27 novembro 2007

Ah, a delícia de pensar (e escrever!) bobagens

parte 1
Já tinha pensado no que vou escrever aqui e aconteceu que hoje eu vi o outdoor da peça de teatro pela cidade. Me refiro à peça "Homens de Perto", que todo ano por essa época volta para os palcos. O nome, presumo, é uma alusão ao filme "Homens de Preto". Eu acho, porque nunca vi a peça. Já vi o filme, mas isso não ajuda nada.
E o que tenho de fenomenal a dizer é o seguinte.
Há homens de preto na esquina da rua da minha casa. Muitos homens, totalmente vestidos de preto. E como a esquina é quase na frente da minha casa, porque meu prédio quase fica na esquina, esses mesmos homens de preto também são homens de perto. Literalmente de preto. Literalmente de perto.

parte 2
E tem também aquele estacionamento no final (ou no começo) da Oswaldo Aranha, lá na curva antes de a gente mergulhar no túnel da Conceição, rumo à rodoviária. O estacionamento Peters Park.
E o que tenho de fenomenal a dizer é o seguinte.
Diz aí: "Peters Park". Diz, não adianta só ler. Diz em voz alta: "Peters Park". Sacou?
Acho engraçado que a sonoridade do nome de um estacionamento lembre a sonoridade do nome de um super-herói. Porque se há uma coisa de que os super-heróis não precisam é de carros, nem de estacionamentos. Sobretudo o Homem Aranha.

19 novembro 2007

Segunda-feira...


Comecei o dia tão... tão... tão... digamos, fora da casinha. Pensativa, buscando explicações pretensamente filosóficas sobre as coisas e... eis que vem da cozinha um barulho estranho. Ou melhor, um não-barulho, um silêncio estranho e sem lógica, porque eu tinha acionado a máquina de lavar, e era para estar fazendo barulho, muito barulho!
Estragou. A máquina. Com água dentro. Aiai...
Nada como acontecimentos comezinhos como esse para fazer a gente parar de viajar na batatinha, lembrar que o que importa é bem real e está bem ao lado da gente. Enfim, pra fazer a gente voltar pra casinha, deixar a filosofia pra quem pode. Tocar a vida, até porque hoje é segunda-feira.
Boa semana pra ti.
A foto? Não tem nada a ver com este post.
:)

09 novembro 2007

De ser único

O Sebastião é talvez a pessoa mais original que eu conheço. No sentido de não se parecer com alguém, no sentido de se destacar do lugar comum. Claro que tem aquele papo auto-ajuda que diz que todos somos únicos e papapá. Mas a maioria das pessoas precisa fazer esforço pra ser única, sei lá por que - e esse esforço às vezes se limita a se anunciar ao mundo como única, o que é um saco. O Sebastião não: ele precisa se esforçar é pra tentar ser igual a todo mundo, porque o contrário é de sua natureza - sem anúncios, sem propagandas. Ainda bem. Por isso, minha visita ao blog dele é regular. Sempre vale a pena.
Pra quem é jornalista ou publicitário e principalmente pra quem não é, recomendo dois dos post recentes, escritos em duas sextas-feiras desse mês 11 (dias 2 e 9). Procura aqui.


05 novembro 2007

E pra descer, é por trás?

Primeiro dia de bilhetagem eletrônica em parte dos ônibus de Porto Alegre. Fase inicial, começando com os idosos. Meninos, eu vi.
Eu vi:

- embarques demorados
- aquela área pré-roleta lotada, porque ficou menor, só há três assentos agora por ali...
- senhoras distintas trancarem a roleta achando que tinham o cartão, mas não tinham
- senhores e senhoras se esforçando para enxergar o visor azulado da bilhetagem (é realmente um pouco ruim a visibilidade, eu achei, imagina com 70 anos...)
- senhoras discretamente envaidecidas por poderem avançar ônibus adentro, algo tão corriqueiro para gente e hoje tão especial para elas (a primeira vez!), que sempre se empoleiravam às costas do motorista
- também vi senhoras se negarem a passar a roleta, pedindo pra descer do ônibus na parada seguinte, não adiantando o pobre do cobrador explicar que todos os carros da linha exigiriam o mesmo dela...
- vi cobradores serem ofendidos...
- vi senhoras tentando ajudar senhoras/senhores: sim, os promotores da mudança colocaram como guias/orientadores nos ônibus pessoas igualmente mais velhas... Talvez para criar uma identificação com os usuários atingidos pela mudança, não sei... Mas a mim pareceu apenas duplicar o problema: quem ajudava era tão pouco ágil como quem precisava de ajuda...
- e mais do que vi, ouvi a frase do dia (que resume bem a epopéia que foi para os idosos andar de ônibus hoje). Depois de passar a roleta e se acomodar, disse a senhora lá do fundo do ônibus (é tão estranho ver senhoras no meio do ônibus, no fundo deles, ao teu lado no banco!!!): "E pra descer, é por trás?".

04 novembro 2007

Tropa de Elite e Cartola

Uma semana depois de ver Tropa de Elite, assisti hoje ao filme Cartola. Mais ou menos assim:
fui de...
"Tropa de elite/osso duro de roer
pega um/ pega geral
ainda vai pegar você"

para...
"Chega de demanda/Chega!
Com este time temos que ganhar/Somos da Estação Primeira
Salve o Morro da Mangueira"


Fiquei pensando em como o morro carioca pode render diversas versões. Ou ao menos duas, bem diferentes. E ainda que tão distintos e distantes, os personagens principais de um filme e de outro se assemelham: você não vira filme, não faz história, não muda o curso das coisas, não recria o mundo a sua volta se optar por seguir as regras.
É verdade que não me parece ser uma opção. Tem muita gente que segue as regras porque não sabe fazer outra coisa, não vê outra opção, nem cogita, por absoluta incapacidade criativa. Assim como tem gente que só consegue burlar a regra, fazer do seu jeito, porque não sabe agir de outra forma. É essa gente, com esse impulso despretensioso, muitas vezes torto, passível de críticas, mas genuíno, verdadeiro, é essa gente que vira filme, vira história, faz o mundo. Pro bem ou pro mal. Seguir uma verdade muito íntima cria arte, como em Cartola. Seguir uma verdade muito íntima cria heróis e/ou anti-heróis, como em Tropa de Elite. E, veja bem, eu não tô falando de personagens felizes. "Ser" a história não tem nada a ver com viver a felicidade. Como diz Peter Parker, o Homem Aranha: "com grandes poderes, vêm grandes responsabilidades".

***
Bem, mas os filmes...
Em Tropa de Elite, não tô nem aí sobre a discussão de quem financia o tráfico, se os boyzinhos da zona sul ou o "sistema". O que gosto no filme são os exemplos de que as grandes decisões da vida só são tomadas quando algo mexe profundamente com a emoção da gente. E isso vale pro favelado e pro boyzinho. Somos incapazes de grandes atos se não formos empurrados para eles com a força da dor ou do amor.
Gosto do clima documentário tb: todos parecem não saber que estão sendo filmados.


Cartola é um filme sobre gente simples, desapegada, sobre as quais todo mundo adora ouvir histórias, saber que existiram, mas ficaria meio assim se fossem da própria família à época. Sacumé? Carlos Cachaça, por exemplo, cujo 'sobrenome' diz muito: saía para fazer feira e voltava três dias depois. Um filme de boêmios. Teriam eles lugar no mundo de hoje? Enquadrados como? Aliás, os 'nomes' e sobrenomes dizem muito sobre como levavam a vida: Heitor dos Prazeres, Nelson do Cavaquinho, Paulinho da Viola, Cai n'água, Madame Satã... O depoimento do Pelão - que produziu um disco do Cartola - e a descrição de como o samba nascia nas quadras das escolas são pelos menos dois dos trechos que valem o filme.

Bem juntinhas

Bem juntinhas
eu e a Búio