Tô pra dizer que o formato criado pela Globo, para o último debate entre Alckmin e Lula (a ordem aqui é meramente alfabética), quase garantiu sozinho a audiência ontem. A platéia foi formada por eleitores indecisos – praticamente uma metáfora para o que cada um de nós foi durante a campanha cujas opções não traziam novidade e ainda incluíam um cara que nos impedia moralmente de acreditar nele outra vez.
A produção buscou 300 indecisos junto ao Ibope e escolheu 12 perguntas, no caso 12 pessoas, para formarem/guiarem o conteúdo dos três primeiros blocos do debate. Alckmin e Lula ficavam circulando por ali, ora se aproximando da platéia, para responder a uma pergunta, ora querendo a câmera, para falar comigo, em casa. Divertido era que eles ficavam a centímetros entre si, se criticando. Então, fica alguém ali, afirmando que tu mente, e tu fica firme, ao lado, cool, quase como se estivesse sendo elogiando, quando o movimento mais natural seria no mínimo um soco na mesa.
Enfim, a prova definitiva de que política é palco, representação – claro, principalmente se está na TV, em rede nacional, na Globo, num debate com uma forma tão democrática. Dava para desligar a TV? Não dava. Ao menos, deu para segurar até o Lula começar a soltar suas frases fora do script, coisa que ele faz muito mais naturalmente do que o Alckmin. Fora o fato de ver o Bonner, em momento semideus, mandando calar a boca o próximo presidente da República porque o tempo da resposta se esgotou.
Mas o que eu queria dizer é que genial mesmo foi a singeleza, a fragilidade, o nervosismo, a sinceridade com que 12 brasileiros se levantaram, a maioria seguramente com pernas trêmulas, dentro de suas roupas novas – muitos deles ali provavelmente depois de sua primeira viagem de avião, sua primeira saída de seu Estado, sua cidade, sua rua –, e fizeram suas perguntas, tão genuinamente ingênuas como necessárias.
Destaque para o gaúcho de Porto Alegre, que lá no final tocou no ponto nevrálgico da disputa – quiçá de toda a história política brasileira, mas especialmente nesses tempos: corrupção. Chance para o Alckmin massacrar o Lula. Tinha de ser um gaúcho (ops!).
Acontece o seguinte: alguém ali naquela arena saiu satisfeito com o conteúdo? Vi os repórteres da emissora entrarem ao vivo no Jornal da Globo, logo em seguida, perguntando aos candidatos o que acharam do debate. Não os vi fazendo o mesmo para algum dos 12 indecisos que levaram sua pergunta e sua cara para a rede nacional. Saíram de lá, eu acho, física e emocionalmente aturdidos com o momento fama-cidadão, mas quantos entenderam as respostas? Mais: quantos conseguiram domar a emoção e refletir racionalmente sobre o que faziam ali? A produção da Globo foi dormir feliz, tenho certeza. E os indecisos? Ok, Loraine, quem estava preocupado com o conteúdo ali, né? “Debate é assim mesmo, um diz que sim, outro diz que não”, comentou Lula depois, com a naturalidade que diversas vezes o exime da reprovação por afirmações questionáveis como essa.
É por isso que eu acho que ganhou o duelo final quem mais à vontade ficou com o formato do debate.
Ok, antes ganhou a Globo, que montou o circo com profissionalismo e seriedade – mas o profissionalismo e a seriedade de uma emissora de TV, com a superficialidade que lhe é inerente.
28 outubro 2006
26 outubro 2006
Que susto
Dia desses um colega de trabalho olhou bem pra mim, sério - ainda que eu estivesse de lado, pude perceber seus olhos presos em mim, como fazemos quando queremos dizer para alguém algo que nos parece verdade -, então, olhou bem pra mim, daquele jeito que exige que a gente retribua o olhar, o gesto solene, e disse:
- Loraine, tu parece que não faz falta, mas tu faz.
Olhei pra ele, ele continuava me olhando, sério. Por segundos, fiquei surpresa com a frase, que me bateu como uma verdade vinda não sei de onde, sem que eu nem imagine por que, nem saiba explicar o sentido ou o efeito dela - e conseqüentemente qual seria a função no mundo de uma pessoa assim, no caso eu. Em seguida voltei a olhar para o lado, como se ele não tivesse dito nada de importante.
Eu estou mudando de área outra vez no trabalho, é a isso que ele se refere na frase, porque deixaremos de ser colegas diretos.
E a tarde seguiu, os dias seguiram, e eu ignorei - tenho ignorado - o efeito da frase, como a gente faz com inúmeras coisas que a gente não quer entender na vida. Ou acha que não quer. Ou acha que não precisa entender, porque não está vinculado com nada que nos é imediatamente vital.
Mas eu sei que não vou esquecer essa frase.
E, se ela for uma verdade, eu não sei se quero continuar assim. Eu não sei se posso/sou capaz de mudar essa minha condição. Não sei se precisa mudar. Eu posso apenas ser assim?
- Loraine, tu parece que não faz falta, mas tu faz.
Olhei pra ele, ele continuava me olhando, sério. Por segundos, fiquei surpresa com a frase, que me bateu como uma verdade vinda não sei de onde, sem que eu nem imagine por que, nem saiba explicar o sentido ou o efeito dela - e conseqüentemente qual seria a função no mundo de uma pessoa assim, no caso eu. Em seguida voltei a olhar para o lado, como se ele não tivesse dito nada de importante.
Eu estou mudando de área outra vez no trabalho, é a isso que ele se refere na frase, porque deixaremos de ser colegas diretos.
E a tarde seguiu, os dias seguiram, e eu ignorei - tenho ignorado - o efeito da frase, como a gente faz com inúmeras coisas que a gente não quer entender na vida. Ou acha que não quer. Ou acha que não precisa entender, porque não está vinculado com nada que nos é imediatamente vital.
Mas eu sei que não vou esquecer essa frase.
E, se ela for uma verdade, eu não sei se quero continuar assim. Eu não sei se posso/sou capaz de mudar essa minha condição. Não sei se precisa mudar. Eu posso apenas ser assim?
08 outubro 2006
Somos quem podemos ser
“Quem Somos Nós?” não é um bom filme nem um bom documentário, embora seja um pouco de ambos. Por mais generoso que o espectador seja, nenhum caminho convencional leva ao adjetivo bom. Mas o filme tem feito um relativo sucesso. Como explicar? Ficou (se ainda não está) um tempão em cartaz, gerou programas de debate, as pessoas comentam, gerou marola – como a gente costuma dizer no jornalismo. Os cadernos de variedades ignoraram solenemente. Não é um filme para as massas. Como poderia ser para as massas um filme sobre física quântica? Até por isso, repito: um filme sobre física quântica (sim! física quântica) tem dado o que falar. E pensar. Você viu?
Resumindo bem, dá para dizer o seguinte: o filme mostra, com depoimentos/opiniões/argumentos de físicos e neurocientistas, que a realidade é uma construção mental. Vivemos o que somos capazes de imaginar, pensar e, logo, acreditar. A rigor, criamos a vida que conseguimos criar. Ou: que grande parte dos problemas é fruto de como os percebemos. Eu acho perturbador: transferir para nós mesmos a responsabilidade por nossa felicidade ou desgraça é terrível. É inaceitável, na grande maioria das vezes. Sempre buscamos explicações fora da gente. Assim o pensamento ocidental ensinou.
Na verdade, não sei o que pensar sobre o filme, que assisti há algum tempo já. Mas tenho a tendência de acreditar no que ele mostra. Acho que ele já vale só por mostrar um monte de gente nos cutucando com a possibilidade de... “Somos quem podemos ser/ Sonhos que podemos ter” - Engenheiros do Hawai, lembra?.
Eu lembrei de mencionar o filme aqui porque li uma frase no editorial da última Vida Simples. Lá pelas tantas, o Leandro, editor da revista, disse: “Porque o debate gera luz”. Ele estava falando das reuniões de pauta, de como surgem as grandes sacadas da revista, mas eu lembrei direto da personagem principal do filme. Ela é muda. Sua vida é cinza. Sua vida não existe, ela é triste. Sem luz. Claro que ela vai dar uma virada. Está no filme para exemplificar os argumentos dos físicos e dos neurocientistas. Mas a mudez é um detalhe interessante. Quem me conhece até imagina por que acho interessante.
Mas não, não é porque eu falo pouco que esse detalhe me chama a atenção. Também é por isso, mas não é só por isso.
Tá bem... É por isso.
Mas é que tem muita gente que fala, fala, fala e não gera luz – seja lá o que isso signifique.
Ok, só tô desviando o assunto... :)
Resumindo bem, dá para dizer o seguinte: o filme mostra, com depoimentos/opiniões/argumentos de físicos e neurocientistas, que a realidade é uma construção mental. Vivemos o que somos capazes de imaginar, pensar e, logo, acreditar. A rigor, criamos a vida que conseguimos criar. Ou: que grande parte dos problemas é fruto de como os percebemos. Eu acho perturbador: transferir para nós mesmos a responsabilidade por nossa felicidade ou desgraça é terrível. É inaceitável, na grande maioria das vezes. Sempre buscamos explicações fora da gente. Assim o pensamento ocidental ensinou.
Na verdade, não sei o que pensar sobre o filme, que assisti há algum tempo já. Mas tenho a tendência de acreditar no que ele mostra. Acho que ele já vale só por mostrar um monte de gente nos cutucando com a possibilidade de... “Somos quem podemos ser/ Sonhos que podemos ter” - Engenheiros do Hawai, lembra?.
Eu lembrei de mencionar o filme aqui porque li uma frase no editorial da última Vida Simples. Lá pelas tantas, o Leandro, editor da revista, disse: “Porque o debate gera luz”. Ele estava falando das reuniões de pauta, de como surgem as grandes sacadas da revista, mas eu lembrei direto da personagem principal do filme. Ela é muda. Sua vida é cinza. Sua vida não existe, ela é triste. Sem luz. Claro que ela vai dar uma virada. Está no filme para exemplificar os argumentos dos físicos e dos neurocientistas. Mas a mudez é um detalhe interessante. Quem me conhece até imagina por que acho interessante.
Mas não, não é porque eu falo pouco que esse detalhe me chama a atenção. Também é por isso, mas não é só por isso.
Tá bem... É por isso.
Mas é que tem muita gente que fala, fala, fala e não gera luz – seja lá o que isso signifique.
Ok, só tô desviando o assunto... :)
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