia para uma aventura, a idéia de que me desprendia de algo (da rotina, da semana de trabalho - a que passou e a que virá -, do último telefonema, das respostas que não vêm, das coisas por fazer...). O kit: uma toalha pra sentar no chão, algo pra ler, água e um pouco de dinheiro, rádio e fones de ouvido, bloco e caneta. Por fim, desci e resgatei a bicicleta do quartinho escuro sob a escada do prédio.

Mochila nas costas, adoro sair por aí, sem saber muito ao certo que caminho tomar. Isso na minha própria cidade, sem hora para voltar. Já se comportou como turista na sua própria cidade? Olhando pras coisas com curiosidade? Parando no meio do caminho para matar a fome ou a sede com alguma coisa simples? Taí uma coisa que só depende de disposição. De espírito.
Entendeu?

É claro que sabia para onde estava indo, e que em tal hora mais ou menos voltaria, e que não sou turista, e que Porto Alegre não é tão turística assim. Mas acontece que, se nada disso fosse verdade, eu estava preparada também. Se me perdesse, se não voltasse no horário, se me sentisse turista, se POA revelasse uma paisagem de turismo, tudo bem. Eu ia conseguir perceber, porque era o que eu queria.
Entendeu?

E o legal é que coisas não previstas aconteceram mesmo. E eu voltei para casa com a sensação de que realmente tinha ido sem saber para onde, que realmente voltei na hora não planejada, e que fui uma turista na minha própria vida por algum tempo.
Entendeu?



* Isso que eu não estava preocupada em me explicar... Como a gente se contradiz quando escreve, né?

Domingo no parque

O que merece quem veste seu cachorro com roupas? Cinqüenta chibatadas? Cem?
E quem, não contente em vestir, o faz de modo ridículo? A pena de morte, evidentemente.

Impagável e absurdo(s)

Eu nem sonhava em fazer jornalismo ainda e lembro de perguntar à minha mãe – na verdade, era mais uma pergunta pra mim mesmo, em voz alta, porque minha mãe não ia saber, não era uma resposta que mãe sabe, a mãe estava ali como coadjuvante -, no encerramento do Jornal Nacional, sobre o que diabos falavam os apresentadores, quando subiam aquelas letrinhas e vinha a cortina (a música-tema do noticiário, por assim dizer).
- O que será que eles falam...? – eu me perguntava, meio pensando, meio falando.
Minha mãe sorria, ria. Da minha curiosidade, ou de perceber que nunca havia pensado nisso.

Pois bem, eu fiz jornalismo, e cresci também, então, dá para imaginar o que eles falam. Quando é o Bonner e a Fátima, cogito até um “Vamos, querido?”, “Está liberada, querida?”.
Mas eu não sei ler lábios não... A Globo descobriu uns guris que sabem e criou um programete em cima disso dentro do Fantástico durante a Copa do Mundo. É o Jogo Falado – e caberiam aqui algumas considerações sobre os limites da privacidade de cada um (incluindo técnicos, que já não têm nenhuma no país do futebol), ou sobre a mania que a gente tem de querer ver se os outros, os que estão na TV (embora saibamos que são reais, de carne e osso, gases e arrotos), se eles realmente são como a gente, falam/fazem as coisas que a gente falaria/faria, vide Big Brother.

Ok, não caberia nada disso. Papo chato. Vou deixar isso pros mestrandos em comunicação.

O que eu quero dizer é que o Felipão ganha até no Jogo Falado. Foi a vez dele nesse programete, agora a pouco, no Fantástico.
Im-pa-gá-vel!

Se bem que, ao descobrir o que o Felipão falou durante os jogos, meu deus, a seleção portuguesa é um caos absoluto! Nunca ninguém está no lugar que é para estar! Fora isso, o Felipão confirma o que todos já sabem: ele é uma figuraça.

Pensando bem...

O Felipão com voz de Zeca Camargo é a dublagem mais absurda que eu já (ou)vi nos últimos tempos.

Se fosse coisa da RBS, eles iam pôr o Radicci a dublar...


(então, tá, não resisti:) da série "enquetes-tolas-que-fazem-qualquer-um-parar-sua-vida-para-pensar-na-resposta-até-se-dar-conta-de-que-é-uma-tolice-que-não-leva-nada-ou-ninguém-a-lugar-algum (apenas os bem-humorados):
- Quem deveria fazer a voz de Felipão? Diga aí! Cid Moreira? Chuck Norris? Aquele cara que faz o Garota Verão? O Lombardi? Quem?

01 julho 2006

Les Bleus font chuter le Brésil (1-0)

E agora?
O Brasil está fora da Copa. Perdeu para a França nas quartas-de-final (e agora vão começar a dizer que a França é o algoz do Brasil, que o Brasil tremeu de novo, enfim, esse papo futebolístico que usa sempre as mesmas figuras/expressões para explicar as coisas, não importando os fatos, o contexto ou as personagens em campo).
Portugal foi para a semifinal. Ganhou da Inglaterra nos pênaltis. E agora os brasileiros, tirando os colorados, os corintianos e o Luxemburgo, vão dirigir para o Felipão a esquizofrenia que vinham apontando pra Seleção do quadrado mágico. Saco. Deixem o Felipão em paz!
O Brasil nunca teve torcida. Esses dias li no jornal que um alemão perguntou pruma repórter gaúcha por que os brasileiros não torciam lá nos estádios da Copa. Era verdade do lado de cá também. Não torciam, faziam onda.
Sempre tive a sensação de que as pessoas repetiam-se umas às outras, sem personalidade, porque alguém uma hora tinha começado a fazer daquele jeito, mas não se sabe quem. Como uma ola, de estádio mesmo. Quem começou? Não se sabe, mas a gente repete o gesto. E nega os fatos. Faz um acordo tácito de que está tudo bem e segue nessa esquizofrenia. Até um fato se sobrepor a qualquer comportamento dissimulado: a derrota irreversível. E agora vem a chatice das explicações. Os motivos da derrota sempre estiveram ali, o chato na história é que só agora todo mundo se propõe a enxergá-los.
Mas não era nada disso que eu queria escrever aqui. Saco isso. A essa altura, já perdi metade dos leitores. Ninguém gosta de texto grande, Loraine, te orienta!

O que eu queria dizer aqui é que os jornais portugueses são muito divertidos!!! Por causa do feito do Felipão, naveguei pelo site de alguns deles e fiquei impressionada com a falta de empolgação. Aquilo são manchetes para time de Parreira, não de Felipão!!! Está tudo errado!

Um deles, o Diário de Notícias (www.dn.pt), de Lisboa, sequer tinha trocado a manchete depois do jogo. Mantinha a mesma da apresentação da partida. Ô, empolgação, hein?!
“Figo lidera estratégia e Scolari esconde Ronaldo”

Achei que o A Bola (www.abola.pt), até pelo nome, fosse mais audacioso, principalmente depois da capa da edição impressa, que dizia hoje “Vai um chá?”, em alusão ao hábito dos ingleses. Mas olha a manchete do jornal online:
“Portugal nas meias-finais”.
Meias-finais? Ó, céus.
O Correio da Manhã (www.correiomanha.pt), de Lisboa também, acho até que tentou. Mas ainda fica a impressão de que estão falando de qualquer Seleção menos da deles:
“Portugal vitorioso no mata-mata dos pênaltis”.

Meramente correto, não é? Cadê o entusiasmo com o gaúcho que enche de orgulho e de inveja qualquer brasileiro? (Menos os colorados, os corintianos e o Luxemburgo, claro).

Portugal vive uma esquizofrenia às avessas. Está tudo errado!!! Se o Brasil acreditava, porque, afinal, aprendemos a acreditar SEMPRE quando o assunto é futebol, os portugueses sim-ples-men-te-não-a-cre-di-tam, à revelia dos fatos. À revelia de Felipão.

Eles mereciam o Parreira. A apatia dele. Na boa. Mereciam porque não se importariam com ela, nem iam notar. Temo que os portugueses não saibam valorizar o momento Felipão. Desperdiçar vibrações... tsc, tsc, tsc, não sei não, isso não se faz*.


*Porque de apatia eu entendo, mas essa já é outra história e não tem nada a ver com esse post sobre futebol.

Bem juntinhas

Bem juntinhas
eu e a Búio