22 janeiro 2007

O bar

Na ponta da esquina, era uma daquelas casas antigas, cuja construção usa tudo o que pode na frente, deixando a calçada bem estreita. De madeira, como as janelas, e estreita também, a porta alta, com uma espécie de janelinha no topo, bem onde a rua vira esquina e mira o cruzamento. Nada aponta que é um bar, a não ser a antiga placa da Coca-cola, que reserva um pedacinho, em letras pequenas, para o nome do lugar - é o nome de bar mais curioso que já vi.
Miudezas triunfantes.
Juro.

17 janeiro 2007

No aeroporto

Sábado de folga, dia 13. Vôo atrasado. Seqüenciamento de aeronaves. Decido achar um canto no chão para me sentar. A sala de embarque está cheia. Há pouco, eu havia recebido uma boa notícia. Meu primo iria para o mesmo lugar que eu no Rio, meu destino, se tudo desse certo. Isso significa que poderíamos nos encontrar e eu teria companhia. Mas o horário agora me preocupa e começo a pensar em um plano b. Desistir seria feio demais. Ligar para a agência de viagens e ver as possibilidades? Talvez elas não existam. É que, dependendo, pode não haver tempo para eu chegar a Niterói.

Vindo do lado direito, ouço uma história triste. Um homem e uma garota – que podia passar por sua filha, mas descubro depois que é sobrinha – avisam familiares do atraso do vôo. E começo a conhecer o motivo da viagem dos dois. Alguma jovem parente de ambos faleceu vítima de câncer. Vão para o enterro, em Curitiba – onde meu vôo faz escala. A moça falecida tinha acabado de se casar quando descobriu a doença, que agiu rápido. Ao conhecer o diagnóstico feroz, liberou o noivo/marido para partir. Ele havia deixado emprego em SP para começar nova vida ao lado dela. Começou, mas a vida se revelou curta depois do casamento. Parece que ele ficou junto dela até o fim.
Ok, me dou conta de que o mundo é bem maior do que meus problemas daquele instante, circunstanciais e tal... mas não consigo achar razoável o atraso (o problema ficaria ainda maior em Curitiba e eu perderia de vez a ida ao Rio).

Os que conversavam ao meu lado – o homem e um rapaz para quem era contada a história do falecimento precoce – agora falam sobre outra coisa. Nunca tinham se visto até então. Quanto tempo vai durar essa amizade?

Salas de espera devem ser os primórdios desse comportamento disseminado na Internet: falar com estranhos. Disparar um oi para alguém. Na rua, falamos com que não conhecemos? No mundo virtual, nos Second Life por aí, sim. Salas de bate-papo reais é o que são as salas de embarque de vôos atrasados. Ou melhor, as salas/os locais de qualquer coisa quando reúnem várias pessoas por um tempo.

Sabia que seria, de qualquer forma, um sábado diferente. Mas não há dúvidas de que não esperava tanto. Estou tensa. Nem só pelo atraso. Mas por haver uma discordância entre o que eu gostaria de fazer (voltar para casa, mas sem perder dinheiro ou a chance do teste para voluntária no Pan) e o que eu deveria fazer (tentar até o último minuto).

Tudo vale a pena se a alma não é pequena.
Acho que a minha é. Mas é bem verdade que tenho me esforçado para que ela cresça um pouco.

06 janeiro 2007

Quadros...

Por que na casa-de-praia o pudor das pessoas some ao decidirem pendurar coisas na parede?

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Por que na praia a gente topa qualquer coisa? Por quê? Tomar café ao meio-dia, almoçar às 17h, lembrar de tomar banho só às dez da noite, jantar (pão d'água com-o-q-tiver/sobrou) às 23h, ir ao súper de biquíni (ir ao súper em que as pessoas estão de bíquini, com seus corpos disformes e com restos de areia e bronzeador) -- que súper? ir ao mercadinho da esquina atrolhado onde se vende tudo o que tu imagina mas que nunca é encontrado na prateleira do corredor em que tu está... --, dormir de roupa onde sobrar lugar -- na cozinha, por que não?... --, colchões traiçoeiros, banheiro ensopado... e a decoração duvidosa na parede...

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Por quê? Por que tudo isso parece inconcebível, por que tudo isso é em geral impraticável a poucos quilômetros dali, na cidade?

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O que a praia revela de nós mesmos?

Bem juntinhas

Bem juntinhas
eu e a Búio