04 novembro 2007

Tropa de Elite e Cartola

Uma semana depois de ver Tropa de Elite, assisti hoje ao filme Cartola. Mais ou menos assim:
fui de...
"Tropa de elite/osso duro de roer
pega um/ pega geral
ainda vai pegar você"

para...
"Chega de demanda/Chega!
Com este time temos que ganhar/Somos da Estação Primeira
Salve o Morro da Mangueira"


Fiquei pensando em como o morro carioca pode render diversas versões. Ou ao menos duas, bem diferentes. E ainda que tão distintos e distantes, os personagens principais de um filme e de outro se assemelham: você não vira filme, não faz história, não muda o curso das coisas, não recria o mundo a sua volta se optar por seguir as regras.
É verdade que não me parece ser uma opção. Tem muita gente que segue as regras porque não sabe fazer outra coisa, não vê outra opção, nem cogita, por absoluta incapacidade criativa. Assim como tem gente que só consegue burlar a regra, fazer do seu jeito, porque não sabe agir de outra forma. É essa gente, com esse impulso despretensioso, muitas vezes torto, passível de críticas, mas genuíno, verdadeiro, é essa gente que vira filme, vira história, faz o mundo. Pro bem ou pro mal. Seguir uma verdade muito íntima cria arte, como em Cartola. Seguir uma verdade muito íntima cria heróis e/ou anti-heróis, como em Tropa de Elite. E, veja bem, eu não tô falando de personagens felizes. "Ser" a história não tem nada a ver com viver a felicidade. Como diz Peter Parker, o Homem Aranha: "com grandes poderes, vêm grandes responsabilidades".

***
Bem, mas os filmes...
Em Tropa de Elite, não tô nem aí sobre a discussão de quem financia o tráfico, se os boyzinhos da zona sul ou o "sistema". O que gosto no filme são os exemplos de que as grandes decisões da vida só são tomadas quando algo mexe profundamente com a emoção da gente. E isso vale pro favelado e pro boyzinho. Somos incapazes de grandes atos se não formos empurrados para eles com a força da dor ou do amor.
Gosto do clima documentário tb: todos parecem não saber que estão sendo filmados.


Cartola é um filme sobre gente simples, desapegada, sobre as quais todo mundo adora ouvir histórias, saber que existiram, mas ficaria meio assim se fossem da própria família à época. Sacumé? Carlos Cachaça, por exemplo, cujo 'sobrenome' diz muito: saía para fazer feira e voltava três dias depois. Um filme de boêmios. Teriam eles lugar no mundo de hoje? Enquadrados como? Aliás, os 'nomes' e sobrenomes dizem muito sobre como levavam a vida: Heitor dos Prazeres, Nelson do Cavaquinho, Paulinho da Viola, Cai n'água, Madame Satã... O depoimento do Pelão - que produziu um disco do Cartola - e a descrição de como o samba nascia nas quadras das escolas são pelos menos dois dos trechos que valem o filme.

Um comentário:

Bia disse...

"Somos incapazes de grandes atos se não formos empurrados para eles com a força da dor ou do amor." Essa eu vou roubar.

Bem juntinhas

Bem juntinhas
eu e a Búio