13 maio 2007

Então, a mãe do Santi gritou meu nome

10km é quase nada, mesmo para quem não corre, imagina para os praticantes. Então, se eu te disser que corri 10km, tu não vais dar bola. Se eu dissesse que não consegui correr 10km, aí tu ias achar alguma coisa. É como o Gauchão pra Inter e Grêmio. Se perde, fica chato. Se ganha, não fez mais que a obrigação.
Então, eu ter completado o percurso de 10km só é importante, passível de valorização, por uma única pessoa: eu mesma. A vida é assim em vários outros aspectos: tem coisas que você faz e só haverá uma pessoa para aplaudir, incentivar. Você mesmo. Esporte e vida têm muitas possibilidades de analogia. A atividade física é muito instintiva. Acho que por isso nosso jeito de ser fica tão evidente. Bastou meio semestre de ginástica olímpica na faculdade para o professor me chamar num canto e dizer: “Sabe por que tu não consegues fazer os exercícios, Loraine? Porque tu não confia em ti”. Tchóóóin!
Bom, mas o assunto não é esse...
Vamos à corrida. A de 10km, que eu completei numa manhã de domingo dessas. Eu e um monte de gente, claro.
O que eu mais lembro daquele dia: de respiração. Há muitas respirações: a tua, a do cara que vai do lado, do cara que vem te atropelando, do cara que está atrás e não vai te passar, do cara que tá na frente e tu não vai ultrapassá-lo, do cara que tu deixa pra trás... Depois, acho que o som mais marcante é o que vem dos pés, da passada no asfalto. Da metade da prova em diante, isso tudo continua, mas no meu caso eu passei a ouvir mais a minha própria respiração e a minha própria passada. É como se todo o resto não existisse. E, no meu caso, eu passei a falar comigo mesmo, mentalmente. Perguntava: joelhos, vocês estão bem? E vocês, pulmões? Pensava no movimento do braço... meu corpo virou uma gigantesca área de pesquisa, e esqueci do resto. Te juro, às vezes tinha a impressão que meus ouvidos tinham sido tampados, tamanho o interesse que eu tinha pelo que vinha do meu corpo, e não do entorno. (Acho até que no final senti uma peninha de não ter curtido mais, olhado mais em volta... algumas pessoas conversam entre si...)
Quando me aproximei do fim, vi o pórtico de chegada, não sei como é com os outros, mas algumas preocupações evaporaram, o fim estava ali, estava tudo bem, entende? Meio que como mágica, quis correr mais. Quis correr o que achei que não podia quando faltavam 2km pro fim. E se deixasse, vibrasse mesmo, corria mais mesmo!
Foi nessa hora que eu ouvi a mãe do Santiago gritar meu nome. Isso foi muito engraçado, eu nem sei por quê.
Foi nessa hora que vi a véia de cóqui, na minha frente, se aproximando do fim também. Ela percebeu minha aproximação e apertou o passo. Eu achei isso genial. Não valia absolutamente nada para nenhuma das duas, mas eu e ela, por segundos, apertamos o passo para nos vencer. Distraída com isso, duvidando de que teria mais força que ela, ou por estar cansada mesmo, ou por não ser exatamente vibrante, não a ultrapassei, e cruzamos a chegada quase juntas, ela um pouco mais à frente. Um cóqui de vantagem.
Em casa, depois, fiquei pensando: por que não passei aquela véia?!?!?


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Esses dias eu fiz um troço que, há um tempo atrás, eu jamais apostaria como provável que fizesse. E nem contei aqui! Deixei passar. Eu sou assim: totalmente antivibração. Que pé no saco...

Eu corri! 10km. Sem parar. E num bom tempo para quem mal dava seis voltas na pista de 400m há pouco mais de três/quatro meses.

Se eu fosse um pouquinho mais vibrante, até teria passado aquela véia de cóqui (cóqui!!) na reta final, rumo à chegada. Teria passado ela, mais umas duas, e meu tempo teria sido menor ainda.

Já explico melhor essa história. No post seguinte. Quer dizer, como eles (os posts) ficam de baixo para cima, você até já leu... Ta ali em cima. Eu não disse que sou antivibração? Até no blog.

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Tem uma coisa no jornalismo que pode ser fascinante, intrigante, irritante.
É isso:
O repórter chega algariado da rua e, depois de largar o bloco na mesa, assanhado pra escrever a história que está quentinha em sua mente, olhos e ouvidos, dá uma passada no bar da Redação. Para assentar as idéias, tomar um café. Ali, ele conta a pauta, a história para uma platéia cujo tamanho varia de acordo com a relevância do assunto que ele foi buscar, mas sempre há alguém prestando atenção. Aí, ele volta pra Redação.
E, no dia seguinte, a história que ele contou no bar é bem melhor do que a publicada no jornal.

Eu ando incomodada com o fato de o jornalismo se afastar tanto da vida real. Ok, sobra vida real em qualquer página do jornal, nem precisa se esforçar para procurar. Me expressei mal, eu acho. Eu quis dizer que o jornalismo anda longe do que realmente importa. É isso que sinto. Ou é uma impressão muito particular, algo ingênuo ou ignorante?

Bem juntinhas

Bem juntinhas
eu e a Búio