24 maio 2010

Historinhas

A 7 passos do abismo

1
Foi traição? Ah, não, que exagero. Ela nem sabia o que era isso, nem sabia que estava namorando, e o cara estava mais para desligado, "tanto-faz-como-tanto-fez" modo on, do que para namorado. Afinal, após alguns dias de namoro (mas era namoro?), ele partiu para férias em outro lugar, deixando ela pra trás. Foi então que surgiu o outro, e ela experimentou o beijo dele - mil vezes melhor do que o do deslig... ops, do "namorado". Então, o namorado voltou e, em vez de procurá-la com saudade, ficou na rede, porque o mar ele só gostava de olhar. De longe. Ela atravessou as dunas, chamou-o e acabou o namoro.
Era namoro?
Anos depois o reencontrou. Muito diferente. Fisicamente muito diferente. E ela não o reconheceu. Se deram oi quando as identidades foram descobertas. Ela continuou o que fazia, entre os amigos, um pouco impressionada com ela mesma, tão indiferente àquele passado ali, na sua frente, de carne e osso. Mais carne do que osso. A noite não acabou sem que ele levantasse a camisa e batesse na própria pança gorda, num gesto exageradamente de bem com sua vida para quem realmente pudesse estar de bem com sua vida.

2
O que aconteceria se ela conseguisse sustentar o olhar para aquele estranho no ônibus? Estava constrangida com a insistência dele, sabia que ele continuava olhando. Era noite, fazia frio e ele usava uma jaqueta de couro preta. Por muito tempo depois daquela volta para casa ela jurou sentir o cheiro daquele tecido em vários momentos.
Ele nem era bonito, mas parecia forte. Ou era a jaqueta? Ela decidiu segurar o olhar nele, sem sorrir, pra ver até onde conseguiria. Passou por ele para alcançar a porta e descer em sua parada. Sentiu o meio de sua barriga esquentar ao perceber que ele faria o mesmo. Desceu do ônibus e quis andar rápido, mas em seguida uma mão no seu braço a impediu de prosseguir. Sentiu medo. O que fazer agora? Ficou muda. Ele pediu para q ela não sentisse medo, que nada faria de mal. Perguntou o nome dela. Ela tentou se desvencilhar. Ele a soltou e insistiu no nome. Ela só disse que precisava ir. Virou-se, baixou a cabeça e marchou até em casa sem olhar pra trás. Não sabe dizer quando o medo passou.


3
Por meses ela teve certeza de que o queria. A ponto de invejar a esposa. Sim, ele era casado, mas deixava claro que o relacionamento não ía bem. Viam-se todos os dias, ela ansiava pelo encontro, pela presença, embora nunca tivessem passado de olhares e gestos de carinho comprometedores, escamoteados para que os outros não percebessem. De fato, ela nunca imaginou o beijo dele, pensava e queria mesmo era o abraço. Não era algo sexual da parte dela. Da dele, era. Isso o tempo provou. O tempo provou que ela o "usou". O usou para estancar uma outra dor que vivia na época. Fez uma transferência de afeto. Mas é verdade que, embora com um "repertório" algo ingênuo e delicado, ela o tentou, o provocou, encantada com o fato de perceber nele um interesse verdadeiro. Ele, casado, manteve-se fiel, ainda que em pensamento não. Ela, de certo modo, respeitou, e não achou que ía morrer quando ele decidiu se afastar porque a esposa engravidara. Anos depois se reencontraram. Ele já separado. Finalmente, o beijo e... Decepção. Ela nada sentiu. E dali pra frente pouco aconteceria. Ele, ao contrário, fez o que pôde naquela madrugada para tornar real tanta promessa de, tanta vontade de, guardada há tempos. Gozou nas coxas dela, algo constrangido por não conter tanto tesão, algo envaidecido por demonstrar de fato que a queria muito. Na despedida, ela não olhou nos olhos dele. Nunca mais se viram.

4
Por que ele havia recuado?, ela não entendia. O carinho no dia-a-dia, a aproximação, o convite para o cinema, a parada para comer algo depois. Tudo parecia bem... quer dizer, no cinema já foi meio estranho. Por que sentar-se de lado, quase que de costas? E, enquanto comiam, por que ele não a olhava nos olhos? Aquilo não estava indo bem... Mas dessa noite nunca vai esquecer o susto dele.
Haviam se despedido, mas ela decidiu que não ía pra casa acompanhada da dúvida. Fez o retorno e voltou à casa dele. Jamais esquecerá o estrondo que veio pela linha do interfone quando o porteiro avisou quem era. Ele teria deixado cair o aparelho. Recebeu-a visivelmente atrapalhado. O apartamento vazio e os poucos móveis tornavam-no ainda mais indefeso. Não se sabe como, mas a conversa amenizou o constrangimento dele, que se recompôs, se explicou parando várias vezes para procurar as palavras certas, que não comprometessem sua virilidade, e tudo ficou como deveria ficar. Ela voltou pra casa e, quando acordou no dia seguinte, riu de tudo aquilo.

5
Ela se sentou àquela mesa por acaso. Encontro do ano da empresa, com todos os funcionários. O cara sentado a sua frente olhou-a com demora desde o primeiro instante. Nunca o vira antes, mas teve certeza de que algo aconteceria. Olhos pregados nela o tempo todo. Dias depois, ele puxou papo durante o expediente. A conversa continuou por alguns dias, e ele entregava seu interesse ao descrever cada gesto, a roupa e o cabelo dela na primeira vez em que a viu. De cidades diferentes, ele conseguiu um pretexto para que se encontrassem. Ela tinha outro compromisso, não foi. Ele não desistiu. Mais tarde, a conversa pelo telefone esquentou, ela sozinha em casa sentiu ensopar-se por um desejo de bicho da cintura para baixo. Ele pediu o endereço, ela não conseguiu dizer não. Ele chegou, entrou, conversaram sentados no chão, depois deitados. Ele disse que não aguentava mais, precisava do beijo. Os corpos se tocaram... ela sentiu a barba rala, áspera e o hálito de cerveja... algumas roupas foram despidas, mas não foram muito além... enquanto o desejo dele crescia, o dela estacionara. Era a situação, a novidade, a liberdade, o poder fazer tudo aquilo que a excitara, e não ele exatamente. Ele compreendeu que não passariam daquilo e passou a ser mais carinhoso do que viril. Ela sabia que não o queria em sua cama. Aliás, não o queria, nem na cama nem em lugar algum. Perguntou se ele se importaria que ficassem ali, no chão mesmo. Ele concordou. O dia já clareava, ela não dormiu, ele cochilou, acordou e foi embora. Dias depois enviou a ela um livro de poesias próprias com a dedicatória: "nesse mundo, nesse nosso mundo, o chão é duro, o chão até pode ser duro, mas a pele.... a pele é macia".

6
A fama de mulherengo, ela conhecia. Isso não servia para despertar seu interesse, pelo contrário. Das histórias ouvidas, achava graça, meio que a salvo, num outro nível, assistindo a tudo como bobagens de um moleque. Até que, ela não sabe quando ou em que momento, tudo mudou. A presença dele a intimidava, o olhar mexia com ela e, puxa vida, a armadilha maior: o toque era correspondido pela pele. Ele, animado com a possibilidade de mais uma conquista, ía direto ao ponto. Quando?, queria saber. Estava pronto para trair a namorada. Ela não sabe em que momento passou a pensar mais na mulher dele do que na própria vontade vinda das entranhas. Mas lembra com exatidão da vez em que o desejo foi quase insuportável. Uma carona, um abraço, as pernas trêmulas, a pelve em chamas, o não-saber-o-que-fazer. Ou saber mas não confiar. E depois?
Ela queria mais do que ele podia dar. Quando ele percebeu isso, se afastou. E o desejo dela se transformou em ansiedade, em dúvida, em espera, em questionamentos. Então... o deixar-pra-lá. Tempos depois, ele prestes a ser pai, moveu-se encantado de novo em direção a ela. Agora, era ele quem queria mais do que ela podia dar. Sem o mesmo desejo, sem o despertar da pele para desmentir, conseguiu empurrá-lo pra longe, lembrando-lhe que em casa sua mulher o esperava com um filho na barriga. E mais de uma vez o ouviu ora ansioso, ora resignado dizer: eu gosto demais de você; você sabe. Sim, ela sabe.

7
O beijo foi fácil, progressivo, natural. Ao redor, tudo se apagou e nada mais se ouviu. Os corpos se encaixaram e eles transaram como se já se conhecessem, como que brincassem, com desejo e atenção bem medidos, sem pressa. E era a primeira vez. O primeiro beijo deles, o primeiro amasso deles, a primeira noite deles juntos. Ela não gozou naquela vez (ou mesmo em outras), mas gozou a certeza de que entre um beijo e um orgasmo, no encontro de peles que se conhecem, há mais mistérios a serem descobertos e compartilhados do que se pode imaginar. Nos dias seguintes, ela ainda podia sentir o corpo dele pesando sobre o seu, o corpo dele dentro do seu, o cheiro, a voz, a textura e o quente da pele.
Ele, não se sabe o que sentiu, mas ela, finalmente, estava apaixonada.

05 maio 2010

Roubos (2)

"... de todos os chacras, o mais perigoso de ser desperto prematuramente é o chacra básico, sede do kundalíneo ou do fogo serpentino, pois sem a garantia de uma boa graduação espiritual, o homem que o "abrir" perde-lhe o domínio ante o primeiro controle emotivo ou mental em desfavor alheio... (...) Trata-se de energia violenta e agressiva, embora criadora, que em fuga atinge maleficamente o perispírito e alucina-lhe as células perispirituais... (...)
O chacra básico ou fundamental se situa na base da espinha dorsal, conhecido pelos hindus como o chacra kundalíneo, centro etérico responsável pelo fluxo das energias poderosas que emanam do Sol e da intimidade da Terra, a energia mãe da terra. Segundo ensinamento hindu, o kundalíneo proporciona a libertação do ser, quando habilmente controlado pelo chacra básico, feito por espírito equilibrado, sem vícios ou paixões perigosas, despreocupado dos tesouros e poderes das vaidades do mundo carnal..."


roubado do livro "Elucidações do Além", de Ramatís.
por que "roubar"? aqui.

01 maio 2010

Ovos de Páscoa já!

Alguém sabe do efeito prático do @transitozh no twitter? As pessoas que o seguem em seus gadgets realmente mudam seu itinerário ao saber que tal lugar está engarrafado? Resumindo, o @transitozh mudou o trânsito?
Por que impliquei com o @transitozh? Não é implicância. É que cidades paradas por carros é um tema que me interessa. Eu acho que as pessoas tinham de repensar o modo como encaram/como se relacionam com a ideia de ter carros, mas enfim... e também me interessa saber se o twitter estaria operando alguma mudança prática na vida das pessoas. Me parece que as pessoas querem mais colaborar com o @transitozh do que propriamente mudar itinerários. Se é isso, o efeito estaria sendo um tanto esquisito: as pessoas estão gostando de estar em engarrafamento para poder avisar no twitter da zh! De repente, vai saber..., estão justamente saindo no horário de pico para encontrar uma forma de participar!
Tem algumas invenções que acabam alimentando o problema. Ok, posso estar exagerando, mas que tem, tem. Isso porque a grande invenção é aquela que ataca a raiz do problema e não sua consequência.
Loraine, @transitozh não quer resolver o problema.
Não?
Aaaaaaaaaah, tah. Puxa, um dia alguém há de querer, espero.
A gente faz coisas sem noção mesmo. Eu, por exemplo, não sei para que sigo o @transitozh. Dificilmente saio no horário de pico, tento evitar. E o @transitozh só opera nessas horas de pico. Então, para que o sigo no twitter? Se acho que muita gente que tah no trânsito segue o negócio inutilmente, o que dizer de mim que nem no trânsito estou!? Fico apenas trazendo pra dentro da minha casa, virtualmente, o estresse que tah na rua naquela hora.... Pra q? Vou pensar uma serventia... se não encontrar, unfollow já.

***

Mas eu entrei aqui para falar de outra coisa. Amenidades. Posts irrelevantes são meus preferidos.
Suuuuuper importante (tom irônico, por favor) o que vou dizer. O tema é ovos de páscoa. Isso mesmo: ovos de páscoa. Suuuuper importante e bem na época de se falar nisso, neh???? :D
Aí é que está!
Proponho que não haja época para encontrar ovos de chocolate por todos os cantos. Proponho que durante todo o ano a gente possa entrar nas Americanas, no Zaffari, no Nacional e sei lá mais onde e ser obrigado a se abaixar, desviando daqueles ovos pendurados. Por que não?
Qual o problema de comprar ovo de Páscoa em julho? Em dezembro?
O que não dá para aguentar é na segunda-feira após Páscoa a gente encontrar os MESMOS ovos pela metade do preço com que eram vendidos dias antes. Muita cara-de-pau, neh?
Culpa nossa, que compactuamos com essa bobagem. E tantas outras.
Tradição? Ninguém sabe para que serve a Páscoa. E, mesmo que saiba, não precisa de um dia só para comemorar/celebrar seja lá quais forem os bons sentimentos oriundos disso. Celebre todo dia.

Bem juntinhas

Bem juntinhas
eu e a Búio