15 junho 2008
Pelos poderes de Greyskull
A única coisa boa de se pedalar no frio e contra um vento frio é que, quando se pára, o corpo fica inteira e absurdamente quente. Inteiramente, de forma absurda, da ponta do nariz à ponta do dedão. Enquanto pedalo e sinto frio, só penso nisso, como um cachorro que deita/rola/senta/levanta/busca a bolinha pensando na recompensa. Penso naquele calor todo que me inflama... poucas coisas são capazes de fazer isso de forma tão contrastada com a temperatura que reina fora do corpo.
Acho que deve ser assim que os foguetes se sentem, se pudessem sentir algo.
É como se você tivesse a força.
Sim, a força todos temos. É como se isso fosse a prova.
*Você nunca chegou a achar meio esquisitos os braços do He-Man? Tem bolotinha de músculo demais... E o cabelo? deusdocéu... A sobrancelha prova que ele pintava o cabelo?
13 junho 2008
07 junho 2008
Kinder Ovo
É que o Fogaça não fez uma campanha muito animada com ele mesmo, e foi assim, quase sem querer, que assumiu a função. Segue lá, discretíssimo. Tem uns "Fogaça ladrão" pichados pela cidade que nos fazem lembrar quem ele é (ops, não falo sobre o 'ladrão), ou quem ele "está" momentaneamente.
Ele está prefeito, mas há quem emende um "Quem?" quando ouve falar dele e logo o associe antes à música, principalmente aquela que a gente ouve todos os anos, em alguma propaganda de TV, durante o mês de aniversário da cidade: Porto Alegre É Demais.
Ultimamente, tenho associado o Fogaça a lixeiras públicas.
Não sei se você notou, mas elas foram instaladas por toda a cidade.
Porto Alegre é demais, mas sempre foi preciso caminhar algum tempo com o lixo na mão até encontrar uma (nem sempre em bom estado). Agora não. Você olha para o lado, lá está ela (foto). A gente até estranha - e quase se lamenta que não tem um lixinho à mão para poder usar...
A "boca" fica pro lado contrário ao do ângulo da imagem, e ela tem a altura exata para os carrinhos de lixo carregados por aí pelos funcionários do DMLU. Eles chegam, empurram o carrinho contra a lixeirinha e ela gira pra dentro dele, esvaziando-se.
Mas o que eu queria dizer é que elas se parecem com os Kinder Ovo. Não o chocolate em si, mas aquela cápsula em que vem a "surpresa".
Vai dizer que não?
aiaiaiaiiiiiii
quanta "inspiração", hein, Loraine?
às vezes esse bLOg descamba de tal forma...
que nem quando fico pensando se realmente faz alguma diferença para orquestra o fato de o maestro ficar lá na frente, saracoteando as mãozinhas, aparentemente com movimentos quase iguais... Pô, tenho quase certeza que tem músico ali nem olhando pra ele! Tem uns até de olho fechado, eu acho.
quem nem quando fico pensando que houve uma época em que mulher de cabelo vermelho era só a Rita Lee... Eu sou dessa época...
Tem outras coisas desse nível, sem pé nem cabeça, que eu fico pensando e agora não me ocorrem. Na medida em que for lembrando, acrescento aqui (olha eu achando que você quer ler...).
Descambando ladeira abaixo ou não, é pra isso que o bLOg existe.
De certo modo, a minha cabeça é que é uma cápsula com surpresinha kinder ovo, né? Ou seja, nem sempre o brinquedinho que vem vale a pena.
05 junho 2008
Bom Senso - há vagas
Terça-feira, dia de ingresso promocional num shopping de Porto Alegre. Uma zona, zorra. Fila pra ingresso, fila pra pipoca, fila pro banheiro. Na minha frente, uma mulher e três crianças. O pai chega depois, ficou procurando vaga no estacionamento enquanto o resto da família se adiantava na fila, atrasados que todos já estavam para a sessão das sete. Faltavam cinco minutos. Faltavam umas 20 pessoas na frente, e o casal torcendo secretamente para que ainda tivesse ingresso.
Marido e mulher falavam sobre trivialidades, e as crianças dispersas, avoadas, conversando entre si sem se cobrarem respostas. A mulher não resiste e começa a série de avisos que se repete até a beira do balcão da bilheteria: “talvez não tenha mais ingresso, ok!?”. Não sei se era uma confirmação para o ok ou apenas distração, mas as crianças nem fizeram perguntas. A mulher avisa de novo. E de novo. Chega a vez deles.
“Ingressos para Crônicas de Nárnia, ainda tem?”, pergunta o homem. Sim, diz a atendente. O casal está de costas, mas posso imaginar o semblante de realização, alívio e ai-q-sortudos-q-somos. A alegria dura segundos.
“Quatro”, diz a atendente. Eles estão em cinco. O homem sugere que a família assista enquanto ele dá uma volta. “Nem pensar”, diz a mulher. (pausa) “Um pode ficar no meu colo”, diz ela dirigindo-se a ele, como se a decisão dependesse só deles. O homem repete a idéia em direção à atendente, que nega. O casal descreve a situação para si próprio, como que buscando, implorando veladamente a intervenção espontânea da atendente, no sentido de apontar uma solução – afinal, 3 crianças voltariam para casa decepcionadas... (ou seriam dois adultos?). A atendente fria. Finge (bem) que não está entendendo e que não tem de se envolver emocionalmente com a questão. “Esse cinema é uma bosta mesmo”, diz o homem. “Não dá mesmo?”, insiste a mulher para a atendente, que nega e ouve (e ignora) um outro “bosta de cinema”. A família se vai...
Acho que esse era um trabalho para o Bom Senso.
Custava deixar a criança assistir ao filme no colo da mãe? Custava.
Mas o Bom Senso, esse velhinho sábio e bondoso, cheio de netos, consentiria.
O problema é que o Bom Senso acaba demitido de todos os locais que atingem um status tal de evolução que precisam de regras/normas rígidas para funcionar. E regras, bem, são regras. Não têm coração. Nada de depende. Não tem “se”. A regra é clara, como diria o Arnaldo César Coelho. Tem de ser, afinal, não há Bom Sensos empregados por aí. Aí, as regras têm de existir e funcionar independentemente de pessoas. Não ligam para elas, as pessoas, e deixam tudo com cara de linha de produção...
Mas ele não tem vez. Foi demitido desses lugares faz tempo. É muito complicado e desgastante manter o Bom Senso empregado. É difícil antecipar e garantir sua decisão. Porque quer detalhes, ouvir todos os lados da questão, quer refletir, analisar o contexto...
E é desgastante principalmente porque Bom Senso só conversa e acerta ponteiros com um igual, ou seja, com o potencial Bom Senso que cada um de nós carrega.
O Bom Senso em potencial que a atendente do cinema carrega lhe cutucou por debaixo do balcão: “deixa a família entrar”.
Mas e se alguém ali atrás na fila, sem ingresso (e sem bom senso), combinasse com um estranho (com ingresso), que assistiria ao filme no colo dele? E o estranho com ingresso e sem bom senso topasse?
Por isso, a atendente segue a regra. A regra é clara, né, Arnaldo? É rasteira. "Vibrante" como uma salada de chuchu sem sal. Sem choro.
Por isso, o Bom Senso, esse senhor uma vez respeitado e outrora carregado por aí para todos os lugares, é hoje um desempregado. Nunca se sabe se ele vai encontrar interlocutores por aí para poder exercer sua função.
Obs. 1: Espero q o Bom Senso em potencial que o pai de família carrega tenha lhe puxado as orelhas depois: “bosta de cinema é meio demais, mané”.
Obs. 2: talvez eu tenha exagerado... a família podia ter chegado mais cedo e tals... se programado... mas, ai, quem faz tudo certinho aí? Ah, você faz? Então, serve de testemunha: tudo certinho não tem a menor graça e, cheio de regra assim, você nunca vai saber usar o Bom Senso quando precisar de um.
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(nada de bom senso, e é melhor esquecer as regras também...)