31 outubro 2008

Textos cross-fox

Vez ou outra, acorde bem cedo e testemunhe como o dia nasce, veja como a cidade se levanta (ou nem dorme...). Vez ou outra, acorde bem tarde, lá pelas 14h, sem motivo algum, e atrapalhe-se toda com a sensação de por-onde-eu-começo-agora?
Vez ou outra, vá ao estádio de futebol ou a um show ao ar livre, para se confundir na multidão. Seja apenas mais um, para ter uma noção do tamanho e da diversidade do mundo que nos cerca. Vez ou outra, vá ao cinema, esconda-se no escuro e acredite que é apenas você e aquela telona mesmo, pra ter uma noção do mundo que você carrega aí dentro.
Vez ou outra, liste tudo o que vai fazer no dia seguinte, vá dormir segura do acerto consigo mesma, acorde e faça tudo diferente. De preferência, nem lembre onde colocou o papel com a lista/agenda.
E, se não der para sorrir, ao menos não pisque na hora da foto.

Nossa, esse texto tem algo de "Filtro Solar", narrado pelo Pedro Bial, sabe?
Menos, Loraine, que pretensão... Ou... mais, Loraine, não se deprecie.
Isso também. Vez ou outra, seja muito pretensiosa e veja o que cola e o que não cola, veja quem se importa e quem é indiferente. Vez ou outra, seja muito subserviente e veja até onde vai o delírio de poder de quem acredita estar no comando.

De qualquer forma, Filtro Solar teve sua função. Se em algum momento ele fez as pessoas pararem para ouvi-lo, e agora as pessoas dão de ombros, pensam "aiokmenos", é porque houve um avanço, uma mudança de consciência. Quando uma coisa serve e depois não serve mais, quem mudou? O espectador, o observador. Evolução. Ótimo. Tipo: nunca teríamos um Palio Adventure se a FIAT não tivesse começado com um 147, né? Ou um Cross Fox, se a Volks não tivesse tentando o próprio Fox, o primeiro deles, tão esquisitão. Tipo isso.

***

Esse texto "veio" no ônibus, enquanto eu deixava Porto Alegre ainda "escura" pela madrugada. Mais uma viagem, agora Canguçu. Quer dizer, primeiro Pelotas, depois Canguçu. Tava frio lá, e em Canguçu as pessoas falam pomerano. Pomerano! Um dialeto alemão onde eu pensei que a colonização fosse toda açoriana. Q côsa.
Gosto muito quando o trabalho faz isso: me leva a lugares para os quais eu dificilmente iria voluntariamente.
Então, no ônibus me veio esse texto. Que também tem a ver com a expectativa do show na semana que vem. REM, no Zequinha. Não sou tão fã assim, gosto é da função, da coisa ao ar livre, de me perder na multidão como disse ali.
Eu gosto de coisas "populares"(ou "povolares", de juntar povo), de feira livre a show em gramados. Trabalhei em uns quatro ou cinco festivais planeta atlântida. E ainda que as atrações se repetissem, sempre senti algo de especial em algum momento no meio daquela multidão cantando junto. A energia tá ali, e não no palco. Assim foi quando entrei num estádio de futebol pela primeira vez, já lotado. Quando alcancei o último degrau e o campo cresceu na minha frente, aquele povo em volta, senti o impacto da energia, como um sopro, um vento não-vento. Meu pai riu da cara que fiz.

***

Mas quando veio o texto, ele parecia legal. Juro. Não era chato desse jeito aí. Mas vou respeitá-lo, como respeito todos os outros que fiz aqui (do contrário, seria me levar a sério demais). Nunca-jamais-em-tempo-algum-na-história-desse-país, como diria o Lula... Nunca jamais em tempo algum eu desistiria/apagaria um texto aqui. Talvez mudasse coisas em um deles especificamente, que tem um problema de motivação. Foi escrito mais por vaidade do que por necessidade. Mas se não fosse ele, eu não aprenderia isso. Talvez seja um texto-fox, necessário antes de textos-crossfox.

27 outubro 2008

Palpite

Não, eu não acho que a Maria do Rosário é a oitava maravilha do mundo.
Não, tb não acho que o PT é melhor ou pior do que os outros.
Acho, isso sim, que o discurso de político, seja ele quem for e de qual partido for, é um discurso totalmente obsoleto.
Tatibitati total.
De fato, tô longe de ser entendida em política. Mas eu tenho um palpite pra vitória do Fogaça.

As pessoas não querem ter expectativas.

22 outubro 2008

Sem foot nem head

Bacana é uma palavra mais legal do que a palavra legal.
Legal é legal. Mas bacana... bacana é... é... bacana é bacana.

Gostar do desafio de buscar e acertar a palavra, eis o vício/a mania de quem é do ofício de escrever. Eu, que escrevo há tanto tempo, seguido erro a palavra. E isso me .... (tô tentando acertar a palavra agora)... me incomoda. Não, não vou morrer por causa disso, mas incomoda. Porque sei que existe a palavra certa praquele buraco ali pra onde me levou o meu pensamento/meu sentimento. E quando você sabe que pode uma coisa, bem, você quer essa coisa...
Tem vezes que até me incomoda bem mais do que deveria, isso. Coisa de quem gosta de escrever... eu acho. As palavras têm poder. E o papel, como me disse um chefe uma vez, o papel (ele falava do jornal, claro), o papel aceita tudo. Perigo....
Acertar a palavra, como num quebra-cabeça (só tem uma peça praquele buraco ali), é uma arte. Tem gente tão artista nisso que pra acertar a palavra inventou uma - vide Guimarães Rosa, criador de várias.
Tem gente que acha que isso é bobagem. Tudo bem. Às vezes, eu tb acho. Nesse mundo, tem espaço pra todas as bobagens.
Ainda bem... isso não é legal?
Não. É bacana.

E viva os post sem foot nem head.

16 outubro 2008

Bizarrices (ir)relevantes

Esses tempos eu vi que no Praia de Belas tem um banheiro chamado "banheiro familiar". Que deve ser pra mãe poder levar o menininho, e o pai levar a menininha. Foi um colega meu de jornal que me chamou a atenção pra isso uma vez. Ele me disse que não saberia muito o que fazer se tivesse uma filha pequenininha e precisasse levá-la ao banheiro. Entra ele no feminino ou leva ela no masculino? Nunca tinha pensado nisso.
Então, quando vi "banheiro familiar" lá no shopping, pensei: hm, por trás dessa administração de shopping também bate um coração. "Também bate um coração" é uma expressão pra dizer que alguém pensou com a cabeça e deu respostas efetivas para a vida real.
Mas esses tempos também vi no mesmo shopping uma placa com "normas de comportamento". E lá diz que não podem circular no local grupos de cinco ou mais pessoas. Por segurança e tal. Aí eu pensei numa família, pai, mãe, um filho quase adulto e sua namorada, outro filho(a) adolescente, pensei nessa família-feliz-propaganda-de-margarina sendo abordada e gentilmente convidada por um guarda do lugar a dispersar. Tipo afastar um pouco, você e você mais à frente, vocês mais atrás. Faz de conta que não são um grupo, ok?
Lá no shopping só se pode ser família no banheiro.

*

Com a tal da crise, todo dia quebra um banco no mundo. Aliás, como tem banco no mundo né? Xszahfdysrth quebrou. Ah, tá, nem sabia que existia. E aqui, bom, aqui os bancários estão em greve. (?!?!?) Não parecem dois fatos de mundos, eras completamente diferentes? Parecem que não são contemporâneos.

*

As pessoas, a maioria: "Teatro?"
Eu: "TRIatlo. TRI."
Ai meus sais...
Que nem contou a guria da seleção de softbol que jogou no Pan: quando ela dizia "softbol", as pessoas devolviam "Só futebol?".

10 outubro 2008

Uma coisa é uma coisa; outra coisa é outra coisa. Ou não

A idéia deste texto me ocorreu em julho (maio?), quando fiz essa entrevista. Sei lá por que não escrevi na época. Deixei no cantinho da mente, aqui. Às vezes, é bom fazer isso. Que nem massa de pão/bolo: deixar crescer. Foi o que aconteceu (às vezes, embatuma). Não cresceu taaannnto assim, não é nenhum bolo/pão de vó, mas está ocupando espaço demais. Destino: bLOg.

O sociólogo americano, este da entrevista, o Howard Zehr, mencionou conceitos e situações que, à época, eu estava ouvindo num contexto absolutamente diferente (ou nem tão absolutamente assim?). As mesmas idéias em campos aparentemente sem comunicação. Inquietante. Havia uma sincronia, por mais maluca que fosse/seja, e este texto é sobre ela.

Resumindo de forma meio brusca, o que o americano diz é que o modelo de justiça que temos no mundo (o dos tribunais, das penas etc) não serve, é ineficaz, não resolve o problema. Porque ele não inclui a 'vítima' no processo. Ele diz que o modelo distancia "agressor" e "vítima", quando tudo o que esta quer é um pedido de desculpas, um pedido de perdão e uma forma de reparação que faça sentido para ela e não para a sociedade ou para um tribunal, um conjunto de leis. E ele diz (essa parte é boa) que o mais difícil prum agressor é encarar de frente sua vítima. Pra o infrator, é mais fácil o juiz, a prisão, do que olhar no olho da vítima e encarar o mal que causou. Por isso, o sociólogo defende a justiça restaurativa, que põe os dois lados frente à frente em busca de um entendimento. Porque assim vítima e agressor se redesenham entre si. Se restauram. Segundo ele, o método pode ser aplicado em QUALQUER caso, mesmo os mais violentos.

Pois bem. Sabe onde eu estava ouvindo/refletindo sobre as mesmas questões (perdão, ajuste de contas no bom sentido, o frente à frente, a convivência necessária para os reparos etc)?
Em palestras sobre espiritismo. Segundo os espíritas, há uma relação entre o que sofremos na vida atual e o que fizemos em vidas passadas. Tudo aquilo que nos dói muito nessa vida é esse link com o que fomos em outra (me corrijam, se estiver errado isso).

Bom, adiante. Não raro essas dores e esforços pelo entendimento se dão dentro das famílias. Quem não conhece relacionamentos difíceis, aparentemente insolúveis, dentro de famílias? O tal do carma, resumindo grosseiramente também. Então. Sabe qual o único caso em que a justiça restaurativa não é aconselhável, porque não funciona, segundo estudos do sociólogo e de sua equipe? Em situações/crimes envolvendo familiares, violência doméstica. Porque, diz o americano, há variáveis não controláveis (pelo modelo desenvolvido) nas relações familiares.

Carma não é algo tangível mesmo.

Os espíritas também dizem que o "acerto de contas" na vida não é com ninguém, nem com Deus, nem o Diabo. É com a nossa consciência. Então, eu penso nos confessionários católicos, que lembram um 'tribunal'. O sociólogo diz:
"Acho ingênuo um juiz passar uma sentença, um sermão/pena e acreditar que está transformando a pessoa em alguém melhor."
Troca juiz por padre e sermão/pena por penitência... E de novo uma certa sincronia na ineficiência dos modelos.

Sei lá, acho que sou meio maluca às vezes.
Você pode não acreditar na justiça restaurativa e acreditar no espiritismo. Ou vice-versa. Ou não acreditar em nenhum dos dois. Mas que o jogo do perdoar/não perdoar é uma coisa significativa na vida, ah, disso é difícil duvidar.

06 outubro 2008

Forrest Gump

Dean Karnazes em Porto Alegre.
Meia dúzia de gente pra assistir a conversa dele na abertura do Mercovida, sexta-feira.

O que pareceu fazer sentido:
"Corro porque gosto de correr".
"Já tive muitos treinadores. Eu costumo dizer: ouça todo mundo, não siga ninguém."
"Como eu consigo? Assim. (ele troteia no palco) Um passo depois do outro."
"Quando sinto dor, tento não pensar no que está por vir. Não penso nos quilômetros que estão pela frente, penso apenas em uma perna depois da outra."

O que pareceu não fazer sentido:
"Nunca tive uma lesão."
"Eu durmo quatro horas e é suficiente. Vou dormir bastante quando morrer (risos)."
"Minha alimentação? Sea/ee food. Que pode ser frutos do mar ou... eu vejo (see) comida e como."

Ok, eu não esperava muito da palestra. Só queria ir pra sentir a energia do cara. Me pareceu muito simples, muito tranqüilo e nada deslumbrado. Camiseta, bermuda e tênis.
E ver se ele era de carne e osso. Ele é. Carne não, músculos. Isso que ele estava relaxado! Embora miudinho, um corpo muito harmoniosamente e naturalmente definido (apesar da impressão de retroversão da pelve). Panturilha (gastrocnêmio, hahah, adorava esse nome na aula de anatomia) que dá para ver olhando o cara de frente. Definição de músculo na canela! Não é para qualquer um... E a coxa tb. É normal os músculos definidos próximos ao joelho, certo? Nele, é a coxa inteira. Dava para estudar anatomia nele como nos cadáveres lá do laboratório. Um corpo sem gordura, aparentemente, direto na fáscia.

De resto, foram umas piadinhas, historinhas engraçadas. Embora eu não tenha lido o livro dele, já conhecia a maioria, de ler reportagens.
Ah! Ele não gosta de correr em esteira. Ou seja, ele é muito humano, muito normal, né? hahahaha
Ah (2)! Ao chegar a Porto Alegre, ele passou pela Beira Rio, viu muita gente correndo e achou bacana. (eu corri lá à tarde, será que ele me viu no meu super pace??? heheh)
Ah (3)! Ele disse para todo mundo que, quando forem a São Francisco, na Califórnia, convidem ele para uma corridinha. Ele vai!

Acho que caminhar, só caminhar, pra ele deve ser muito estranho, né?

obs1: sim, tirei foto dele, mas sei lá o que aconteceu com esse celular aqui... Vou de google mesmo, tá?
obs 2: ah, ao vivo, ele não é tão... hmm... gatinho assim como na foto ali.

02 outubro 2008

Apenas uma Vez

Eu vou (tentar) escrever sobre o que pensei depois de ver um filme. Esse: "Apenas uma Vez".
Como (tenho certeza) vai ficar meio deprê, vou começar com amenidades.
Dispensável essa abertura, né? Enfim. Tô muito formal hoje.

***

Tenho um amigo que me acha muito mais simpática, querida - "uma lady", ele disse - por email, MSN e blog do que pessoalmente.
Ele tem razão. Fazer o quê.
Onde mora o problema também mora a solução. O que é defeito por outro lado também é qualidade. Tem a ver com a teoria do arco-dos-antônimos-complementares, que um dia eu explico aqui. Mas também não me encontro muito seguido com esse meu amigo. Então, migo, dá um crédito aí.

Ele me acha muito formal, objetiva ao vivo. Mas, também, a gente só se encontra pra falar de trabalho. Para solucionar coisas de trabalho. E, diante um pepino, um problema, um furacão, um susto, o que for... meus amigos.... eu posso ser assustadoramente fria e racional. Por fora. É pura reflexo, nem noto. A mente corre na frente, faz os cálculos, mede, avalia, pesa, ocupa todo o espaço, (acha que) resolve e sai de cena. Aí vem o coração, dias depois, atrasadérrimo, todo queridão, mas em breve apavorado com o estrago da mente-margaret-thatcher.
Já entendi que é isso que vim melhorar nessa vida. Fase 2, por favor: como?

***

A gente tem de ser muito (emocionalmente) inteligente pra saber ser inteligente/saber usar a inteligência.

***

Essa coisa de escrever frases no MSN, sobre a qual já comentei aqui, é divertida mesmo. Parece um jornalzinho, vai dizer? Tu abre o teu MSN e lê ali "notícias" sobre teus amigos. A gente é a mídia da gente mesmo. Até dá nos nervos aqueles que não trocam NUNCA a frase, né? Sensação de jornal velho. Dá vontade de dizer: "troca a frase ali!!!".
Que doideira...
Tem outros que trocam toda hora! "Fui almoçar", "No banho"...
São notícias em tempo real!! :D
Daqui a pouco vai ter "Fui fazer xixi". Ou "No banheiro. Número 2".
Que doideira...

***

Tá, agora vou escrever sobre o "Apenas uma Vez", que até parece meio fábula.
Começa que é um musical... E é um filme dor-de-cotovelo total. Tem cenas cujo impacto vai variar conforme a distância que você se encontra de uma história afetiva mal-resolvida. Vai variar a intensidade, então, o impacto existirá em alguma medida. Tá avisado.
Mas também tem cenas muito cativantes. Despretensiosas, daquelas que tu não viu em filme nenhum. E surpreender-se com um filme é uma coisa muito boa, né não? Minhas eleitas:
- a do aspirador de pó pela cidade, puxado como se fosse um cachorro.
- a saída à noite para buscar pilhas pro cd player.
- e aquela em que... (não vou contar!!!!)

Acho que quem toca algum instrumento vai gostar do filme, e gostar especialmente de algumas outras cenas. A amiga que me indicou o filme me contou também que os atores principais não são atores, mas músicos e amigos do diretor.

O filme é sobre uma história de amor que não acontece. Ou acontece, mas não nos termos que a gente está acostumado/espera (principalmente quando é espectador de um filme-romance).
Como afirmar que o que existiu entre eles não foi um romance, um amor?
Enfim.

Eu já escrevi aqui que a gente precisa ampliar a perspectiva, exagerar, esticar o elástico, ir além para que, de volta à normalidade, as coisas possam parecer mais simples.
Vale pra tudo. Até para os relacionamentos, foi o que pensei depois de ver esse filme.
Os protagonistas (foto), cada um deles, tinham suas histórias afetivas. Ambas vistas por cada um deles como difíceis, complicadas. Ao se conhecerem, a perspectiva se ampliou. A história entre eles era ainda mais complexa de ocorrer, por uma série de razões circunstanciais. Então a história impossível entre eles tornou possível a história que vinham arrastando como um problema antes de se conhecerem.

De certo modo, é meio covarde isso. Topar (ou contentar-se?) com uma coisa apenas quando outra coisa mais difícil/desafiadora se apresenta. Superar um problema apenas quando diante de outro maior. Parece que é só assim que avançamos, quando alguém ou algo nos tira da zona de conforto. Do contrário, para que se atirar no precipício se não há nenhuma ameaça em terra firme?

A gente precisa ter muita fé, muita mesmo, uma fé que poucas pessoas podem assegurar que têm, para acreditar na Vida - assim, com letra maiúscula. E a oportunidade para isso pode surgir apenas uma vez.

Bem juntinhas

Bem juntinhas
eu e a Búio