O que inclui os outros, claro, hahaha...
Falando sério: tem coisas que é mesmo só vc e vc durante uma prova. Por mais que se tente explicar em texto, nem sempre conseguimos detalhar o que são elas. E essas coisas validam uma prova independentemente do resultado.
Fiz domingo meu primeiro triatlo em água aberta. A estréia denuncia minha panguice. Quanto mais panga se é, mais se acha que tem coisa pra contar. E coisa pra contar em triatlo, entenda-se, é coisa relacionada a dificuldades. Vc nunca, ou dificilmente, verá um triatleta descrevendo para outro sobre como foi fácil tal prova. Fácil não tem a menor graça. Se foi fácil, aliás, esquece: fica quietinho, porque você não tem nada pra contar.
Quando se é panga, no entanto, tudo é difícil. Mas... nada desse tudo surpreende ninguém. :D
Pensemos no treinador. A gente compete também para dar respostas a ele. Afinal, se planilha fosse só aquele festival de A1, A2, A3, A4, todo mundo usava programa de computador pra fazer. Não precisaria de alguém te treinando. Mas há uma pessoa ali, apostando algo em vc. Então, você em alguma medida quer surpreendê-lo, quer contar algo significativo depois da prova. Mas sendo ele um triatleta experiente, fica difícil. Não adianta dizer que levou uma pesada na cara e nadou com um olho só durante a natação inteira. Não adianta dizer que o homem da faca te pegou na primeira volta do ciclismo e que vc mandava as pernas girarem e elas ignoravam solenemente. Não adianta dizer que no primeiro retorno da corrida sentiu algo estranho na nádega esquerda (ops, "algo estranho na nádega esquerda", Loraine? explica isso melhor...). Não adianta, ele não vai se surpreender, porque já sentiu coisas muito mais intensas e variadas do que seu pobre repertório panga de primeira viagem.
Meu treinador até tenta, paciente que é, voltar no tempo e se identificar com o que tô dizendo, se colocar no meu lugar. Me ouve. Fica sério, atento. Mas eu noto que no fundo ele não achou nada demais no relato de minhas "dificuldades". Aliás, depois que passa, nem eu mesma acho. Troço estranho esse, mas eu realmente esqueço do que parecia ser o maior desconforto do mundo. Daí sou obrigada a ouvir do treinador no outro dia: "ah, então tu não deu tudo de ti".
Caramba...
Uma queda na transição bike/corrida, por exemplo. Eu vou ter que caprichar muito na minha (DEUSOLIVRE, TOC-TOC-TOC NA MADEIRA; esse trecho do post é apenas uma licença prosística, mas enfim...)... Vou ter de caprichar muito numa queda dessas para impressionar meu treinador. Porque na última prova ele levou um tombo ES-PE-TA-CU-LAR. Então, levantou-se e continuou correndo. Corte no pé e sei lá mais onde, meia nádega de fora por causa do rasgo na queda, todo errado, mas firme na passada. Não contente em continuar a prova todo estoporado, venceu. É. Venceu!
Não disse? É difícil a minha vida de panga...
Mas é verdade também que eu consegui impressionar o meu treinador. Num sonho.
Duas noites antes da prova (porque na noite anterior à prova eu não ia conseguir dormir mesmo, então meu sonho se antecipou), sonhei que tinha ido pra competição sem... a sapatilha? Não. Sonhei que tinha esquecido o tênis? Não. Sonhei que não achava a bike na transição? Não. Sonhei que tinha furado o pneu? Não.
Eu sonhei que tinha esquecido de levar a bike pra prova.
Nessa hora, no sonho, eu consegui surpreender meu treinador e todo mundo.
obs.: eu não acho que eu seja triatleta. Treinar as 3 modalidades e experimentar duas provas não me fazem uma triatleta. E isso não é falsa modéstia. Sou meio louquinha e tenho realmente dificuldades para afirmar coisas a meu respeito. É como se, ao anunciar uma certeza, ela em seguida estourasse no ar como bolha de sabão. Mas isso é tema pra outro post. Mas sim eu queria ser uma triatleta um dia. Sonho de panga.
5 comentários:
Tudo que me ocorre comentar sobre seu post só poderei fazer ao vivo. Bem, nem tudo... :)
A realidade é tão insubstancial quanto o tecido do sonho durante a noite, dizemos no budismo. Assim, tudo tem a qualidade de sonho. Vivemos o sonho que escolhemos sonhar. Acho que está mais que na hora de você surpreender a si mesma e assumir uma identidade de triatleta. Sonhar que é uma triatleta - e ser esse personagem na realidade de sonho.
E, como tudo é sonho, e são apenas identidades, é ótimo que você mantenha essa percepção de que no fundo não é triatleta, nem coisa nenhuma. Porque a gente se ferra quando se apega aos sonhos e às identidades.
Entendeu?
:)
O Frank caiu beeem na minha frente. Achei que ele tinha morrido. Não é muito normal essa dificuldade, mas correr com a bunda de fora é impagável. E logo ele correu bem,como sempre , de uma jeito que sempre me faz pensar: o Frank corre bonito p caralho. Mas as dificuldades, as dificuldades, Loraine, são sempre muito pessoais...e daí é aquela infinitude de Í EU! Coisa que mais se escuta depois de um triatlo.e o Cabeção: ì eu que corri com a bunda de fora!
Loraine....
Legal seu post...
Acho que todos nós pangas nos identifivamos, mas o mais legal foi.....
"ESTAVAMOS LÁ, FIZEMOS PARTE DESTA FESTA, OU MELHOR, ERAMOS A FESTA, Á PROVA DE QUE A PROVA PODE SER SUPERADA"....
Parabéns e que venham ás próximas.....
Assim teremos mais estórias....
Obrigada, Deco! Claro, a festa foi bacana, e definitivamente eu queria estar nela! :)
Lucia, nao me confunde! heheh
To brincando, eu acho que entendi sim. (tah, mas falamos mais ao vivo ;)
Lucas!!!!
Eu vi tu comentando com ele o tombo que presenciou. Danada essa corrida do Frank, neh? com aquelas meinhas que ele inventou agora heheheh
Mas a bunda... bom, eu disse pra ele ficar tranquilo porque bunda é tudo igual :)
Se bem que, licença Carol, a do Frank é bonitinha hein?
urruuuu
Como já disse hoje pra você:
KINDER-OVO-WOMAN, SAI DA CASCA!!!
E em breve envio a planilha do treinamento em desenvoltura, hehehe...
Acho que vou aproveitar o lance do seu treinador de triatlo e colocar correr de bunda de fora entre os exercícios.
:)
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