18 janeiro 2010

O miolo da fome

Pensei em fazer um blog com trechos de músicas. Um trecho ou dois de cada música. Ou uma canção inteira. O que viesse na telha aquele dia, aquela hora. As postagens seriam isso. Só isso. Com link para ouvir a música, claro.
Por quê? Porque no momento certo, na hora certa + a música certa, quando isso acontece, se tem certeza de que nada mais precisa ser dito: as músicas já disseram tudo. Aliás, esse seria o nome do blog:

"Porque as músicas já disseram tudo".

Que acha? Não tenho certeza de que o blog é a ferramenta/a plataforma ideal... Se bem que...

1) Olha só, seguido me perguntam qual a câmera fotográfica melhor, qual a filmadora ideal, blá, blá, blá... não sei por que me perguntam isso. O curso de comunicação não é técnico! Eu me formei em jornalismo, não em técnico em equipamentos/ferramentas... mas ok. Me perguntam isso e me ocorre responder uma coisa que ouvi no triatlo: não importa muito (ou tanto) a bicicleta que vc tem, importa quem tá em cima, as pernas de quem tá em cima da bike. Tah, eu sei que não é beeeem assim, mas existe uma verdade nisso.
Então: não importa a câmera. Importa o que vc vai fazer com ela. Importa a ideia. Não? Vc quer que os outros admirem a tua máquina ou o que vc faz com ela? Tem gente que prefere a primeira opção.

2) Eu não tenho medo de ficar sozinha. Do que chamam de solidão. Quer dizer, tenho, mas meu medo maior, meu desconforto maior é provocado pelo vazio. Entre a solidão e o vazio, prefiro ficar sozinha. Prefiro a sozinhez à companhia vazia, feita de aparências, de interesses. Prefiro a independência a ter de fazer de conta.
Mas só conhece o vazio quem já experimentou o cheio. Quem experimentou o cheio, nunca mais tolera o vazio. Nunca mais permite o vazio. E luta, luta, luta pra evitá-lo, nem que para isso fique, aos olhos dos outros, sozinho. O vazio é pior do que estar sozinho - mas essa é só a minha opinião. (Não, não é só a minha opinião. É o que eu sinto - embora ao olhar em volta, os outros, algumas coisas que vejo me confundam.)
Porque vazio é fome. Aparências, status, fazer escolhas priorizando essas agradáveis mas evaporantes sensações, é como comer papel. Tomar sopa de papelão. É coisa de mendigo. Engana a fome e não alimenta de fato.

3) Há várias frases na parede do meu quarto. Acho que só vou apagá-las, ou seja, pintar a parede outra vez de branco, quando eu assimilar todas. Entender, eu entendo todas, mas captar a essência delas, ir des-cobrindo (de "tirar a coberta") o sentido delas, é um processo mais lento. Já "des-cobri" quase todas. Uma das últimas sobre a qual a ficha caiu foi essa:
"Se você conhece o falso como falso, a verdade nascerá em você".

1+2+3= o que vale é o miolo da coisa, a essência.

Podemos (con)viver com a ideia de que aquele grande e ultramoderno equipamento nos garante as melhores cenas (1), ou que tal conforto, comodidade e conveniência, em relacionamento profissional ou afetivo, é a vida sendo aproveitada (2). A gente pode se empolgar com um equipamento bacana e com uma aventura nova, envolvente, cheia de vantagens e prazeres voláteis. Pode-se acreditar nisso tudo.
Só que um dia pode acontecer de a gente ver alguém fazer uma foto do caralho com uma latinha de nescau, usando o processo mais básico e tosco da história da fotografia (tah.. exagerei...heheh). Ou o dia em que a gente experimenta um relacionamento profissional ou afetivo que realmente alimenta, sintoniza, linka - daí lembrei do filme Avatar, em que os gigantes azuis comandam seus voos, e só conseguem voar, ao "conectarem" seus cabelos aos dragões (como uma entrada USB). Quem não quer voar? (agora, eu não exagerei)
Quando se experimenta o cheio, consegue ver o que era vazio. Quando experimentamos comida, a sopa de papelão vira o que é: nada. E não queremos voltar pra ela. (3) Quando a gente enxerga (finalmente) o falso, consegue reconhecer a verdade. E não esquece mais.

E o que isso tem a ver com o blog de músicas? Sei lá. Acho que a música certa na hora certa mata a fome da gente. E faz a gente ter certeza de que a sozinhez é melhor do que passar fome no emprego famoso ou na companhia oca de tantos.

***

Falando em relacionamento profissional significativo, andei fazendo uma série de entrevistas com uma psicóloga por causa de um trabalho frila. Um dos últimos temas foi coragem.
Neste link, reproduzo um pouco do que conversamos. Vai olhando as perguntas, talvez alguma te interesse. Tenho um enorme respeito pelas respostas. Leio tudo com especial atenção, e não fico com fome no final.

E, pra finalizar essa postagem... uma música!
Ouvi na rádio hoje, quando voltava do treino. Ela entraria certo no blog das músicas - talvez, fosse ótima pra começar o blog. Essa aqui.

***

Te convenci? Matei tua fome?
Nem a mim mesma meus textos convencem 100%, e olha que me puxo pra chegar lá.
Mas ok, vai ver é melhor assim: quando eles deixam frestas, atalhos para outro lugar, outro texto.
Não quero te convencer. Não é bom que eu queira.
Escrevo por necessidade. Só.
Convencer seria por vaidade.

16 janeiro 2010

nadarPeDaLArCORRER

E o triathlon, então.
Gostaria de melhorar natação e ciclismo.
Por quê? Por que gostaria de melhorar? Boa pergunta.

Mas, antes da resposta, o ponto é como me sinto em cada modalidade (ou um pouco de como me sinto). Por que pensar sobre o que sinto? Ora, ora, ora... tentar entender o que sinto é meu esporte preferido. Always.
Porque eu gosto de suar, mas eu adooooooro (a tentativa de) entender as coisas. Suar os miolos, sabe? Penso tanto, querendo entender as coisas, que acho que meu miolo já é um ironman, um (uhu!) Marc Allen ou um Dave Scott.

Aprendi a nadar "velha". 24 anos. E por anos foi apenas um contraponto para os desgastes do trabalho, uma compensação pelas horas sentadas. Sem treinos. Depois, vieram os treinos. Comparando com a corrida, também passei a correr regularmente "velha". Trinta anos. Bicicleta? 31. E, passados dois anos, os longos de pedal ainda são um desafio. Comparando com a corrida, acho que melhorei nessa modalidade quando passei a fazer longos. Hm, seria uma pista aí?

Agora, as sensações. Tem uma que me intriga. Essa: eu corro com o corpo todo. Entende? Pé, pernas, coxas, glúteos, abdomen, tronco, braços. Não sei explicar direito, mas é isso: o corpo todo firma, o corpo todo corre, como uma coisa só. Na natação e no ciclismo, não.
Na natação, sinto meu corpo em partes. E isso piora na medida em que canso. Lá pelas tantas, são dois braços arrastando um corpo inteiro. Tentando. Porque braço também não é meu forte. Em vez disso, eu bato muita perna. Outro erro, dizem. Então, lá pelas tantas fica tudo com elas, as pernas. Enquanto isso, vejo que tem gente q parece deslizar sobre a água, acima dela, de tão fluido o nado... A propósito: o que era o Miyashiro no fast triatlo? Aquilo não é natação, é boxe, é luta, é vale-tudo.

Abrindo parêntese sobre a água aberta... Nela, "perco" as pernas - entende? Na água aberta, não encaixo a pernada. Aquele monte de água anula o que mais me faz sair do lugar... aí, já viu... sinto as pernas "soltas", não sei pra onde vai meu quadril. Alguém me entende??? Fecha parêntese.

No ciclismo, tem gente que pedala tão naturalmente que só de olhar se percebe que não é alguém fazendo força em cima de uma bike. Não é alguém + uma bike, mas sim uma coisa só, de tão sintonizados, integrados. Pessoa e bike viram uno.
Eu senti isso algumas vezes - ou algo que me parece perto dessa coisa que observo nos outros. Na maior parte das vezes, no entanto, principalmente quando canso, são duas pernas tentando levar um corpo todo + uma bike (tenho conseguido recrutar o abdomen mais vezes, mas preciso me concentrar). Ou seja, nem na natação, nem na bike consigo a sensação de unicidade, que me parece mais frequente e natural na corrida.
Por quê?

Respondendo à primeira pergunta: se melhorar significa sentir essa unicidade, essa inteireza nas 3 modalidades, então é esse o motivo pra melhorar. Só por isso. Sensação boa demais.

E, pensando ainda mais amplamente, triathlon não teria de ser uno? Não é natação + bike + corrida. É uma coisa só: nadarpedalarcorrer. Quando teu corpo entende isso e responde nesse nível, bom, aí eu acho que se chegou lá.
Existe lá?

06 janeiro 2010

Um brinde a

E, nesses dias de ócio (criativo, pensativo, contemplativo, preguiçoso mesmo, inútil, útil, visionário, ilusionário, solitário...), algumas descobertas, alegrias, pequenos prazeres...

> A Lua Cheia na noite do réveillon foi ou não foi o melhor da virada? Um presente dos céus, literalmente. Blue Moon, a 13ª lua cheia do ano, acontece nessa época a cada duas décadas... e ela encheu completamente às 13h13min do dia 31 (13-13-31), para chegar à noite daquele jeito que foi: absoluta no céu. Ouvi ou li algumas coisas a respeito. O fato é que amei o presente. Lindo demais. Grande demais. Luminoso demais. Parecia que alguém segurava um canhão de luz gigantesco, brincando com os habitantes da Terra.
Aliás... no exato momento em que sua taça tocou em outra, no brinde, vc pensou no quê? Eu me surpreendi com o que, espontaneamente, pensei.

> Avatar tem lá seus momentos-Titanic, acho até que rola uma Céline Dion se esganiçando no final, mas é um baita filme. E eu me convenço disso na medida em que os dias passam, e já passaram vários, e me distancio dele. Insights vão surgindo.
Não lembro de ter visto algo parecido em termos de visual. Assiste em 3D. É demais. Não concordo com quem vê nele apenas um discurso esquerdista, de os fortes oprimindo os fracos e blá, blá, blá. O melhor de um filme dificilmente está na superfície, na história aparente. E, puxa vida, Avatar está cheio de simbolismos, cheio de detalhes. Eu escolhi os meus. Os clichês de um filme dependem muito do repertório de quem assiste. Se você só viu clichê, talvez não seja apenas "culpa" do James Cameron.
Aliás... como pode todo aquele visual ter saído da mente de um cara?

> Me esforcei, tentei ser o mais isenta possível, na medida do impossível!!, mas... na contramão do que li ou ouvi comentarem, não vi NADA de extraordinário em 500 Dias com Ela. Ok, tem uma embalagem bonitinha, edição moderninha, tiradas engraçadas, e só.
O cinema não está aí para repetir na tela o que a gente já sabe, faz e, vá-lá, aceita. Não quero que um filme justifique a condição limitada de ser dos humanos. E esse parece justificar. Se você sai da sessão pensando "bem, a vida é isso aí", então tenha certeza de que o filme, como filme, como arte, não valeu. Arte não pode refletir a normalidade, a média, porque a normalidade e a média puxam para baixo - ou no mínimo nos faz estacionar. Não pode explicar tudo. Tem de deixar na dúvida. Qualquer forma de arte tem dizer de algum modo: "ei, babaca, você pode ser melhor do que isso, por que não tenta?".
Aliás, o filme me lembrou muito Ensaios de Amor, de Alain de Botton, alguém leu? E o livro é de 1993!!

*

Deixa eu ver o que mais... ah sim!

> Correr à noite. Já disse aqui que correr é a segunda coisa que eu mais gosto de fazer na vida?
> Fim de tarde no Pimenta Rosa, ali no Jangadeiros, e o Guaíba logo ali.
> O quiche do MercoPan, aqui, no início da Ijuí. Isso se você resistir aos doces uruguaios...
> Pão-frescura no Carina Barlett, ali na Vasco com a João Telles, num prédio bacana. Porque pode vir com a lasanha que for, pode ser o spaghetti do papa... no reino das massas, eu gosto mesmo é de pão. E eu tô falando até de cacetinho com chimia de uva.
> Banho de madrugada.
> Vinho branco gelado.
> Cerejas in natura (em promoção no Zaffari! ou terá sido no Nacional?).
> Banho de chuva.
> Paçoquinha.
> Dirigir ouvindo música.
> Gente bacana que conheci em função do trabalho.
> O Cemma.
> Café preto feito na hora, pra acordar da soneca depois do almoço. Com muuuuuito açúcar mascavo.

Hmm. acho que é isso...
Missão à vista? Desarmar. Me acomodar na platéia e assistir no que tudo vai dar.

05 janeiro 2010

Ângulos

Sempre que eu vejo uma foto bacana, e eu adoro fotos, sempre que eu vejo uma, o primeiro pensamento que tenho é o de entender onde estava o fotógrafo. A posição escolhida por ele, ao acaso ou não, foi fundamental para o resultado.
E aí que esses tempos me dei conta de que isso não vale apenas para as imagens clicadas por aí. Vale para os atos, as ações das pessoas. A partir deles, você consegue perceber, ou ter alguma pista, de onde estava, em qual posição, em qual mundo, em qual nível, em qual vibração estava aquela pessoa autora daquela ação ou reação.
Claro, não funciona com todo mundo... Não vamos perceber isso naquelas pessoas que não nos interessam, para as quais nossa atenção não está voltada (ainda que elas estejam nos dando essa informação).
Acho que a percepção também ocorre com quem age. Revelamos a nós mesmos onde estávamos, ou a que vibração estávamos presos, quando agimos/reagimos desse ou daquele modo. Claro, isso tudo se você tiver um mínimo de sensibilidade e se achar que refletir sobre o que faz é uma necessidade.
Daí dá para parar e olhar um "álbum": que "fotos" tenho acumulado? Que cenas fazem parte da minha vida?

Tem gente que não perde tempo com nada disso, porque acha que a vida é só um amontoado de momentos desconexos, sem consequências... que é isso aí mesmo..., sem paradas para entendimentos ou tentativas de.
Entender o quê? Para quê?

Independentemente do resultado do ato/ação/reação (ou seja, é preciso perceber além das aparências), o lugar que escolhemos e do qual agimos pode nos absolver ou nos condenar. Também revela um pouco do que somos feitos. Por isso, se relaciona, ainda, à nossa capacidade de ganhar, inspirar (ou não) a confiança dos outros. O lugar, a posição escolhida, está ligado à natureza e à grandeza de nossa intenção.

Não?

Ok, cada um com seu jeito de ser.
Só que... acho que dificilmente se fará uma graaande foto se não se levar em conta a vibração, o lugar escolhido para ficar e chamar de "minha vida". (e, se é para continuar as metáforas, dá para dizer que grandes fotógrafos costumam se arriscar em busca "DAQUELA" cena.)
Aliás, não se fará foto alguma. Nunca. (ou até se fará, mas se evitará mostrar, por vergonha ou por desprezo mesmo, desconsideração pelo que passou.)
Tudo bem? Tudo, dá para viver sem fotos. Isso será um problema apenas se você gostar de fotos. E de álbuns.

Ó, mas eu tô falando de fotos de verdade. Aquelas que têm a tua cara. Não vale copiar as cenas de outros, nem se pendurar na cena de outros, tah? Nem comprar cartão-postal. Jogue limpo.
Até porque é fácil reconhecer quando temos uma foto de verdade e quando não temos. Uma dica que li uma vez: olhe os olhos das pessoas que estão na foto. O olhar revela a cena que é verdadeira e a que não é.
Os olhos nunca mentem.

Bem juntinhas

Bem juntinhas
eu e a Búio