Os que a gente mesmo protagoniza e os que a gente, olha que privilégio, testemunha. Os que a gente protagoniza como se estivéssemos sendo assistidos, igual a Show de Truman. Como se tivesse alguém torcendo, nos acompanhando... Que nos vê como a mocinha, e o outro como o mocinho, e se contorce todo no sofá quando vê que a mocinha entrou por uma porta, e o mocinho saiu pela outra, e eles não se encontraram...
Para testemunhar, não precisa nem ser real. Falo dos encontros e desencontros que a gente tem a oportunidade de criar mentalmente, voluntariamente, sem que tenham ocorrido de fato, no plano físico. É uma novelinha só nossa. Eu tenho uma surgida há pouco, que poderia se chamar O tipógrafo e o piloto. Eles existem juntos só na minha cabeça, porque não se conhecem nem se encontraram por acaso.
O jornalismo me fez encontrar muita gente, muitos jeitos de viver. E, em alguma medida, do casal de namorados na procissão de Navegantes ao presidente da Intel no Brasil (só para citar duas experiências de reportagem bem distintas), todos falaram uma coisa ou outra que me fez questionar o meu jeito de viver. Foi para fazer uma matéria para a Grafia que encontrei esses dias o seu Salomão. O tipógrafo. Tem 78 anos e trabalha na mesma atividade desde os 9 anos, quando ajudava o pai, também dono de gráfica. Te recebe de jaleco manchado de tinta e manguitos protegendo a roupa. No que se refere à impressão, seu Salomão parou no tempo. Parou há 30 anos. Tem máquinas do século passado. Ativas! A tipografia é a mãe da chamada comunicação em massa. Foi Gutemberg que, ao criar os tipos móveis, inventou a impressão em série, a cópia, os livros, tudo enfim. (Para saber mais sobre isso, vou pôr em breve o link da reportagem aqui).
Salomão sabe que parou no tempo. Salomão não é rico. Mas Salomão te recebe com um semblante sereno, algo sorridente, e fala das máquinas, da gaveta de tipos móveis, fala da sua gráfica com um brilho no olho. Eu e meus amigos jornalistas que também participavam da entrevista fizemos perguntas sobre o mercado, sobre sua decisão de não evoluir, renovar... Nossa pergunta se esvaziava. Ele sorria, e nos desarmava. Não se tratava de decisão nenhuma. “Eu apenas fiz na minha vida o que eu sabia fazer”. E gostava de fazer, eu acrescentaria.
Dificilmente encontrarei seu Salomão ou o amigo da minha amiga de novo... Então, vou ter de entrar nessa novelinha pra achar as respostas. Não dá mesmo para ficar a vida toda no sofá assistindo novelinhas, né? (Tomara que tenha alguém torcendo por mim, de seu sofá, igual Show de Truman!!!)
Ontem, 10 anos depois de ler o livro, assisti ao filme Na Natureza Selvagem. O livro é arrasador. Não se trata de concordar com o que o cara (Cris/Alex) fez, mas concordar e se emocionar com o porquê ele fez. Acredito na razão de suas atitudes, por isso o livro foi uma rasteira. Muita gente acredita – até seu Salomão e o amigo da minha amiga, mesmo que não saibam, eu acho.
Isso não significa que vamos todos para o Alaska, viver dentro da natureza selvagem. Mas que todos temos um Alaska íntimo e particular ao qual queremos ou devíamos chegar, ah, isso sim. O cara chegou fisicamente ao Alaska um ano e meio depois de jogar tudo para o alto. Mas já se encontrava lá (de coração e alma) desde o primeiro dia que pôs o pé na estrada. Por isso, encantou todo mundo que encontrou no caminho.
Poucos dias depois de o Cris morrer, caçadores o encontraram no ônibus onde viveu absolutamente sozinho e sem comunicação. Ele tinha tentado voltar, não conseguiu e morreu de inanição. Foi coisa de dias. Encontros e desencontros.
obs.: adorei a cena com a maçã, no filme. Cuida porque é rápida.
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