30 dezembro 2008

Lô de lôca

Pra 2009.
É difícil, é bem difícil fazer e ser aquilo que acreditamos. Me refiro aquele aquilo tão único, tão só teu que parece absurdo, estranho, impossível. Aquele aquilo que tu quase não tem coragem de dizer pro espelho.
Não, nem vem. Se você acha fácil, é porque não está sendo e fazendo aquele aquilo mesmo. Não está, sinto informar-lhe.
Eu tenho tentado. De um jeito torto, desengonçada (embora finja bem, quase com classe), pegando umas caronas frau (frau de fraude, morô? é do teu tempo essa?), outras profundamente esclarecedoras. 

De 2008, agradeço todos os insights. Insight é aquela coisa que brilha dentro de você. Uma idéia que vem, nascida de uma imagem. Ela pá, explode na cabeça, faz arregalar os olhos, sorrir com eles, arrepiar as costas. E pum, some. É rapidinho, mas é um combustível e tanto.
Todo o resto que surge depois, em geral, tende a atrapalhar. E é aí que fica difícil. O insight dura o tempo exato de você saber o que precisa fazer. Mas o como fazer é que a questão. E nessa jornada, não falta gente pra atrapalhar. Você tem vontade de contar pras pessoas, mas, infelizmente, não é por mal, elas vão te atrapalhar. Poucas ajudam. Verdadeira e genuinamente ajudam.

Meu consolo nessa jornada meio solitária (ui! ón, ón, ón - sirene para alertar que texto pode estar escorregando na breguice) é olhar em volta e sentir que quem optou por uma coisa diferente da de ser e fazer o que realmente acredita, essas pessoas levam uma vida profundamente desinteressante para mim. 
Às vezes, eu me perco (ok, muitas vezes). Canso. Me sinto realmente sozinha (ón, ón, ón, ón), olho pra dentro, procurando aquilo em que realmente acredito e está tudo bagunçado, revirado, alguém passou por ali esculhambando tudo. Me desespero. E agora? 
Olho pra fora de novo, em volta, e as pessoas que desistiram de tentar continuam me parecendo profundamente desinteressantes. Não quero ser como elas. Então, volto a olhar pra dentro e tento achar por onde começar a arrumar a bagunça. Porque o que eu realmente acredito está ali. Bem bagunçado, mas está. Na maior parte das vezes desses momentos, eu não sei o que fazer e o que ser. Eu só sei o que eu não quero fazer e o que eu não quero ser. E é a esse começo que eu volto sempre.

Pra 2009, meu maior desejo é conseguir compreender e aceitar que meu maior desejo precisa ser esquecido. Esquecido não é bem o termo. Que ele precisa ir. Ganhar o mundo. Seguir em frente. Pra poder dar frutos. Ele precisa ir, ir, ir até bater nas paredes do Universo e voltar. Sim, é isso. Sabe quando dizem que o mundo gira, que as coisas voltam e tal? Não é porque o mundo gira. As coisas voltam porque batem nas paredes do Universo, lá no fundo, na parede que dá para o quintal do Universo, batem lá e voltam. Como é muito longe, o mundo gira para nos distrair enquanto isso. 

Ón, ón, ón, ón...

O outro meu maior desejo é, conseguindo ser e fazer aquilo em que realmente acredito, contar tudo, timtim por timtim, quando puder. Sem medo. Sei de gente que conseguiu ser e fazer o que acredita, mas não conta como. Prendeu o segredo num cofre. Com medo que lhe roubem o encanto. Ou faz de conta que não aconteceu nada demais em sua vida. Disfarça.  
Quem não conta é verdade que se protege (e pode ter lá seus motivos pra isso), mas impede os outros de acreditar que dá. De confiar que dá. E tem vezes que tudo o que a gente precisa é ouvir do treinador que vai dar sim.
 
Ón, ón, ón 
(tah, péraí que eu vou tentar dar uma melhorada nesse texto)

Eu estava pensando esses dias que a arte, que toda manifestação artística, antecipa estados de consciência. É assim desde que o mundo é mundo. Os artistas, com seus insights, suas excentricidades e suas obras, esses artistas foram incompreendidos em suas épocas justamente por isso. Ainda que refletindo características do mundo que habitavam, suas obras traziam algo de um mundo que não existia, que viria a ser. Por isso, a incompreensão dos outros. (também não sei se a arte antecipa o mundo do futuro, como se ele já existisse, ou se ela direciona as pessoas a construírem esse mundo aos moldes do que exibe... iiiiiiiiiiiiihhh)
Até aí, tudo bem? Me acompanhou? Não falei nada de novo, neh?

Então, eu estava pensando sobre o que significa a rede mundial de computadores na nossa vida. A Internet. E eu acho que ela é arte. O que ela é e o que fazemos com ela é a criação artística do homem do nosso tempo. Passo seguinte: o que ela está nos dizendo? O que ela antecipa? O que ela anuncia como sendo o próximo mundo? 
Eu acho que a palavra é: compartilhar. É esse o recado, mesmo a você que não usa a Internet. A própria rede, seu funcionamento e seu sentido no mundo, é fruto de compartilhamento. Ela é compartilhar. Ela está para compartilhar, seu sentido de existência e o que a faz renovar-se em vez de envelhecer a cada dia é o compartilhar. E o que ela anuncia como forma de ser e agir do novo mundo é isso: compartilhe. É essa condição que precisaremos levar para todos os setores da nossa vida.
E, antes disso: tenha algo (valoroso) para compartilhar. Ou seja, aprenda algo verdadeiramente. (mas como saber o que terá valor no futuro?)
Pode parecer, mas eu não sei se é fácil isso. 
A gente precisa de muita humildade para aprender as coisas. Mas de N vezes mais humildade para compartilhar o que aprendeu/entendeu.

***

Enquanto isso, na Sala de Justiça....
Fala sério que eu vou ter de reaprender a acentuar as palavras, colocar hífen etc etc etc?
E aqueles dias todos que fiquei estudando aquelas regras de acentuação na sétima série? Vão me roubar pra sempre aqueles dias, é isso? Já que agora mudou tudo, quem vai me devolver aqueles dias?
E me diz: que moral as escolas vão ter se abrir esse precedente? Tah liberado mudar tudo agora?
E se alguém decidir mudar a fórmula de báskara?
Ok, não faz falta, mas...
e a regra de 3? 
Tô fuuuuu, se mudarem ela.

***
Apesar de todos os meus defeitos, loucurinhas e draminhas, eu tenho humor.
Tenho. 
:)
Agora, deu.
Se "achega" aí, 2009. Tamu tudo te esperando.
Mas vê se chega direito, que ninguém é teu bobo aqui. Te orienta, que a gente tem muita coisa pra fazer junto.

26 dezembro 2008

26 de dezembro

Olhando em volta, pra ver se está tudo de pé. Essas datas de final de ano parecem meio apocalípticas. 
(Dia 2/1, essa sensação é ainda maior.)

*
Até o início da semana, ainda era noticiado algo. Brevemente, espremido entre uma notícia e outra. Agora, não ouvi mais falar do cara que atirou o sapato no Bush. A última informação que eu lembro era de que ele era mantido preso e que tinha no corpo sinais de tortura, segundo o seu irmão informou. 
O cara está preso e está sendo torturado, e isso não é mais "notícia" para a imprensa. É difícil mesmo entender todo o contexto disso, mas algo soa estranho, neh? Mostra que a notícia foi notícia porque era o Bush. Ok. Mas será que deveria ser assim? Dessa forma, a história está sendo contada na perspectiva de Bush. Contada para quem está ao lado dele, não?
E quem está ao lado dele? Tu? Eu?
Nós somos os espectadores da notícia e parecemos satisfeitos em não saber exatamente o que está acontecendo com o cara que atirou um sapato no presidente dos EUA. E sabemos o que pode acontecer quando as câmeras (e o olhar do mundo) estão longe.

*
Não tranque o cruzamento. Dê preferência a quem está na rotatória. Respeite o pedestre ao converter. Assentos reservados a idosos. Use apenas duas folhas para secar as mãos. 

Alguém nos acha muito idiotas ou é só pegadinha?

*
Depois da olhadinha, parece que está tudo normal. Ou não, como diria o Caetano Veloso.

24 dezembro 2008

Baaah, não deu pra ir ao shopping...

Passa das 10 da manhã, tô saindo pro treino na pista, fecha o tempo, cai a chuva.
No caminho até o CETE, as pessoas correm da chuva, tentam se abrigar. Eu corro pra chegar lá e fazer a série da vez de uma vez. 
Que chuva?
Encontro Pedrinho e Márcio, já voltando. "Fala, Lo!" Eu: "Como assim?". Loraine-yin queria eles por lá. Quanto mais gente mais legal. Loraine-yang: "Bóra, guria, vc não precisa de ninguém não. Tu sabe: essa vai ser a parte só tua mais legal do teu 24 de dezembro de 2008". 
Chuva e chuva.
No CETE, a gente sempre encontra alguém. Mesmo sob chuva, mesmo no dia 24 de dezembro.
Chuva e chuva.
Frank abana de longe, está no meio de uma série casca com o Roberto Lemos.
Chuva e chuva. Loraine-yang ordena: "Nem pára, já entra no treino". Loraine-yin nem teve tempo de pedir algo diferente.
Fernandão vem vindo a passos largos, está no início da série, folgado, folgado... Loraine-yin até acredita que vai ser fácil. 
Chuva e chuva.
Frank e Roberto Lemos passam voando. Quantos de 400 a 1'15, 1'11???? Deusdocéu.
O Roberto bufa, o Frank arregala os olhos. A Loraine-yang gosta. A Yin começa com aquela choramingação "o que eu tô fazendo aqui mesmo?". Loraine-yang dá risada.
Chuva e chuva.
2k trote + 1.2km trote/firme 
Chuva e chuva.
Meu café da manhã dá sinais de vida... um arroto por favor... 
Chuva e chuva.
Roberto Lemos de sunga. de sunga e boné (ok... e tênis). Frank com aquelas meias até os joelhos. Que dupla.
Eu preciso arrotar.
Chuva e chuva.
+ 4x200 + 5x400 
Arroto, finalmente.
Chuva e chuva.
Loraine-yang para Loraine-yin: "Tu tá roubando nos intervalos". Yin: "Mas é que não vai dar..." 
O Frank grita de lá: "Tá-e-aí????"
Ops. 
Vambóóóra. Falta pouco.
Chuva e chuva.
Brinco: "Eu volto amanhã e faço os 800".
Frank e Roberto riem.
Fui.
+ 3x800
Chuva e chuva.
Meu short tá caindo porque encharcado. Meus tênis nunca estiveram tão fofinhos de tão molhados.
Fernandão terminou.
Chuva e chuva.
Falta mais um de 800.
Loraine-yin toda feliz: "conseguimos". Loraine-yang: "ah pára! podia ter forçado mais".
Chegou o Guilherme.
+ 2km de trote. De volta pro clube.
Assou o meio das pernas.
Foi legal. Sempre é legal qdo termina.
Como diria o seu Serafim, feliz Natal.

23 dezembro 2008

Qual vai ser o último texto de 2008?

O mundo corporativo está destinado a morrer.
Alguém já deve ter dito ou pensado isso, mas eu quero dizer também.
O mundo corporativo vai morrer e sobreviverão apenas aqueles que não entendem de planilhas, power points, metas, follow up, gap, feedback, benchmark, target... Ou seja, sobreviverão os operários de chão de fábrica que fazem o que precisa ser feito e ponto. 

Ah, já sei, vc quer que eu convoque uma reunião e comprove a morte com planilhas, power points, matrizes etc...  Tem gente que não é do mundo corporativo mas raciocina como eles, e é esse o ponto. Esse tipo de raciocínio, postura, forma de agir se esvaziou. Quando a idéia - e aqui a gente poderia chamar de alma - morre, fica só a carcaça, o esqueleto. Vamos combinar: carcaça e esqueleto estão lá, mas já não são nada.
É a idéia, a alma, o significado da coisa que sustenta a coisa. Se você não acredita naquilo, aquilo se esvazia, a necessidade se extingue.
As coisas são antes de ser. E deixam de ser antes de desaparecer completamente.
Essencialmente.

*
Chega uma hora em que tu te dá conta que faz por uma empresa o que vc não faz pra si, nem pros amigos, nem pra família. Há zilhões de palestrantes, revistas, artigos ensinando os 10 passos para chegar lá não sei onde. Ou a receita para defender com segurança e assertividade seu projeto na reunião com o chefe. E por aí vai. Sempre que eu ouvia esse tipo de papo, eu pensava: e na vida? Quando vinham lá na redação do jornal com "temos de ser precisos","temos de ser assertivos", "temos de ser criativos", "temos de surpreender o leitor", eu pensava: "e na vida, porra? Eu quero ser criativa, precisa, assertiva e surpreendente na minha vida! Na minha!"
Eu quero estar entre as 10 mais da Loraine Corporation mesmo!

*
Acompanhei recentemente vários painéis que discutiram o futuro (?!) da comunicação, da publicidade e propaganda e tal. Eu estava lá cobrindo para uma revista. E de novo pensei em tudo isso. E amigos vos digo: só conseguiram ser tudo o que toda empresa sonha/todo chefe gostaria de ter como funcionário aqueles profissionais que são criativos, surpreendentes, precisos, inquietos e apaixonados em sua própria vida. 

*
Ok, não descobri a América. Talvez Paulo Coelho tenha escrito sobre isso até melhor do que eu. ("até", iurru!) Mas e aí? De posse dessa informação, o que você fez com ela? 
Vc consegue transpor para sua vida lições, idéias, metas que cumpre tão bem para o seu chefe?

Eu li essa lista feita pela Gringo , uma agência de publicidade bacana aí, pensando não como publicitária, claro, até porque não sou. Li a lista pensando em mim como pessoa. Com alguma ou outra adaptação (que vai depender de sua capacidade de doidice, abstração e disposição), transpor o que está dito ali para o contexto da sua vida pode ser um exercício interessante.
Afinal, como vai o seu próprio mundo corporativo? Você SA.
Se vc não fosse vc, você se acharia legal? Gostaria de ficar perto de vc? Passar a vida com você, se dedicando a você? Seguir uma carreira, cumprir expediente etc etc etc?

*
Então eu disse prum amigo: tem vezes que eu tomo decisões baseada em coisas muito sutis. 
Ele respondeu: "como diria o Belchior, não quero o que a cabeça pensa, quero o que a alma deseja. Assim, quase sempre funciona, Loraine".

(Belchior!!!!... bom, acho que tirando aquele bigode dele, não tenho nada contra, e vc?)
mas é isso: ninguém quer carcaça ou esqueleto, resumindo. 
Por isso o mundo corporativo encarcaçado vai morrer. Sua alma já se foi.
E o seu mundo corporativo, como vai?

Ufa. Escrevi. Tava precisando. Escrever me faz bem, desentope, descongestiona. 
Música rolando enquanto eu terminava esse texto: aqui. (q voz bacana tem essa mulher)

19 dezembro 2008

Vendo jipe

Teve uma época em que eu gostava de Retrospectiva. Na TV ou no jornal. Lia. Assistia tudo. Acho que duas sensações meio conflitantes explicavam esse meu gosto. Ao mesmo tempo que era confortante ver tudo o que tinha acontecido em um ano de forma tão organizadinha, distanciada, era também meio confuso. Porque a memória tem das suas. Eu me "chocava" várias vezes ao perceber que o fato X tinha acontecido tão perto (ou tão longe) do fato Y. Como é que podia? Eu tinha certeza que um deles sequer era desse ano!!!!
Sacou a viagem? Looping total.
Mas eu não gosto mais. E desconfio que não foi eu quem mudou. Foram as retrospectivas.

Faz mais ou menos meio ano que a minha impressora está avisando que a tinta vai acabar. Quanta precipitação neh? Cada um com sua noção de tempo... Quanta dedicação a mim, né? Me avisa, me avisa. Eu: "Tah, ok, imprime aí". E ela imprime. Hoje, pedi pra imprimir preto e vermelho e ela me veio com verde e amarelo. Acho que ela está fazendo o que pode. É isso aí.

Tô imprimindo um cartazete avisando que vou vender o jipe.
É, pode espalhar: está a venda. "Infelizmente", acrescentei ao cartazete.
Ok, ok, eu sei que já inventaram formas mais eficazes de anúncio do que um cartazete, verde-e-amarelo ainda por cima. (Avisar num blog, por exemplo.)
Calma, cada coisa a seu tempo.

16 dezembro 2008

Um dia de fúria

Tipo assim. É sábado à tarde e faz calor. Melhor, melhor: tarde de sábado anterior ao Natal e faz muito calor, muito. Você dentro do supermercado. Melhor: tarde quente do sábado anterior ao Natal e você dentro do Big ou do Carrefour. Agora, o detalhe ar-ra-sa-dor: no ar, músicas natalinas!
Então é isso: tarde quente do sábado anterior ao Natal, dentro do Carrefour, lah na Bento, ouvindo canções natalinas!!!!

Sabe o que pode ser o cúmulo do estresse, da correria total do dia-a-dia? É você ter de pensar/decidir naquele tempinho mirradinho que sobrou, não se imagina nem como possa ter sobrado, decidir se você mija ou toma água.

Tah, eu não tenho nada contra o Papai Noel. Tah, eu tenho sim. O problema é a relevância. Ou a falta dela. Por que as pessoas fazem tanto teatro? Só eu que sinto isso? Só eu???
Pô, gente, vamos lá! A gente pode ser e fazer mais do que isso. Vambora.

Sei não... Se essa coisa de atirar sapatos nos outros pega...

14 dezembro 2008

E vamos ver no que vai dar

Suspenderam os jardins da babilônia. A vaca foi pro brejo. O tecido deu de si. A velha subiu no telhado. A volta dos que não foram. A lua fora de curso. Água mole em pedra dura. E quando chegar a meia-noite, tem de pular sete ondas. Cada macaco no seu galho. E vamos dançar a noite inteira. O olhar 43, aquele assim. Com a faca e o queijo na mão. Não pisa na grama. Como vai você? Não tranca o cruzamento. Ommmmm. Desmarca a reunião. O cachorro com a cara no vento na janela do carro. Junta o cisco. Tira o pó. Que cor você vê? Não confunde as senhas. Tem pão velho? O copo d'água alcançado na curva. A pergunta da criança. Tira a mão daí. A noite em claro. Fecha os olhos e abre a boca. Abre os olhos e fecha as pernas. O mar de gente, o calor senegalesco, o próspero ano novo. Faz frio. Lágrimas de crocodilo. Para que pentes de pentear? Mágica e lógica. Um olhar que vale como um beijo. Um beijo que pode valer como uma transa. Uma transa que não vale um beijo seco no dorso da mão. O abraço que entendeu tudo. E ela falou que não é sempre uma questão de ganhar, mas de descobrir do que você é feito. E ele disse que crises testam convicções. E todos acharam um absurdo. Roeram o osso. Você está bem mesmo? E ele disse que não adiantava. E antes dele aquele outro disse que esperava que eu chorasse. Mais do que chorar, eu lhe revelei uma verdade. Ele gostou da surpresa. Vai chover. Sandra de Sá ou Tina Turner? www.nãotôpraninguém.com.br

O que quer dizer esse texto? Eu não sei.
Por que você leu até aqui? Não sei. O texto não tem fim. 

Não tô louca. Um texto triste não quer dizer que sou ou estou triste. Um texto engraçado/feliz não quer dizer que sou ou estou engraçada/feliz. Os textos são só textos.
É só uma vontade. Uma vontade maior, pra qual a gente solicita companhia. Como aquela frase na contracapa daquele livro do Galeano que eu não li. Uma frase que valeu por muitos livros. O garoto, embasbacado com a paisagem, pede ao pai: "Me ajuda a olhar".
É isso. 
Psss. Escuta. O tempo parou pra te esperar. Saudade do que não se ouve.

12 dezembro 2008

Sem noção

Sempre que conheço uma Duda ou um Duda, penso: isso não quer dizer que ela/ele se chame Eduarda/Eduardo. Pode ser Loraine ou Loraino.
Duda é um dos meus apelidos. De casa. Uma porção de gente me chama de Duda - a maioria dessas pessoas é da família. Sei lá por que um dia minha mãe passou a chamar de Duda e Dadá as filhas gêmeas que ela queria que fossem Juliana e Daniele e meu pai colocou Loraine e Liliane. 
Lo, Lolo, Loluz, Lori, Lola, Duda, Dudu. Tenho alguns apelidos. Mas o mais certeiro deles é até meio recente. Ganhei durante uma viagem a trabalho para a Alemanha há três anos. 
Sem-noção. É assim que me chamavam os outros jornalistas. Só porque eu perdi o vôo de ida, só porque quase fui buscar meu passaporte na pista, na porta de uma aeronave Varig, só porque não levei casacos... só porque enfim... deixa pra lá. Mal sabem eles que o melhor da viagem foi justamente perder aquele vôo e ter de chegar sozinha a Frankfurt e depois a Munique arranhando muito no inglês e sem entender nadica de alemão. 
Minha chefe na redação na época gostou das histórias que contei de lá e adotou o "apelido".
- Ô, sem-noção, vem cá - dizia ela.
Esses tempos nos encontramos na rua. Parei na sinaleira, olhei pro lado e lá estava ela, a minha ex-chefe. Eu no jeep, ela num Scenic, eu acho.
Eu: "Beeeeeeella, olha pra mim!!!"
Ela: "LORAINE! O QUE TU TÁ FAZENDO NESSE JEEP? Mas é uma sem-noção mesmo..."
Rimos as duas.
Próxima sinaleira.
Ela: "Mas me diz uma coisa, e se chover?"
Eu (o jeep não tem capota): "Se chover, molha!"
Ela (arrancando o carro): "Sem-noção!!!"

Eu gosto desse apelido. Definitivamente, eu gosto de ser sem-noção.
Eu sou.
Gente muito esperta me cansa. E tá fora de moda.

***
Ok, agora chega de posts tão assim eu. Vou olhar pra fora nos próximos. Eles serão sobre esse tudo que nos cerca. Tem tanta coisa pra fotografar no mundo. Fotografar com um texto. 
Como diz aquela música (Cowboys Espirituais? TNT? Cascaveletes? Sempre confundi todo mundo.. sem-noção neh...):
"O mundo é maior que o teu quarto", garota.


04 dezembro 2008

Vou entrar pra história

Por que ter/ler blogs?

***

É sempre assim quando encontro algum ex-colega. 
O encontrado: "E aeh, como é q tá? Que anda fazendo?"
Eu (ganhando tempo): "Eu?"
Aí, vasculho o hardware aqui, fuço ali, fuço lá, olho atrás dos móveis e dentro das gavetas e, ah, sim, encontro a resposta: "Nada!"
Então, o encontrado ou a encontrada solta um "ah" seguido de um sorrisinho monalisa, daqueles que segura algo, não imagino o q, mas segura algo que não sai. 
É quase sempre assim. Mas ontem foi diferente. E tive uma idéia. 
Adoro ter idéias. Executar é outra coisa, mas tê-las, ah, é do que mais gosto. Eu costumava dizer que o dia que eu não tinha alguma idéia lá no trabalho era como se não tivesse trabalhado.
Ao fato, pois.
Estava eu ontem esperando o TÍ Seven na parada do ônibus depois de encontrar uma amiga quando vejo, e ele me vê de volta, um ex-colega-do-bem-quase-amigo esperando também o TÍ Seven. Era perto das 10 da noite e ele fugia da Cidade Baixa, onde mora, por conta da festunça (mistura de festa + bagunça) que os colorados prometiam fazer (e fizeram). Ele mora bem em cima de um dos tantos barbotecos da Cidade Baixa. Mas a verdade verdadeira é que ele é muito, mas muito gremista. Cara do bem ele, bacana, mas que realmente perde o controle diante a alegria do adversário. Esse meu ex-colega-do-bem-quase-amigo gosta da palavra bacana tanto quanto eu. Bacana isso. Enfim. Nos vimos e lá veio ele:
- E aeh, como é que tá?
- Tudo bem!
- Bacana. Que tá fazendo?
- Eu? (... tempoooo!...) Nada. Vagabundeando.
- Que bom! - ele disse!!! - Eu sou da opinião que, se tu vagabundeia e não faz mal a ninguém, então, tá beleza. É  o teu caso neh?
(e o sorriso monalisa pulou pra minha cara) 
- É! 

Foi nesse momento que me veio a idéia! 
A de criar o movimento dos vagabundos não-violentos. Porque o problema do mundo são os vagabundos violentos! Vim pra casa pensando em tudo no ônibus! Vou convidar um amigo designer, vagabundo não-violento que ele é também, só não sabe ainda, vou convidar ele para fazer um logotipo do Movimento pela Vagabundagem sem Violência (MVV? MV2?). Então teremos uma bandeira, um site, e depois só precisa daquele papinho de-onde-viemos-pra-onde-vamos, e parará-piriri, pronto! Entrei pra história.

***

Então, me diz: onde eu despejaria essa "brilhante" idéia (pra uma quarta-feira à noite...) não fosse um blog?! E a gente escreve, escreve, escreve. Coisa séria, coisa engraçada, coisa boba, coisa importante, viaja, viaja, viaja, e cada um pensa e interpreta dum jeito. Não tem controle. É uma viagem só. Cada um prum lado, mas todo mundo xunto-incluído.
Essa é a bossa: as pessoas exporem, exibirem idéias, boas ou ruins, bregas ou brilhantes, não importa. Confiar nas conexões possíveis e impossíveis que fazemos diante os outros, e estes outros também fazem quando nos lêem. Essa é a revolução. Muitos não acham. Mas é que acreditam que revolução precisa de barulho e palco. Não precisa. O sutil tem força.

Ok, esse final era dispensável, hehehe. Me entusiasmei. Ah, mas o bLOg é meu... Vai lá cuidar do teu.





01 dezembro 2008

Sonho de panga

Há no mínimo dois resultados depois de uma prova. Aquele que confronta o seu com os dos outros e aquele que compara você a você mesmo. Qual o que importa? 
O que inclui os outros, claro, hahaha... 
Falando sério: tem coisas que é mesmo só vc e vc durante uma prova. Por mais que se tente explicar em texto, nem sempre conseguimos detalhar o que são elas. E essas coisas validam uma prova independentemente do resultado.
Fiz domingo meu primeiro triatlo em água aberta. A estréia denuncia minha panguice. Quanto mais panga se é, mais se acha que tem coisa pra contar. E coisa pra contar em triatlo, entenda-se, é coisa relacionada a dificuldades. Vc nunca, ou dificilmente, verá um triatleta descrevendo para outro sobre como foi fácil tal prova. Fácil não tem a menor graça. Se foi fácil, aliás, esquece: fica quietinho, porque você não tem nada pra contar. 
Quando se é panga, no entanto, tudo é difícil. Mas... nada desse tudo surpreende ninguém. :D
Pensemos no treinador. A gente compete também para dar respostas a ele. Afinal, se planilha fosse só aquele festival de A1, A2, A3, A4, todo mundo usava programa de computador pra fazer. Não precisaria de alguém te treinando. Mas há uma pessoa ali, apostando algo em vc. Então, você em alguma medida quer surpreendê-lo, quer contar algo significativo depois da prova. Mas sendo ele um triatleta experiente, fica difícil. Não adianta dizer que levou uma pesada na cara e nadou com um olho só durante a natação inteira. Não adianta dizer que o homem da faca te pegou na primeira volta do ciclismo e que vc mandava as pernas girarem e elas ignoravam solenemente. Não adianta dizer que no primeiro retorno da corrida sentiu algo estranho na nádega esquerda (ops, "algo estranho na nádega esquerda", Loraine? explica isso melhor...). Não adianta, ele não vai se surpreender, porque já sentiu coisas muito mais intensas e variadas do que seu pobre repertório panga de primeira viagem. 
Meu treinador até tenta, paciente que é, voltar no tempo e se identificar com o que tô dizendo, se colocar no meu lugar. Me ouve. Fica sério, atento. Mas eu noto que no fundo ele não achou nada demais no relato de minhas "dificuldades". Aliás, depois que passa, nem eu mesma acho. Troço estranho esse, mas eu realmente esqueço do que parecia ser o maior desconforto do mundo. Daí sou obrigada a ouvir do treinador no outro dia: "ah, então tu não deu tudo de ti". 
Caramba...
Uma queda na transição bike/corrida, por exemplo. Eu vou ter que caprichar muito na minha (DEUSOLIVRE, TOC-TOC-TOC NA MADEIRA; esse trecho do post é apenas uma licença prosística, mas enfim...)... Vou ter de caprichar muito numa queda dessas para impressionar meu treinador. Porque na última prova ele levou um tombo ES-PE-TA-CU-LAR. Então, levantou-se e continuou correndo. Corte no pé e sei lá mais onde, meia nádega de fora por causa do rasgo na queda, todo errado, mas firme na passada. Não contente em continuar a prova todo estoporado, venceu. É. Venceu!
Não disse? É difícil a minha vida de panga... 
Mas é verdade também que eu consegui impressionar o meu treinador. Num sonho. 
Duas noites antes da prova (porque na noite anterior  à prova eu não ia conseguir dormir mesmo, então meu sonho se antecipou), sonhei que tinha ido pra competição sem... a sapatilha? Não. Sonhei que tinha esquecido o tênis? Não. Sonhei que não achava a bike na transição? Não. Sonhei que tinha furado o pneu? Não.
Eu sonhei que tinha esquecido de levar a bike pra prova.
Nessa hora, no sonho, eu consegui surpreender meu treinador e todo mundo. 


obs.: eu não acho que eu seja triatleta. Treinar as 3 modalidades e experimentar duas provas não me fazem uma triatleta. E isso não é falsa modéstia. Sou meio louquinha e tenho realmente dificuldades para afirmar coisas a meu respeito. É como se, ao anunciar uma certeza, ela em seguida estourasse no ar como bolha de sabão. Mas isso é tema pra outro post. Mas sim eu queria ser uma triatleta um dia. Sonho de panga.

29 novembro 2008

Num futuro talvez não muito distante

Acontece, né, de a gente estar voltando pra casa e mentalmente procurar na geladeira ou nos armários o que tem para comer. Se não tem, já estica a pernada até o supermercado mais perto. E é aí que vem a pergunta: o que eu quero comer? Mas a resposta que eu queria era outra: o que eu deveria comer? 
Eu queria poder passar por uma porta do tipo detectora de metais, daquelas de agência bancária ou de sala de embarque de aeroporto, sabe?, para em instantes ela me dizer: "com base no que você comeu hoje e no que traz de outros dias, neste momento vc precisa de xx gramas de proteínas, xx gramas de carboidrato, xx de fibras, açucares, sais minerais etc..." 
E não pararia por aí. A porta essa, de repente instalada na entrada de supermercados, poderia ainda me dar uma relação de coisas à venda naquele lugar que supririam as minhas necessidades. Coisas prontas, claro.
Eu não quero mais nada, né?
Quero sim! Eu podia ainda ter um cartão magnético ou um chip com todos os meus gostos pessoais. Aí a porta essa, lendo o meu chip, relacionaria o que tem no súper com o que eu gosto. E eu ia direto no corredor certo.
Não é uma questão de preguiça... 
É uma questão de saúde. É a vontade de acertar o que o corpo precisa. De conhecer o próprio corpo. A gente deveria intuir o que precisa comer. Mas no corre-corre do dia-a-dia, fica difícil manter essa conexão. E rapidinho alimentar-se vira hábito ou mania. 
Pirei?
Mas não fazem raio X /exame quando a gente está doente? Minha porta do futuro é um pouco isso, só que atuando preventivamente. Me dizendo o que preciso, me ajuda a não ficar doente.
Mais alucinadamente, essa minha porta levaria em conta meu estado de ânimo também. Ou seja, ela não ia me dar apenas o resultado de um cálculo frio de nutrientes. Ela ia ver isso, mas também dar uma conferida naquilo-que-não-se-vê-nem-se-mede-só-se-sente. Quando fosse preciso, anunciaria "Vai lá, guria, compra aquele chocolate, que tu tá merecendo".

Eu estava lembrando esses dias que eu e minha irmã (gêmea) brincávamos de "Super Gêmeos, ativar! Forma de um...". A gente usava aqueles anéis grandões de plástico, que davam em pescaria de quermesse de igreja (lembra da pescaria?). Aí a gente ia pra trás de uma porta, encostava os anéis e... "Super Gêmeos, ativar! Forma de um... "
Ultimamente eu queria que essa brincadeira fosse de verdade, que esses anéis existissem... tanto quanto a porta essa sabe-tudo do súper.

26 novembro 2008

De perto, a normalidade nos confunde

Não gosto, realmente não gosto, de decoração de Natal. Pronto, falei.
Não gosto de massas. Prefiro pães, sempre. Não gosto de molho branco. Nem de cortinas (acho que é por isso que não gosto de andar de lotação). Gosto de batata frita fria e de água sem gás em temperatura ambiente (juntas, inclusive). E não consigo ficar muito tempo sem comer maçãs.
Não acho de todo ruim as pichações. Há algo de vivo, pulsante, numa cidade com pichações. E com varais de roupa (onde foram parar os varais de roupa?). Não gosto de salto alto nem de meia-calça. Sutiãs, eu aturo. E realmente não tenho paciência para uma pergunta típica dessa época do ano: "o que tu vai fazer no Natal e no ano-novo?". Até parece que a maioria das pessoas vai fazer algo muito espetacular ou diferente do que sempre faz nesta época do ano. 

Domingo passado foi seguramente um dos dias mais bacanas da minha vida. Mais felizes. Não teve peru, presentes, nem fogos de artifício. Foi bem simples: amigos por perto (= sensação de segurança), em meio à natureza (= sensação de liberdade), esforço e suor (= sensação íntima de poder), sol ( = sensação de que tudo vai dar certo) e a mistura do dever com o prazer. A certeza de que eu não queria fazer outra coisa que não aquilo mesmo.
Acho que sou normal.

24 novembro 2008

E o quéco?

O Marcelo Camelo (ãnh?) tá namorando a Malu Magalhães (who?). Do novo CD do Marcelo Ex-Los-Hermanos Camelo eu conheço UMA música e gosto só da parte em que ele não canta e apenas assobia (ok, valá, assoVia). Da Malu nunca ouvi nada. Minha única referência é que o cabelo dela, muderno, fica pro lado, todo pro lado, como se estivesse tomando um vento permanentemente. 
E daí?
Os dois namoram. 
E daí?
Bom, ele tem trinta-e-poucos e ela tem dezesseis-com-cara-de-doze. E daí que tem um monte de gente comentando. Tem quem analise a diferença de idades, tem quem analise se isso é notícia. Eu acho que é... Chato pra eles que é notícia, né? Desagradável mesmo, afinal, ninguém tem nada a ver com isso. Mas eu acho q é notícia porque ao menos faz as pessoas refletirem em cima de casos reais. Vai ver que os artistas e celebridades, com suas ditas vidas loucas, têm essa missão no mundo: indagar os "normais" com um Why not?.
Em geral, as certezas, as convicções balançam quando o fato em questão ocorre ao nosso lado - ou com a gente mesmo.
E balançar convicções é sempre saudável (desde que em algum momento, por algum período, alguém consiga parar o balanço; senão, enjoa). 
Fiquei pensando sobre certezas... Não é que elas não existam (como defendem alguns num discurso retórico muito cool mas pouco prático). Eu acho que algumas certezas têm mesmo data de validade, servem apenas para a gente atravessar aquele momento, aquele bosque, aquela ponte, aquele portal... Vc passa, entende, sobe um degrau e precisa abandonar algumas coisas para seguir em diante. (ok, não estou sendo muito original...) Nessa hora, uma certeza pode dizer adeus. E então não necessariamente precisa ser uma despedida do tipo cobrança ("puxa, Certeza, achei que você não me abandonaria") ou do tipo culpa ("bah, Certeza, seguinte ó, foi mal aí, eu me enganei e..."). Nem abandonos nem enganos. Pode ser uma despedida cheia de gratidão. Afinal, foi ela quem te levou até ali. 

Mas juro q não perdi muito tempo pensando nisso. Na real, qdo soube da "notícia", lembrei do Lobão numa seção da revista Trip em que os convidados comentam notícias da imprensa. Volta e meia ele respondia sobre tal coisa: "Caguei um balde". 
Adorei.
Lembra do "e o quéco?". E o quéco com isso.

22 novembro 2008

Desafio

Um dia ainda consigo fazer um post bem curtinho, como uns que vejo por aí.

...

(consegui. Ah, putz, tinha de ser bom? Curto e bom? Hmm...)
ps.: no jornalismo, dizem que escrever é cortar, tirar do texto. 

19 novembro 2008

Sonia

O meu se chama Sonia. Aqui perto tem o Montparnasse. Já vi Colosso e Triunfo. E lembro, assim, rapidamente, do Capitão Rodrigo e do Suzana.
Pordeus, quem dá nome aos prédios residenciais? Quem?
Sonia terá sido o grande amor da vida do engenheiro? Ou a mãe do arquiteto?
Será que a definição desses nomes usa a lógica da nomeação daqueles tornados/furacões da América Central? Ou seja, lógica nenhuma... hahahah
Daí eu lembrei que em Quintão, onde passei veraneios muuuuito legais na adolescência, as casas tinham placas com nomes. Porque, olha que legal, os terrenos eram meio ranchos, sabe? Quintão era uma mistura de campo e praia num só lugar. A nossa casa se chamava Mansão do Quintão. Ela era grande mesmo. Mas já tinha esse nome quando meu pai comprou. Aí veio a urbanização, e o nível da rua ficou mais alto do que o da casa. Quando chovia, alagava o pátio e parte da casa. (Bem, pode não parecer, mas a gente até se divertia, porque uma hora a água baixava e tudo ficava bem. Esteticamente era estranho, mas ok). Um dia à tarde, tinha chovido, e a casa lá, com seu laguinho particular do portão pra dentro. Então, passa um grupo de senhoras. Elas param, olham aquilo e desdenham "hmpf!, mansão do quintão?!".
Minutos depois vi meu pai tirando a placa.

***

A propaganda diz sobre o BarraShopping, que ficou pronto: "Você precisa passar aqui para ver".
Na boa, Fernanda Lima, não preciso não.
Daí eu lembrei que teve uma noite nos anos 80 (?) que minha família se bandeou lá da zona sul para "conhecer" o Iguatemi, uma "novidade" na cidade. Eu, criança, lembro que era longe, que era um prédio quadrado, como uma caixa, no meio do nada e que tínhamos de ver o tal do relógio. Mas lembro principalmente que usava umas botinhas e que fiquei muito cansada de caminhar. Então pensei: shopping cansa. E pra mim é assim até hoje de certo modo...

***

De que adianta, me diz, de que adianta eu comprar pães com essas sementinhas de que gosto tanto, como gergelim e linhaça, se grande parte delas cai da fatia e fica como farelos no prato? De que adianta? Então, nesse caso, o que você faria? 
Exatamente! É o que faço também: lambo a ponta dos dedos e fico catando as sementinhas como se os dedos fossem palitos ou aquelas lanças de juntar folha caída em parque... Dá também para pegar um pedaço de pão, passar margarina e usar esse lado "colante" para limpar o prato das sementinhas. Como se o pedaço fosse uma esponjinha. Ou os farelos fossem um restinho de sopa. 
Mas o que não dá é pra desistir das sementinhas, né?

aiaiaiii... aberta a temporada de postagens sem critério... 
O problema é a minha cabeça. Ela não pára. Será q se ela fosse atleta seria da elite? 

Sigo o baile, sigo o baile... daqui a pouco vem algo bom pra postar aqui. Brainstorm. Sementinhas.

(..horas depois...): mas afinal de contas quem é ou foi a Sonia?

16 novembro 2008

Um post tem o direito de ser ruim (neh, Tião?)

Bem que eu estava precisando de um diazinho chuvoso assim. Chuvinha mansa, sabe? Bem que eu tava. Mas amanhã o sol pode voltar, tah?

***

Juntos, os títulos das seções que coloquei nesse bLOg até parecem uma frase com sentido. Se vc tiver boa vontade. Na verdade, não faz sentido. Mas isso (a ausência) pode ser um caminho para se encontrar (vários) sentidos. Ó:
"Quem... lembra... um pouco de um monte de coisa... mais idéias por aí... e tem o seguinte... passaram por aqui."

Até rimou.

***

Acho que a energia de um show pode estar diretamente relacionada com a distância que estamos do palco, ou da fila do gargarejo. O show do REM corria engajado lá na frente e nós aqui, mais no fundão, nos divertindo mais entre nós mesmos. 
Uma das minhas amigas saltava, berrava mais quando via o Barack Obama no telão. E fomos todas obrigadas a concordar com ela: Obama, além de tudo, é gato. O silêncio dos guris talvez tenha sido uma concordância. Demais detalhes dos comentários femininos sobre o presidente americano eu vou censurar aqui.. hehehe
Se bem que, em termos assim, de chefe de estado "interessante", eu sou mais o salafra do Putin, o Vladimir Putin. Que ainda por cima mora na Rússia e foi agente da KGB, o serviço secreto. Hmmm... já pensou que trama, que cenários?

Ele não é mais presidente, né? É primeiro-ministro. Ah, leitor chato, não estraga minha historinha.

***

Boa vontade, leitor, boa vontade pra não achar este post tão ruim assim.

***

Já sei! O nome do meu cachorro vai ser Mark Allen. 
Metade dos leitores deste bLOg não sabe quem é Mark Allen. A outra metade sabe. Eu vivo nesse limbo, entre esses dois mundos. Cabe mais algum? Claro que sim.

Ah, é... ops, é verdade: eu não tenho um cachorrinho ainda.
Ai, leitorzinho-estragador-de-historinhas.

***

Boa vontade porque amanhã o sol estará de volta.

11 novembro 2008

Adoráveis malucos

Quem treina precisa de relógio. Acho interessante pensar sobre a relação que temos com a passagem do tempo.
No jornalismo tem muito também. Meu trabalho de conclusão foi sobre isso, sobre o tempo. Um tema maluco para o qual haveria um só professor (doidão) capaz de me orientar. E ele topou.
No jornalismo impresso, você escreve no presente para o futuro e sobre o passado. Doido.
E essa é só uma das possibilidades de reflexão (inútil heheh) que a relação jornalismo x tempo dá. Pra usar um exemplo bem simples: cobertura de partida de futebol, que em geral termina tarde pros deadlines de redação. O jogo acaba e há 10' ou 15' para fechar o texto (acertar o que dizer ao leitor + agradar ao editor) + escolher a melhor foto + editar a página (titulo/legenda/intertítulo/créditos/serviço) + revisar a pg (qdo o revisor faz uma pergunta cuja resposta vc não tem certeza, só pra complicar, afinal, revisar é pra isso) + revisar de novo (nem sempre dá tempo... muitas vezes, a pg já "foi" e a gente continua lendo ela...) e fim. Isso tudo com muita confusão em volta, barulho, telefone, comentários, gente dando opinião, pedindo opinião, o editor cobrando, o editor-chefe cobrando, os caras da rotativa (onde o jornal é impresso) te esperando... Esses 10' ou 15' parecem 1'.
E quando o editor diz me passa o texto AGORA, esse agora no teu ouvido parece um soco no estômago... hehehe que exagero. Nunca levei um soco no estômago pra saber...

Bom, mas treinar me fez repensar a relação com o tempo (vou dramatizar de novo, tá? licencinha...). Tipo: vc passa a valorizar cada segundo da vida depois de experimentar uma série forte intervalada. 10", 15" parecem tudo. O treino ensina isso. Um segundo pode ser comemorado. 30" é um intervalo longo, acredita? Pode acreditar: teu coração e pulmões agradecem.

Tem gente pouco, média e muito maluca pelo tempo nos treinos e competições. Deve ter a ver com as possibilidades de cada um. Mas é certo que, entre os atletas, eles vivem se medindo por esses segundos. Viu como tamanho não é importante? Importante é a duração... hahahah q engraçadinha.
Mas é uma preocupação com segundos tão maluca que, por exemplo, termina uma prova, dois amigos se encontram e, antes de eles se darem oi, largam: "em quanto tu fez?" ou "fez pra quanto?".
Seria mais ou menos como dois jornalistas se encontrarem no bar da redação depois de fechar a edição e, antes do oi, largarem: "e aí, qual foi teu lead?"

Mas são adoráveis malucos, os atletas e os jornalistas. Eu acho. Eu gosto.

05 novembro 2008

Obama é pop

Os EUA estavam escolhendo seu presidente desde, sei lá, ano passado? Com as tais prévias, obama x hillary e barará biriri (até então o incrível personagem McCain não tinha aparecido) - e a gente aqui fazendo q tava entendendo a dinâmica do negócio... (sim, sim, eu vou escrever sobre isso... hahahha, mas eu me acho né? uhuuu!! viva o b de bobagem)

falando em uhuuu, os comícios americanos são muito uhhuuu, né não? bandeirinhas, tudo padronizadinho, devia ter até cheerleader. Medo, medo.
daí eu lembrei do Chico Buarque dizendo aqui no horário eleitoral gratuito q queria estar em Porto Alegre pra votar na Maria do Rosário.... tsc tsc tsc. Ai, Chico, fala sério! eu queria ser americana para votar no Obama! hahahah, ok, já me contentava em estar no Rio pra votar no Gabeira!

mas, enfim, os EUA têm o primeiro presidente negro da história. Ou marrom. Ele mesmo q disse (esquece, Barack, nenhum jornal/mídia vai abrir mão de escrever/dizer negro).
eu rolei de rir foi do JN (tá, eu não rolei, foi força de expressão). O que aconteceu com o JN??? O que era aquilo de o Pedro Bial fazer um texto/crônica sobre os dois candidatos no maior estilo paredão BBB???!! Só faltou no final ele dizer "Se você quer eliminar o Obama, ligue xx xxx", "Se você quer eliminar o McCain, ligue XX xxx". E encerrou a matéria na segunda-feira com a música de Rocky, o Lutador. Meeeeudeus.

tá, tá, tá... já tô encerrando. peraí.

eu queria dizer que a vitória do Obama tem um "q" de Diretas Já. Um "q" de fim de regime militar. Será que neste momento tem uma fafá de belém made in USA cantando o hino em rede nacional, entre lágrimas? Lembra? Um "q" de caras-pintadas.
Um "q" de liberdade. Esperança? Seria isso? (aguardemos o JN desta noite...)
Q coisa... às vezes coisas nada a ver parecem muito a ver, vai dizer? (ou é só a gente "lendo" o fato com as referências das quais dispomos...)


obs.: depois do espetáculo obama x mcCain, me pergunto: onde é que a hillary tava com a cabeça de se meter nessa hein? E aquilo nas bochechas do mcCain é botox? Parece que tá de máscara... troço estranho. Já o Obama, com o rosto tão geométrico/anguloso, parece um boneco da Estrela. Tipo o namorado politicamente correto (porque negro/marrom) da Barbie. Tá, tá, fui.

03 novembro 2008

Pepinos

Tô com um pepino. Um não, dois e meio.
Dois pepinos e meio pra uma segunda-feira tá de bom tamanho, né?!
Não são grandes, mas são pepinos. E, como bons pepinos que se prezam, eu não sei o que fazer com eles.

Tão ali na geladeira.
Será que fatio e ponho sobre os olhos as rodelas, pra "tirar as olheiras"? Mas ainda assim sobrariam pepinos. O que me deu de comprar pepinos, hein? Alguém sabe como faz aqueles pepininhos fatiados agridoces que acompanham sushi/sashimi? Alguém? A parte que diz "fatiados" eu sei como é, ok?

Seguinte. Quer fazer uma pessoa cair em si? Deixa ela falar sozinha. Mas não fique indiferente. Seja atencioso e acompanhe a transformação. Ela vai falar, falar, falar. As palavras vão bater na parede imaginária que a pessoa mesmo criou com suas idéias/razões fixas e vão voltar para ela, pros ouvidos dela. Demora um pouco, mas finalmente a pessoa começa a ouvir o que ela mesma tá dizendo. Então, ela se acalma. Ou cansa. E como só ela fala, só resta a ela analisar o próprio discurso. E como você não diz nada, mas está ali, interessado, amigo, ela começa a procurar mais e mais palavras para explicar o que tá sentindo - até para impressioná-lo, para convencê-lo de sua razão. Daqui a pouco, ela começa a escolher melhor as palavras. Nesse processo, ela vai descascando o próprio pepino, chegando ao ponto que interessa. E então começa a intuir a solução.

É o princípio da terapia freudiana. Falar é terapêutico.
Fiz terapia um tempão e sempre achei gozado pagar alguém para me ouvir. Porque na prática é isso. Eu ficava pensando: será que nenhuma amiga/amigo pode fazer o que ele tá fazendo?
Alguém nos ouvir parece pouco, mas não é. Ouvir alguém com interesse, com empatia e compaixão, é uma coisa difícil, porque quem ouve e quer ajudar (ou se livrar do papo) se apressa a falar algo (talvez não seja por mal) , tenta logo contar algo que lhe aconteceu parecido... Até acho que pode fazer isso, mas tem de acertar o momento.
Fora que o terapeuta fica te olhando com aquela cara de "eu-sei-o-que-vocês-fizeram-no-verão-passado" e aí tu meio que te apressa em contar até o que tu nem sabia que sabia.

Falar é fácil. Difícil é fazer. Digo, ouvir.
Não, não. Acho que falar é que é difícil. Afinal, quem fala é que tá com o pepino pra resolver.
Ah, sei lá. Cada um com seus problemas, como diz uma amiga minha.

aiaiaiaiii, eu juro que abri essa postagem só para falar dos pepinos, os da geladeira. Por que enveredo sempre prum blábláblá??? Por queeeeeeeeê? Pronto. Um porquê é pai-e-mãe de todos os pepinos, os de resolver.

31 outubro 2008

Textos cross-fox

Vez ou outra, acorde bem cedo e testemunhe como o dia nasce, veja como a cidade se levanta (ou nem dorme...). Vez ou outra, acorde bem tarde, lá pelas 14h, sem motivo algum, e atrapalhe-se toda com a sensação de por-onde-eu-começo-agora?
Vez ou outra, vá ao estádio de futebol ou a um show ao ar livre, para se confundir na multidão. Seja apenas mais um, para ter uma noção do tamanho e da diversidade do mundo que nos cerca. Vez ou outra, vá ao cinema, esconda-se no escuro e acredite que é apenas você e aquela telona mesmo, pra ter uma noção do mundo que você carrega aí dentro.
Vez ou outra, liste tudo o que vai fazer no dia seguinte, vá dormir segura do acerto consigo mesma, acorde e faça tudo diferente. De preferência, nem lembre onde colocou o papel com a lista/agenda.
E, se não der para sorrir, ao menos não pisque na hora da foto.

Nossa, esse texto tem algo de "Filtro Solar", narrado pelo Pedro Bial, sabe?
Menos, Loraine, que pretensão... Ou... mais, Loraine, não se deprecie.
Isso também. Vez ou outra, seja muito pretensiosa e veja o que cola e o que não cola, veja quem se importa e quem é indiferente. Vez ou outra, seja muito subserviente e veja até onde vai o delírio de poder de quem acredita estar no comando.

De qualquer forma, Filtro Solar teve sua função. Se em algum momento ele fez as pessoas pararem para ouvi-lo, e agora as pessoas dão de ombros, pensam "aiokmenos", é porque houve um avanço, uma mudança de consciência. Quando uma coisa serve e depois não serve mais, quem mudou? O espectador, o observador. Evolução. Ótimo. Tipo: nunca teríamos um Palio Adventure se a FIAT não tivesse começado com um 147, né? Ou um Cross Fox, se a Volks não tivesse tentando o próprio Fox, o primeiro deles, tão esquisitão. Tipo isso.

***

Esse texto "veio" no ônibus, enquanto eu deixava Porto Alegre ainda "escura" pela madrugada. Mais uma viagem, agora Canguçu. Quer dizer, primeiro Pelotas, depois Canguçu. Tava frio lá, e em Canguçu as pessoas falam pomerano. Pomerano! Um dialeto alemão onde eu pensei que a colonização fosse toda açoriana. Q côsa.
Gosto muito quando o trabalho faz isso: me leva a lugares para os quais eu dificilmente iria voluntariamente.
Então, no ônibus me veio esse texto. Que também tem a ver com a expectativa do show na semana que vem. REM, no Zequinha. Não sou tão fã assim, gosto é da função, da coisa ao ar livre, de me perder na multidão como disse ali.
Eu gosto de coisas "populares"(ou "povolares", de juntar povo), de feira livre a show em gramados. Trabalhei em uns quatro ou cinco festivais planeta atlântida. E ainda que as atrações se repetissem, sempre senti algo de especial em algum momento no meio daquela multidão cantando junto. A energia tá ali, e não no palco. Assim foi quando entrei num estádio de futebol pela primeira vez, já lotado. Quando alcancei o último degrau e o campo cresceu na minha frente, aquele povo em volta, senti o impacto da energia, como um sopro, um vento não-vento. Meu pai riu da cara que fiz.

***

Mas quando veio o texto, ele parecia legal. Juro. Não era chato desse jeito aí. Mas vou respeitá-lo, como respeito todos os outros que fiz aqui (do contrário, seria me levar a sério demais). Nunca-jamais-em-tempo-algum-na-história-desse-país, como diria o Lula... Nunca jamais em tempo algum eu desistiria/apagaria um texto aqui. Talvez mudasse coisas em um deles especificamente, que tem um problema de motivação. Foi escrito mais por vaidade do que por necessidade. Mas se não fosse ele, eu não aprenderia isso. Talvez seja um texto-fox, necessário antes de textos-crossfox.

27 outubro 2008

Palpite

Não, eu não acho que a Maria do Rosário é a oitava maravilha do mundo.
Não, tb não acho que o PT é melhor ou pior do que os outros.
Acho, isso sim, que o discurso de político, seja ele quem for e de qual partido for, é um discurso totalmente obsoleto.
Tatibitati total.
De fato, tô longe de ser entendida em política. Mas eu tenho um palpite pra vitória do Fogaça.

As pessoas não querem ter expectativas.

22 outubro 2008

Sem foot nem head

Bacana é uma palavra mais legal do que a palavra legal.
Legal é legal. Mas bacana... bacana é... é... bacana é bacana.

Gostar do desafio de buscar e acertar a palavra, eis o vício/a mania de quem é do ofício de escrever. Eu, que escrevo há tanto tempo, seguido erro a palavra. E isso me .... (tô tentando acertar a palavra agora)... me incomoda. Não, não vou morrer por causa disso, mas incomoda. Porque sei que existe a palavra certa praquele buraco ali pra onde me levou o meu pensamento/meu sentimento. E quando você sabe que pode uma coisa, bem, você quer essa coisa...
Tem vezes que até me incomoda bem mais do que deveria, isso. Coisa de quem gosta de escrever... eu acho. As palavras têm poder. E o papel, como me disse um chefe uma vez, o papel (ele falava do jornal, claro), o papel aceita tudo. Perigo....
Acertar a palavra, como num quebra-cabeça (só tem uma peça praquele buraco ali), é uma arte. Tem gente tão artista nisso que pra acertar a palavra inventou uma - vide Guimarães Rosa, criador de várias.
Tem gente que acha que isso é bobagem. Tudo bem. Às vezes, eu tb acho. Nesse mundo, tem espaço pra todas as bobagens.
Ainda bem... isso não é legal?
Não. É bacana.

E viva os post sem foot nem head.

16 outubro 2008

Bizarrices (ir)relevantes

Esses tempos eu vi que no Praia de Belas tem um banheiro chamado "banheiro familiar". Que deve ser pra mãe poder levar o menininho, e o pai levar a menininha. Foi um colega meu de jornal que me chamou a atenção pra isso uma vez. Ele me disse que não saberia muito o que fazer se tivesse uma filha pequenininha e precisasse levá-la ao banheiro. Entra ele no feminino ou leva ela no masculino? Nunca tinha pensado nisso.
Então, quando vi "banheiro familiar" lá no shopping, pensei: hm, por trás dessa administração de shopping também bate um coração. "Também bate um coração" é uma expressão pra dizer que alguém pensou com a cabeça e deu respostas efetivas para a vida real.
Mas esses tempos também vi no mesmo shopping uma placa com "normas de comportamento". E lá diz que não podem circular no local grupos de cinco ou mais pessoas. Por segurança e tal. Aí eu pensei numa família, pai, mãe, um filho quase adulto e sua namorada, outro filho(a) adolescente, pensei nessa família-feliz-propaganda-de-margarina sendo abordada e gentilmente convidada por um guarda do lugar a dispersar. Tipo afastar um pouco, você e você mais à frente, vocês mais atrás. Faz de conta que não são um grupo, ok?
Lá no shopping só se pode ser família no banheiro.

*

Com a tal da crise, todo dia quebra um banco no mundo. Aliás, como tem banco no mundo né? Xszahfdysrth quebrou. Ah, tá, nem sabia que existia. E aqui, bom, aqui os bancários estão em greve. (?!?!?) Não parecem dois fatos de mundos, eras completamente diferentes? Parecem que não são contemporâneos.

*

As pessoas, a maioria: "Teatro?"
Eu: "TRIatlo. TRI."
Ai meus sais...
Que nem contou a guria da seleção de softbol que jogou no Pan: quando ela dizia "softbol", as pessoas devolviam "Só futebol?".

10 outubro 2008

Uma coisa é uma coisa; outra coisa é outra coisa. Ou não

A idéia deste texto me ocorreu em julho (maio?), quando fiz essa entrevista. Sei lá por que não escrevi na época. Deixei no cantinho da mente, aqui. Às vezes, é bom fazer isso. Que nem massa de pão/bolo: deixar crescer. Foi o que aconteceu (às vezes, embatuma). Não cresceu taaannnto assim, não é nenhum bolo/pão de vó, mas está ocupando espaço demais. Destino: bLOg.

O sociólogo americano, este da entrevista, o Howard Zehr, mencionou conceitos e situações que, à época, eu estava ouvindo num contexto absolutamente diferente (ou nem tão absolutamente assim?). As mesmas idéias em campos aparentemente sem comunicação. Inquietante. Havia uma sincronia, por mais maluca que fosse/seja, e este texto é sobre ela.

Resumindo de forma meio brusca, o que o americano diz é que o modelo de justiça que temos no mundo (o dos tribunais, das penas etc) não serve, é ineficaz, não resolve o problema. Porque ele não inclui a 'vítima' no processo. Ele diz que o modelo distancia "agressor" e "vítima", quando tudo o que esta quer é um pedido de desculpas, um pedido de perdão e uma forma de reparação que faça sentido para ela e não para a sociedade ou para um tribunal, um conjunto de leis. E ele diz (essa parte é boa) que o mais difícil prum agressor é encarar de frente sua vítima. Pra o infrator, é mais fácil o juiz, a prisão, do que olhar no olho da vítima e encarar o mal que causou. Por isso, o sociólogo defende a justiça restaurativa, que põe os dois lados frente à frente em busca de um entendimento. Porque assim vítima e agressor se redesenham entre si. Se restauram. Segundo ele, o método pode ser aplicado em QUALQUER caso, mesmo os mais violentos.

Pois bem. Sabe onde eu estava ouvindo/refletindo sobre as mesmas questões (perdão, ajuste de contas no bom sentido, o frente à frente, a convivência necessária para os reparos etc)?
Em palestras sobre espiritismo. Segundo os espíritas, há uma relação entre o que sofremos na vida atual e o que fizemos em vidas passadas. Tudo aquilo que nos dói muito nessa vida é esse link com o que fomos em outra (me corrijam, se estiver errado isso).

Bom, adiante. Não raro essas dores e esforços pelo entendimento se dão dentro das famílias. Quem não conhece relacionamentos difíceis, aparentemente insolúveis, dentro de famílias? O tal do carma, resumindo grosseiramente também. Então. Sabe qual o único caso em que a justiça restaurativa não é aconselhável, porque não funciona, segundo estudos do sociólogo e de sua equipe? Em situações/crimes envolvendo familiares, violência doméstica. Porque, diz o americano, há variáveis não controláveis (pelo modelo desenvolvido) nas relações familiares.

Carma não é algo tangível mesmo.

Os espíritas também dizem que o "acerto de contas" na vida não é com ninguém, nem com Deus, nem o Diabo. É com a nossa consciência. Então, eu penso nos confessionários católicos, que lembram um 'tribunal'. O sociólogo diz:
"Acho ingênuo um juiz passar uma sentença, um sermão/pena e acreditar que está transformando a pessoa em alguém melhor."
Troca juiz por padre e sermão/pena por penitência... E de novo uma certa sincronia na ineficiência dos modelos.

Sei lá, acho que sou meio maluca às vezes.
Você pode não acreditar na justiça restaurativa e acreditar no espiritismo. Ou vice-versa. Ou não acreditar em nenhum dos dois. Mas que o jogo do perdoar/não perdoar é uma coisa significativa na vida, ah, disso é difícil duvidar.

06 outubro 2008

Forrest Gump

Dean Karnazes em Porto Alegre.
Meia dúzia de gente pra assistir a conversa dele na abertura do Mercovida, sexta-feira.

O que pareceu fazer sentido:
"Corro porque gosto de correr".
"Já tive muitos treinadores. Eu costumo dizer: ouça todo mundo, não siga ninguém."
"Como eu consigo? Assim. (ele troteia no palco) Um passo depois do outro."
"Quando sinto dor, tento não pensar no que está por vir. Não penso nos quilômetros que estão pela frente, penso apenas em uma perna depois da outra."

O que pareceu não fazer sentido:
"Nunca tive uma lesão."
"Eu durmo quatro horas e é suficiente. Vou dormir bastante quando morrer (risos)."
"Minha alimentação? Sea/ee food. Que pode ser frutos do mar ou... eu vejo (see) comida e como."

Ok, eu não esperava muito da palestra. Só queria ir pra sentir a energia do cara. Me pareceu muito simples, muito tranqüilo e nada deslumbrado. Camiseta, bermuda e tênis.
E ver se ele era de carne e osso. Ele é. Carne não, músculos. Isso que ele estava relaxado! Embora miudinho, um corpo muito harmoniosamente e naturalmente definido (apesar da impressão de retroversão da pelve). Panturilha (gastrocnêmio, hahah, adorava esse nome na aula de anatomia) que dá para ver olhando o cara de frente. Definição de músculo na canela! Não é para qualquer um... E a coxa tb. É normal os músculos definidos próximos ao joelho, certo? Nele, é a coxa inteira. Dava para estudar anatomia nele como nos cadáveres lá do laboratório. Um corpo sem gordura, aparentemente, direto na fáscia.

De resto, foram umas piadinhas, historinhas engraçadas. Embora eu não tenha lido o livro dele, já conhecia a maioria, de ler reportagens.
Ah! Ele não gosta de correr em esteira. Ou seja, ele é muito humano, muito normal, né? hahahaha
Ah (2)! Ao chegar a Porto Alegre, ele passou pela Beira Rio, viu muita gente correndo e achou bacana. (eu corri lá à tarde, será que ele me viu no meu super pace??? heheh)
Ah (3)! Ele disse para todo mundo que, quando forem a São Francisco, na Califórnia, convidem ele para uma corridinha. Ele vai!

Acho que caminhar, só caminhar, pra ele deve ser muito estranho, né?

obs1: sim, tirei foto dele, mas sei lá o que aconteceu com esse celular aqui... Vou de google mesmo, tá?
obs 2: ah, ao vivo, ele não é tão... hmm... gatinho assim como na foto ali.

02 outubro 2008

Apenas uma Vez

Eu vou (tentar) escrever sobre o que pensei depois de ver um filme. Esse: "Apenas uma Vez".
Como (tenho certeza) vai ficar meio deprê, vou começar com amenidades.
Dispensável essa abertura, né? Enfim. Tô muito formal hoje.

***

Tenho um amigo que me acha muito mais simpática, querida - "uma lady", ele disse - por email, MSN e blog do que pessoalmente.
Ele tem razão. Fazer o quê.
Onde mora o problema também mora a solução. O que é defeito por outro lado também é qualidade. Tem a ver com a teoria do arco-dos-antônimos-complementares, que um dia eu explico aqui. Mas também não me encontro muito seguido com esse meu amigo. Então, migo, dá um crédito aí.

Ele me acha muito formal, objetiva ao vivo. Mas, também, a gente só se encontra pra falar de trabalho. Para solucionar coisas de trabalho. E, diante um pepino, um problema, um furacão, um susto, o que for... meus amigos.... eu posso ser assustadoramente fria e racional. Por fora. É pura reflexo, nem noto. A mente corre na frente, faz os cálculos, mede, avalia, pesa, ocupa todo o espaço, (acha que) resolve e sai de cena. Aí vem o coração, dias depois, atrasadérrimo, todo queridão, mas em breve apavorado com o estrago da mente-margaret-thatcher.
Já entendi que é isso que vim melhorar nessa vida. Fase 2, por favor: como?

***

A gente tem de ser muito (emocionalmente) inteligente pra saber ser inteligente/saber usar a inteligência.

***

Essa coisa de escrever frases no MSN, sobre a qual já comentei aqui, é divertida mesmo. Parece um jornalzinho, vai dizer? Tu abre o teu MSN e lê ali "notícias" sobre teus amigos. A gente é a mídia da gente mesmo. Até dá nos nervos aqueles que não trocam NUNCA a frase, né? Sensação de jornal velho. Dá vontade de dizer: "troca a frase ali!!!".
Que doideira...
Tem outros que trocam toda hora! "Fui almoçar", "No banho"...
São notícias em tempo real!! :D
Daqui a pouco vai ter "Fui fazer xixi". Ou "No banheiro. Número 2".
Que doideira...

***

Tá, agora vou escrever sobre o "Apenas uma Vez", que até parece meio fábula.
Começa que é um musical... E é um filme dor-de-cotovelo total. Tem cenas cujo impacto vai variar conforme a distância que você se encontra de uma história afetiva mal-resolvida. Vai variar a intensidade, então, o impacto existirá em alguma medida. Tá avisado.
Mas também tem cenas muito cativantes. Despretensiosas, daquelas que tu não viu em filme nenhum. E surpreender-se com um filme é uma coisa muito boa, né não? Minhas eleitas:
- a do aspirador de pó pela cidade, puxado como se fosse um cachorro.
- a saída à noite para buscar pilhas pro cd player.
- e aquela em que... (não vou contar!!!!)

Acho que quem toca algum instrumento vai gostar do filme, e gostar especialmente de algumas outras cenas. A amiga que me indicou o filme me contou também que os atores principais não são atores, mas músicos e amigos do diretor.

O filme é sobre uma história de amor que não acontece. Ou acontece, mas não nos termos que a gente está acostumado/espera (principalmente quando é espectador de um filme-romance).
Como afirmar que o que existiu entre eles não foi um romance, um amor?
Enfim.

Eu já escrevi aqui que a gente precisa ampliar a perspectiva, exagerar, esticar o elástico, ir além para que, de volta à normalidade, as coisas possam parecer mais simples.
Vale pra tudo. Até para os relacionamentos, foi o que pensei depois de ver esse filme.
Os protagonistas (foto), cada um deles, tinham suas histórias afetivas. Ambas vistas por cada um deles como difíceis, complicadas. Ao se conhecerem, a perspectiva se ampliou. A história entre eles era ainda mais complexa de ocorrer, por uma série de razões circunstanciais. Então a história impossível entre eles tornou possível a história que vinham arrastando como um problema antes de se conhecerem.

De certo modo, é meio covarde isso. Topar (ou contentar-se?) com uma coisa apenas quando outra coisa mais difícil/desafiadora se apresenta. Superar um problema apenas quando diante de outro maior. Parece que é só assim que avançamos, quando alguém ou algo nos tira da zona de conforto. Do contrário, para que se atirar no precipício se não há nenhuma ameaça em terra firme?

A gente precisa ter muita fé, muita mesmo, uma fé que poucas pessoas podem assegurar que têm, para acreditar na Vida - assim, com letra maiúscula. E a oportunidade para isso pode surgir apenas uma vez.

19 setembro 2008

Sorria, você está sendo filmado

Isso está rolando na Internet: que teremos visita no dia 14 outubro.
Dá pra ver aqui e aqui (este em português).
A Tamara conta tudo lá no Tamis Aí.

A única coisa que eu penso depois de ler e ver isso é:

Por que não?

Na dúvida, vou dar uma olhadinha pro céu no dia 14 de outubro.
E sorrir.
Ao imaginar esse momento, penso o seguinte: se nada eu enxergar, acho que vou sentir "que pena, ainda não foi dessa vez".
Tô falando sério.
É que tb não sei se todos têm o direito de ver. Se todos, sem distinção, têm a capacidade de ver.
Qual o tamanho de percepção do seu espírito?
Uma das sacadas mais intrigantes do filme Quem Somos Nós, eu acho, é aquela em que eles falam sobre a chegada das caravelas portuguesas (ou espanholas, sei lá). Os índios não as viram. Não viram mesmo estando próximas, apenas notaram que o mar estava diferente. Eles não teriam visto as embarcações porque não as conheciam.
Bom, né? Intrigante, ao menos. Afinal, como (re)conhecer o que não se conhece? O que não pertence ao nosso imaginário, ao nosso mundo?

16 setembro 2008

Alt Tab

A coisa tá feia por .
(Pra completar ainda tem furacão.) Será que vamos assistir à queda do império americano? Achei que isso fosse uma invenção dos livros de história do colegial. Tipo queda do império romano. Tipo queda de Constantinopla pelos turcos otomanos.
Turcos otomanos.
Otomanos é tri, né? Essa palavra. Como será que eles eram? Acho que eram morenos jambo, fortes, nada de traços finos ou corpos longilíneos.
Os americanos são gordinhos. E meio vermelhos.

***

Eu acho que massagem devia figurar na Declaração Universal dos Direitos do Homem.
"Todo homem tem direito a ser massageado por uma hora (ou mais) uma vez (ou mais) por semana."
Porque massagem é muito bom.
Mas por que a gente sai da massagem com cara amassada de quem acabou de acordar? Nem se massageia a cara...
Será que enquanto recebe a massagem o corpo dorme à revelia de nossa consciência? Ou será que enquanto dormimos alguém vem e nos massageia?

***

Massageado por um turco otomano. Ih, continuo misturando assuntos nada a ver. Abrindo arquivos e mantendo-os assim, soltos e à disposição. Folheando-os. Tipo ALT TAB na tela.

12 setembro 2008

Pelo fim dos coletes

Tô fazendo um trabalho que me leva a entrevistar produtores de fumo. É pra Souza Cruz. Já fui a Rio Negro (PR) e a Paraíso do Sul, aqui, perto de Santa Maria. São pessoas simples, muito simples. É comovente. O mínimo conforto que hoje têm é fruto de anos de lida na lavoura, na lavoura de fumo.
Não gosto de cigarro. Acho burro fumar. Acho burro tanta grana girar em torno de algo que faz mal. Tudo bem que isso teve lá seu charme. Mas em pleno século 21? Não entendo um adolescente escolher o cigarro, por exemplo.
Mas quando encontrei essas famílias de produtores, não pude pensar só assim. Eles devem tudo a Souza Cruz. Tive vontade de dizer "sabia que o que vcs plantam matou meu pai?". Mas sei que não foi só isso que matou meu pai (quem ainda acha que doenças são meramente físicas?). E mais do que isso sei que não tinha o direito de questionar a oportunidade (talvez a única) de trabalho e sustento que tiveram. A vida não é lógica, Loraine.
Mas me incomoda muito a certeza de que, embora salve famílias, o dinheiro da Souza Cruz é para vender cigarro. Hoje, por exemplo, fiquei sabendo que um amigo talvez não viaje pra representar o RS e o BR no mundial de duathlon porque não há dinheiro. O Estado não tem pra dar, e nunca nenhum empresário se mexeu.
Entre ver alguém fumando e ver alguém correndo, se exercitando, naquelas roupas bacanas, óculos de sol colorido... qual das cenas é mais estimulante, inspiradora, admirável? Qual?

Dizem que não falo. É verdade. Mas falar o quê? Olha em volta, ouve. Sobre o que as pessoas falam? Rigorosamente, sobre o quê?

Dizem que sou calma. Não é verdade. Sou controlada. É diferente. E cansa pra caramba.
O que fazer quando a pessoa se aproxima e pede licença para sentar ao teu lado no banco do ônibus?
alternativa A: pergunta por que? (rsrsrs)
alternativa B: diz sim? (q meigo...)
alternativa C: diz não????!?!?! (hahaha)
alternativa D: bate? (ok, ok, ok menos, Loraine; mas as convenções vazias me irritam)
Tenho vontade de bater em guri que usa colete. Aqueles de lãzinha, sabe? Bater. Pelamordedeus.

É fácil ser honesto, responsável, sensato, ajuizado mantendo-se longe das situações que provocam o oposto disso tudo. Nunca provei drogas, por exemplo. Isso hoje pode ser uma convicção do tipo "tenho mais o que fazer". Mas e antes? Antes nunca encarei a oferta, nunca cheguei perto para realmente testar minhas convicções. Então, não vale dizer que fui uma adolescente responsável. Não vale.
Temos uma idéia das coisas. Quando distantes. E essa idéia tem muita chance de mudar quando nos aproximamos e vivemos essas coisas. Lição que aprendi duramente: não julgue. Não fale sobre o que só conhece de ouvir falar.

Criança ainda, incentivada por minha mãe que se sentava meia-bunda na beirada da minha cama, eu rezava. O credo, o pai-nosso, a ave-maria. A mais remota lembrança disso é minha mãe juntando com as suas as minhas palmas, me ensinando o gesto de prece. Ela falava uma frase, eu repetia. Que pena, na época não saquei a beleza de tudo isso. Nunca entendi uma só palavra do que era dito.
Faz tempo que desisti dos textos prontos. Eu rezo sim, mas é uma conversa. Um bate-papo íntimo. Sem emitir palavras, muitas vezes. O silêncio é uma prece. (Tem gente que vai achar que eu tô sempre em prece rsrsrsrs.)
Não tenho nada contra o texto das rezas. Sempre que os ouço na igreja ou numa palestra espírita, brinco mentalmente: as palavras vão sendo formadas na minha mente letra a letra, como que sendo datilografadas numa superfície. Só para passar o tempo.
Mas o que eu gosto mesmo é de não ouvir palavra alguma, me desatentar delas. E ficar só com o murmúrio. É isso. Muita gente rezando junto faz um murmúrio indecifrável no ambiente. Uma coisa assim:
mmmmmsrsrsszzzzcchhhhhhzzzzzzmmmmmmsssssschxxxxxcxhmmm
Esse som eu gosto. Ele quase se separa das palavras e vira a melodia delas. Se concentrar bem nele, é como o efeito dos mantras, será que não?
Mas o que eu ia dizer é que, depois de rezar, criança ainda, eu me sentia liberada para os pedidos, claro. Eu lembro de pedir muitas coisas. Não lembro de pedir "quero ser feliz". Depois, crescidinha, de novo desviei do "quero ser feliz" e, mais do que rezar e pedir, eu botei na cabeça o seguinte: quero ser uma velhinha com histórias para contar. Não posso, não quero, morro de pavor de chegar lá no fim, olhar pra trás e não ver nada.
Bom, eu já tenho histórias para contar, acho que vai dar certo.

Roubei do Carpinejar. O Fabrício. Isso: "O que adianta uma pele sem cicatrizes numa alma apavorada?"

Leram isso, meninos-de-colete?

03 setembro 2008

Zanzando

Não sei se ficam somente na Protásio Alves, de lá pra cá, de cá pra lá. Mas é sempre ali que os encontro, espalhados pelas paradas de ônibus. São crianças na beirada da adolescência, outros são grandinhos até. Há meninas e meninos. É a turma da bala de goma.
Pedem uma força pro motorista e entram. Ou largam a caixa de bala na mesinha do cobrador e a pegam de volta depois de passar por baixo da roleta ou esmagam as gomas no peito, esgueirando-se, limpando com as costas o chão do corredor. E aí começam a ladainha. O mesmo discurso, as mesmas balas. Todos eles. E todos eles dão uma entonação de rap pro anúncio. Tenta imaginar o som de rap no seguinte texto:
/boa noite/desculpa incomodar sua viagem/mas estou aqui/trabalhando/eu podia estar roubando/e não estou/podia estar pedindo/e não estou/então eu peço um minuto de sua atenção/
(aí, eles já vão pegando as balas de dentro da caixa pra mostrar, combinando texto e ação, como se fosse comissária de bordo dando aquelas informações de emergência em vôo)
/uma é cinquenta centavos/ três é um real
(aí eles vão de fileira em fileira: aceita? aceita? aceita? aceita? ou ... bala de goma? bala de goma? bala de goma?)
Se despedem com um discurso treinado também.
Perguntei pra um deles se havia alguém por trás dessa venda. O guri, um adolescente de boné, moletom surrado e bermuda, com correntes grossas de prata no pescoço, disse que não. Que eles compravam no atacado e vendiam. Quanto por dia, eu perguntei. Sete, oito caixas, ele disse. Quanto dá isso, devolvi. Ele: uns 70, 80 por dia (reais).
Mas é estranho... é sempre a mesma marca de bala, eles falam todos a mesma coisa, como que treinados, e parecem se conhecer. Não me convenci, mas o guri desceu em seguida, e minha entrevista acabou.
70 por dia x 5 dias são 350 por semana x 4 semanas = 1,4 mil por mês. Quanto é o salário mínimo? Será que o guri falou sério?



Não tem restaurante aberto às 17h para almoçar. Entro no supermercado, compro um pote de risoto e outro de brócolis cozido. Não dá tempo de ir pra casa. Tenho mais rua pela frente ainda. Sento no banco interno do súper e começo minha refeição. Comprei um pacote de colher de plástico pra ajudar. Uma só já bastava. As pessoas passam e me olham. Tá, é esquisito. Mas é esquisito o quê? Eu almoçar às 17h? Eu fazer isso no banco? Eu comer de colher? Ou eu estar com comida e não com um pacote de ruffles ou de bolachinha recheada?
Oi. Meus olhos diziam pra os que me miravam.


Os moradores de rua comem na rua, claro. Eles fazem tudo na rua. Morador de rua, eu acho, se apropria mais de sua cidade do que nós, moradores de casa. Eles deitam no gramado do parque, dormem no banco da praça, sacodem as pernas sentados no parapeito do viaduto da Ipiranga. Se apropriam. A cidade é deles, ainda que selvagemente. Não sei, mas os invejo. Tu consegue simplesmente sentar no cordão da calçada enquanto espera o ônibus? Por que q não? Bom, tem gente que não senta nem no chão de sua própria casa. Eu adoro o meu chão.


Os hidrantes deixam as calçadas charmosas. Vermelhos ou roseados. Algumas coisas são padrões curiosos. Que nem casinhas de fazer chave. Por que todas, eu disse TODAS, são azul e amarelo?


Trabalho, trabalho, trabalho na frente desse computador e de tempos em tempos dou um pulo ali no mundo - ou em uma das realidades dele. Acesso os portais de notícia e fico sabendo mais do mesmo de sempre. Grampos é o mais-do-mesmo da vez.
Será que a grampolândia chegou ao msn? Olha, deve ser questão de tempo.


Setembro não termina nunca e acabou de começar de novo. Venta ventania. Depois, em outubro, o roxo dos jacarandás da praça da alfândega pinta as calçadas de toda a cidade. Voa de lá, do Centro. Claro. Se anelassem o cabinho das flores como fazem com as patinhas de aves em extinção q estão sendo estudadas, você comprovaria.


Já escrevi sobre o roxo das calçadas em outubro láááá atrás neste bLOg. Também já escrevi um post chamado "Zanzando". Ando me repetindo. Chato. Dizem que, depois de um tempo, não aprendemos mais nada, nem fazemos novos amigos. Nos repetimos nisso também. Será? Ai, tomara que não. Aprender e pertencer me são os verbos/ações/condições mais valorosas (também já escrevi isso nesse blog). Aprendemos com amigos e pertencemos a eles. Ensinamos e somos pertences deles. Deusolivre a fonte secar.
Li esses dias a expressão 'alma coletiva de um povo', que seria formada pela mistura de raças - no caso, a brasileira é muito rica. Aí, pensei que nós, do ponto de vista solitário, uno, também podemos ter uma alma coletiva, formada pela influência de amigos, das pessoas que nos cercam continuamente. E, vice-versa, fazemos parte da alma dessas pessoas. Deve ser daí que tiraram aquela "Digas com quem andas que te direis..."


Minha bala de goma preferida é a roxa. Roxa como as florzinhas dos jacarandás.

Zanzei, zanzei, zanzei pela cidade.
Zanzei, zanzei, zanzei o pensamento.
Voando o pensamento. Deve ser o vento de setembro.

30 agosto 2008

Xilonen Jovelina

Tá, eu roubei lá do Rodrigo.
É que é divertido... ou pode ser.
Q cê acha? O que vale é a intenção...

Vai lá (aqui, ó) qdo estiver de bobeira descobrir que nome você teria se fosse filho(a) da Baby Consuelo e do Pepeu Gomes.

???!?!!!?!!

Afinal, o b ali do bLOg é de bobagem, né... Preciso justificar o nome deste blog.

Isso de passar adiante uma coisinha-engraçadinha-inutilzinha de Internet é o que chamam de Meme? Já ouvi falar disso vezes e vezes e nunca parei pra prestar atenção...

Meme. (acho que se lê com ênfase no primeiro "me". Assim: /même/)
Cada uma...

29 agosto 2008

Ao mestre, com carinho

Se você pudesse, o que mudaria em mim?

Vamos por partes, como diria Jack.

"Se" = conjunção condicional em que se expressa uma hipótese ou condição necessária para que se realize ou não a ação principal.

"você" = quem ser? preciso acertar para quem fazer essa pergunta. ah, "se" eu pudesse acertar...

"pudesse" = o sentido aqui é mais de probabilidade do que de permissão. Pressupõe que vc talvez não consiga. Ou seja, eu não mudo nada se eu mesma não quiser mudar. Uau, que clichezaço.

"o que" = quero uma lista de coisas... Ou não. Vai ver quero alguém me dizendo assim "não mudaria nada, vc tá ótima". Hmmm... Que bola nas costas... às vezes, um forte puxão de orelhas é um golpe e tanto mas elogios podem ser venenosos.

"mudaria" = o futuro do pretérito é tão melancólico, né? É confuso: dá futuro ao que já morreu ao mesmo tempo que mata o que viria.

"mim" = vc me conhece bem? Senão, não arrisque.

ih. não tomei meus remedinhos hoje.
ah. foda-se.


***

Da revista Vida Simples (fev/2008):

"Mestres ampliam nossos horizontes, nos estimulam a atingir nossos objetivos e são fontes inesgotáveis de orientação nas encruzilhadas da vida. Mas, cá entre nós, você sabe reconhecer um?"

"De poucas palavras, hábitos simples e vida rústica, Ignácio Campos Meirelles era a alma de Campo Formoso, cidade do sertão de Goiás. Único ferreiro do lugar lá pelos idos da década de 40, Ignácio tinha mãos de fada... (...). Para sua neta, uma menina de seis anos, ele era um rei (...) Com o avô, ela aprendeu a manejar a forja, fundir metais e moldar elos para fazer pulseirinhas (...) Com ele, a garota também aprendeu a ter coragem. Acompanhando os passos largos de Ignácio em suas andanças, era obrigada a atravessar pontilhões de estrada de ferro e olhar com coragem para o espaço vazio que ficava abaixo dos seus pés. Seu avô não era homem de olhar para trás pra ver se a menina o seguia ou não. 'Ele só dizia o que devia ser feito, como devia ser feito e pronto. O resto era comigo', se lembra ela, hoje com 72 anos."

***

Tá, então.
Diz o que deve ser feito, como deve ser feito e pronto. O resto é comigo.

É isso: eu só quero a clareza do seu Ignácio.

28 agosto 2008

Na posição

"Na posição" é uma recomendação na planilha de treinos. Aparece nas séries de natação, mas sei que vale para o ciclismo e a corrida. "Na posição" é, como direi... na posição. :)
Já tá dito. É fazer a série atenta à posição mais próxima possível da ideal, técnica. Não é fácil, principalmente quando se está cansado.
Lembrei de uma professora de pilates que eu tinha. Ela explicava o exercício, o movimento e, antes de começar, ela me dizia: 'te organiza'. Que significava isso: toma consciência de cada parte que é tua, de cada parte que tu vai usar, foca, concentra, procura tua respiração, por aí.
"Te organiza" é o mesmo que "na posição".
E eu gosto das duas recomendações. Porque são a base de tudo. É nelas que percebo que o treino não pode ser apenas uma folha de papel. Cada série "na posição" é a chance de eu falar tête-à-tête com o meu corpo, e ver quem está no comando. Às vezes, ganha ele; às vezes, ganho eu.
Quem sabe chegará o dia em que "na posição" seja a minha posição natural, espontânea. Na natação, na bike, na corrida, no pilates. Na vida.
Assim. Explico.
A gente precisa lembrar de ficar "na posição" na vida no dia-a-dia tb, né?
Não dá pra amolecer o braço na natação, atirá-lo lá pra frente como se não fosse teu; não dá para soltar o core no pedal, despediçar sua força; não dá para arrastar os pés na corrida, desistindo de toda a coxa à disposição.
Também não dá para rasgar a "série" que a vida o cotidiano nos apresenta (eu já tentei, mas a próxima série tende a ficar mais dura). A gente pode dar um tempo, ligar a TV pra não pensar em nada, dar uma volta na quadra, dançar até sujar a meia no carpete da sala ou ir dormir. Mas no dia seguinte...
"Na posição!"
"Te organiza e vai".
Treinos, triatlo, pilates e seja lá mais o que for 'aparentemente' apenas físico: tudo isso às vezes tem sentidos assim, meio viajandões pra mim.
Mas é só às vezes, eu juro.

26 agosto 2008

Platéia

Tem uma árvore grande na calçada em frente ao prédio onde moro. Seus galhos avançam tanto para o meio da rua quanto em direção às janelas da sala e do quarto. Gosto dela pertinho. É que, por exemplo, por causa dela posso escutá-los, os passarinhos. Nem aí para a platéia que ainda dorme o sono do inverno, cantam muito por volta das quatro e meia da manhã em diante. Acho que já os ouço há alguns dias, mas só na última madrugada é que tomei consciência, meio dormindo. E eu acho que sorri sem abrir os olhos ou me desgrudar do sono.

Esqueça a temperatura ou o calendário; o canto deles anuncia que outra estação está a caminho.
Depois, vêm as manhãs menos frias, os dias com tardes infinitas, as noites cheirosas, os vestidinhos leves, o pé no chão, o cabelo molhado espalhado nas costas nuas, enfim. Tudo de bom.

Na real, o imediato próximo passo é a piscina do clube encher de gente. rsrssr
A maioria das pessoas acha que natação não é pro inverno. Não adianta dizer que ali, a piscina, é seguramente o local mais quentinho do mundo quando os termômetros despencam. Se não é, vai ficar assim que vc começa a se mexer.
Acredite!
Mas é verdade: o inverno testa nossa fé - nossa, que frase mais "O tempo e o vento", né?
Na primavera, acreditar fica bem mais fácil. Em qualquer coisa - nossa, que frase mais, sei lá, auto-ajuda..

***

Leitor escolhe autores, certo? Certo. Há os preferidos, os que perseguimos, os que devoramos, os que respeitamos.
O contrário também acontece.
Quem escreve escolhe leitores também. Tem uns que não interessam; outros pelos quais se luta, se quer. É meio cruel e até repelente escrever isso num blog, mas é verdade. Nada pessoal, é apenas humano, eu acho.
Quem escreve quer ser lido, mas não serve qualquer platéia.
Não adianta o elogio do leitor que não se quer, não se respeita como tal. Sempre escrevemos para alguém - não um alguém com nome e endereço, mas um "tipo" de alguém.
Elogios de quem não interessa têm cor pastel. E críticas nesse caso são quase elogios - mas eu acho que isso acontece em todas as atividades, não?
Por isso, tem elogio e/ou crítica que vão valer/pesar mais - os do leitor que realmente se quer.
Dá pra se medir a qualidade de um texto pelo perfil do leitor que ele atrai.
Talvez não seja a medida mais justa, mas é a mais intensa e recompensadora.
Ou melhor: quem escreve redescobre seu próprio texto a partir do olhar do leitor que ele atraiu.

Mas também é verdade que não há nada de errado em uma pacata vida em tons pastéis entre escritor e leitor - se assim o escritor quiser. O Mario Quintana que disse uma vez, numa crônica cujo nome não lembro, "não acordem o leitor". Ele se referia a não surpreender, não sacudir o leitor com alguma palavra, frase, idéia... Porque dava trabalho: é preciso se responsabilizar por ele até o final do texto.

Pra mim, por exemplo, deu um trabalhão terminar este. Fui inventar de (tentar) te sacudir... Tô fora de forma.
Fase, fase...

tá quase na hora de os passarinhos começarem aqui na janela...

Bem juntinhas

Bem juntinhas
eu e a Búio