25 julho 2008

Meu caminho torto

Eu ia escrever uma coisa sobre a qual não lembro mais. É que no meio do caminho, não sei por que, minha cabeça fez outro caminho. E tal como uma criança que tem à frente um superbrinquedo mas prefere se distrair com potinhos plásticos de iogurte, eu segui por esse outro caminho.
Que é literalmente um caminho (e eu não tenho a menor idéia de onde este texto vai dar).

Sabe quando a cidade ainda é pequena e as pessoas ensinam como chegar a tal lugar por meio de referências e não pelo nome das ruas?
Então, pensei num caminho de referências bem porto-alegrense.
Assim.
"Tu vem pela rótula do Papa, vai ter o Garrincha à esquerda e logo em seguida o Dilúvio pela frente. Cruza o dilúvio. À esquerda vai ter o Tesourinha. Segue, segue. Mais adiante, os bombeiros, à esquerda também. Dali, tu já vai avistar as torres, à direita. Passa por elas, contorna as cuias e vai em direção à chaminé."

Tu, que é de POA, entendeu?
Se tu nunca esteve em POA, pode ter construído mentalmente uma colagem como a que fiz ali. O barquinho é a arca de noé, não exatamente o dilúvio, mas...

Incrível de inútil essa minha postagem, né? Ou não.
Ao menos, tu sorriu um pouco? Um amigo disse esses dias "naquela noite, eu sorri e chorei, e isso é importante para mim". Na mosca. Exato. É o que conta.

Mas assim, voltando ao meu caminho.
Os caminhos não são melhores com referências? Ou tu prefere o mapa, nome por nome de rua, ignorando a paisagem? Tem gente que diz: 'ah, eu não sei onde é, mas eu sei ir'. Quer dizer, sabe o cenário, o visual, as referências.
Comparando meio torto, na primeira situação (a do mapa) é como contar/ouvir uma história com fatos descritos mecanicamente, só datas e resumos (tal como livros didáticos de história). No segundo caso, é contar a mesma história com personagens, cenários, declarações (tal como quando vamos ouvir quem realmente viveu a tal história).
Porque é só nesse segundo caso que estamos sujeitos ao sorrir e ao chorar. Que é o que conta, seja lá qual for o caminho.

Ah, eu lembrei a coisa que eu ia escrever - depois de ter dado toda essa volta, toda essa banda...
Os caminhos da mente são... aann... imprevisíveis, né?
Eu conto na próxima.

13 julho 2008

Inhas, inhos, inha, inho

As pessoas só se desculpam pelo transtorno quando estão em obras, já viu?
"Desculpem pelo transtorno. Estamos em obras para melhor atendê-los."
O cara que inventou essa frase não inventou só uma plaquinha cordial, inventou uma convenção, uma instituição! Devia patenteá-la, cobrar pelo uso.

Que nem camiseta de ciclismo para meninas. Imagino dois manés conversando lááá nos primórdios da coisa (primórdios é bom, né? pri-mór-di-os... q q é isso?!?!?!).
mané 1 - "Meu, a gente precisa fazer umas camisetas femininas, as gurias pedalam, estão por aí..."
mané 2 - "Bah, certo que sim... Mas como podiam ser?"
mané 1 - (pensando)
mané 2 - (fingindo que tá pensando, mas na real tá esperando a solução vir do outro)
mané 1 - "Ah, sei lá, bota umas borboletinhas".

Pimba. O mané 2 seguiu à risca. E até hoje é assim. Camiseta feminina para ciclismo? Borboletinhas nela!

Borboletinhas...
Inhas... Lembrei de uma coisa sobre o triatlo...
Fulano nada direitinho. Fulano pedala direitinho. Fulano corre direitinho...
Seguinte: o triatlo não é esporte para 'tinhos', 'inho', 'inhos'. Não é.
Isso eu já aprendi.

A propósito: comprei uma camiseta com borboletinhas. E eu nado direitinho, pedalo direitinho e corro direitinho.

Bom, depois dessa incrível postagem, só me resta "Desculpem pelo transtorno. Estamos em obras para melhor atendê-los".

06 julho 2008

Backup

Não dei muita bola quando fiquei sabendo disso. Mas depois a notícia se repetiu e ficou na minha cabeça. Passei a pensar na dependência que temos dessa coisa, e de como seria se o mesmo acontecesse em proporções continentais, mundiais - como se já não bastasse ser realmente ruim caso ocorresse só no meu bairro!
E na tentativa de imaginar o caos que seria, na tentativa de visualizar esse caos, a lembrança que me veio de primeira é a do caos descrito por Saramago em O Ensaio sobre a Cegueira.

04 julho 2008

O triatlo

Eu queria ritmar minha respiração na corrida próximo do que consigo fazer enquanto nado. E quando nado, eu queria girar meus braços como devem girar minhas pernas no pedal. E queria que enquanto pedalasse duro pudesse contar com a ajuda dos braços como quando estou correndo.
Dã.
Eu misturo tudo. E não foco em nada :)
No fundo, o que eu queria é que a minha cabeça não me atrapalhasse.

Encontros e desencontros

O que é a vida senão encontros e desencontros? (tá, essa frase é brega demais pra começar um texto, mas dá um crédito aí!)
Os que a gente mesmo protagoniza e os que a gente, olha que privilégio, testemunha. Os que a gente protagoniza como se estivéssemos sendo assistidos, igual a Show de Truman. Como se tivesse alguém torcendo, nos acompanhando... Que nos vê como a mocinha, e o outro como o mocinho, e se contorce todo no sofá quando vê que a mocinha entrou por uma porta, e o mocinho saiu pela outra, e eles não se encontraram...

Para testemunhar, não precisa nem ser real. Falo dos encontros e desencontros que a gente tem a oportunidade de criar mentalmente, voluntariamente, sem que tenham ocorrido de fato, no plano físico. É uma novelinha só nossa. Eu tenho uma surgida há pouco, que poderia se chamar O tipógrafo e o piloto. Eles existem juntos só na minha cabeça, porque não se conhecem nem se encontraram por acaso.

O jornalismo me fez encontrar muita gente, muitos jeitos de viver. E, em alguma medida, do casal de namorados na procissão de Navegantes ao presidente da Intel no Brasil (só para citar duas experiências de reportagem bem distintas), todos falaram uma coisa ou outra que me fez questionar o meu jeito de viver. Foi para fazer uma matéria para a Grafia que encontrei esses dias o seu Salomão. O tipógrafo. Tem 78 anos e trabalha na mesma atividade desde os 9 anos, quando ajudava o pai, também dono de gráfica. Te recebe de jaleco manchado de tinta e manguitos protegendo a roupa. No que se refere à impressão, seu Salomão parou no tempo. Parou há 30 anos. Tem máquinas do século passado. Ativas! A tipografia é a mãe da chamada comunicação em massa. Foi Gutemberg que, ao criar os tipos móveis, inventou a impressão em série, a cópia, os livros, tudo enfim. (Para saber mais sobre isso, vou pôr em breve o link da reportagem aqui).

Meu jeito de viver também faz eu encontrar (e desencontrar) muita gente. Claro. Normal. E foi assim que noite dessas sentei frente a frente com o amigo de uma amiga do triatlo. Esqueci o nome dele, na mistura de apresentações comuns a situações em que pessoas de universos diferentes se encontram. Jovem, carioca, trabalha em SP, mora em POA (mora?) com a namorada/mulher com quem agora quase não convive mais. É o piloto. Voa numa das maiores aeronaves do mundo, faz linhas internacionais. Tem amigos nos quatro cantos do mundo. Conhece muitos cantos do mundo. E ainda anda de quepe, dentro daquele uniforme que faz da gente, passageiros, simples mortais.

Salomão sabe que parou no tempo. Salomão não é rico. Mas Salomão te recebe com um semblante sereno, algo sorridente, e fala das máquinas, da gaveta de tipos móveis, fala da sua gráfica com um brilho no olho. Eu e meus amigos jornalistas que também participavam da entrevista fizemos perguntas sobre o mercado, sobre sua decisão de não evoluir, renovar... Nossa pergunta se esvaziava. Ele sorria, e nos desarmava. Não se tratava de decisão nenhuma. “Eu apenas fiz na minha vida o que eu sabia fazer”. E gostava de fazer, eu acrescentaria.

Já o amigo da minha amiga, com o desmoronar da Varig, foi para a TAM, e diz viver uma vida de escravo. Só trabalha. Não joga mais tênis, seu esporte preferido. Fala da insatisfação, da perda de sentido de sua profissão, da falta de qualidade de vida como se... não fosse sua própria vida. Ele parece se assistir, num limbo. Olha com saudade e emoção para o passado, quando realizara o sonho de voar pela companhia gaúcha dona de uma história espetacular, e se deprime ao comparar com o presente – e pior, com o futuro. Formou-se em Direito, no ano passado, mas não encara seriamente a alternativa de uma carreira em outra profissão. Acha difícil começar do zero depois de ter se acostumado a um padrão de renda.

Não concluí nada sobre o encontro dessas duas vidas na minha novelinha particular. Só fiquei pensando... Quem realmente parou no tempo? Seu Salomão ou o amigo da minha amiga? O que realmente precisamos fazer hoje para, aos 78 anos, nosso olho brilhar ao falarmos da vida que escolhemos? Que zero é este no “começar do zero” que tanto o amigo da minha amiga teme? O “fiz-o-que-eu-sabia-fazer” que impediu seu Salomão de acompanhar as mudanças do mercado é o mesmo que parece manter o amigo da minha amiga na profissão de piloto?

Dificilmente encontrarei seu Salomão ou o amigo da minha amiga de novo... Então, vou ter de entrar nessa novelinha pra achar as respostas. Não dá mesmo para ficar a vida toda no sofá assistindo novelinhas, né? (Tomara que tenha alguém torcendo por mim, de seu sofá, igual Show de Truman!!!)

Ontem, 10 anos depois de ler o livro, assisti ao filme Na Natureza Selvagem. O livro é arrasador. Não se trata de concordar com o que o cara (Cris/Alex) fez, mas concordar e se emocionar com o porquê ele fez. Acredito na razão de suas atitudes, por isso o livro foi uma rasteira. Muita gente acredita – até seu Salomão e o amigo da minha amiga, mesmo que não saibam, eu acho.

Isso não significa que vamos todos para o Alaska, viver dentro da natureza selvagem. Mas que todos temos um Alaska íntimo e particular ao qual queremos ou devíamos chegar, ah, isso sim. O cara chegou fisicamente ao Alaska um ano e meio depois de jogar tudo para o alto. Mas já se encontrava lá (de coração e alma) desde o primeiro dia que pôs o pé na estrada. Por isso, encantou todo mundo que encontrou no caminho.

Poucos dias depois de o Cris morrer, caçadores o encontraram no ônibus onde viveu absolutamente sozinho e sem comunicação. Ele tinha tentado voltar, não conseguiu e morreu de inanição. Foi coisa de dias. Encontros e desencontros.

obs.: adorei a cena com a maçã, no filme. Cuida porque é rápida.

Bem juntinhas

Bem juntinhas
eu e a Búio