21 abril 2009

Inspirações

Tem umas histórias tão bonitas que acontecem comigo... e eu ainda não posso contar. As pessoas não entenderiam. E por "culpa" minha. Eu tenho de saber como contar, para que elas entendam. Um dia eu vou saber, tenho certeza.
É cansativo e frustrante escrever e não ser entendido e, se alguém não entendeu seu texto, a culpa é sua - ensinam as redações de jornal. Quase sempre. Falando em jornalismo, para quem gosta da coisa, sugiro acompanhar o Minueto, "linkado" aqui à esquerda. O Rodrigo ganhou uma bolsa de estudos em um jornal americano. É verdade que do curso, do curso mesmo, ele não contou muito ainda... Vai ver por isso os post estão bons! hahah, Que implicância a minha (com o jornalismo, não com o Rodrigo, ok?).

Desde que comecei a fazer textos para uma revista da Souza Cruz, duas coisas me chamam a atenção. Uma macrocoisa e uma microcoisa.
O contexto macro. A Souza Cruz impressiona por sua excelência. Ver de perto o que uma empresa com mais de cem anos consegue fazer, o que ela tem, sua capacidade de refinamento e de antecipação renova a minha confiança no trabalho. Na capacidade que o homem tem de mudar o meio, transformá-lo e, em última instância, de fazer o mundo girar. É verdade que em seguida eu lembro que tudo isso, toda essa máquina de esforço intelectual, braçal, energético, inventivo é, no final das contas, para produzir cigarro... e aí meu coração aperta. Voltei há pouco de uma visita ao centro de pesquisa e melhoramento da empresa, em Rio Negro (PR). Achei tudo muito lindo e empolgante (até porque é impossível ficar indiferente à dedicação e à seriedade dos que contam pra mim o que fazem ali - todos devidamente e orgulhosamente vestidos com uma camisa social que exibe o emblema Souza Cruz), mas tive outra vez vontade de dizer: "Cara, é tudo lindo e impressionante, mas, tchê, a Souza Cruz está na contramão da história, vocês não percebem?". Depois penso, esperançosamente, que talvez sejam as grandes empresas do segmento, as que apostam tanto nesse negócio, talvez sejam elas as únicas entidades capazes de combater (evitar?) os malefícios do produto final. Porque todo problema traz em si a solução.

O microcosmo. A outra coisa que me impressiona desde que comecei a viajar pelo interior dos Estados do RS, SC e PR, para fazer a revista, é a vida dos pequenos produtores. É verdade que, sendo uma revista da empresa, dificilmente vou entrevistar um produtor insatisfeito com a parceria. São todos muito realizados e agradecidos. A maioria começou com nada. E quando eu digo nada, você pode pensar em um galpão de chão batido, sem luz ou sem cama pros filhos, que quase sempre são mais de um. (Embora seja uma realidade difícil..., quando não se tem nada e surge UMA oportunidade, me parece mais fácil do que se ter o bastante e muitas oportunidades. Vc não vacila. Diante muitas opções, é mais demorado sair do lugar, seguir em frente. O nada objetiva a coisa. Eu não disse que o problema pode trazer a solução? - mas esse não é o tema do post.) Então, os anos passam, e eu encontro esses produtores que começaram com nada confortavelmente instalados numa boa casa de alvenaria, com carro na garagem, netos escolarizados, na universidade (um orgulho para eles), tecnologia no manuseio da lavoura e invariavelmente um florido e bem-cuidado jardim na frente de casa. Esse jardim é muito simbólico.
Quem o fez e cuida? As mulheres da casa. Elas te recebem serenamente, sem atropelos, de cantinho, observadoras e atentas. Parecem se contentar quando eu elogio o jardim (mas elas mereciam muito mais do que isso). Na conversa que começa com os homens, percebo: na trajetória de progresso da família, por trás do produtor bem-sucedido, e eu sempre me emociono ao constatar mais uma vez isso, como foi agora em Itaiópolis (SC), há sempre uma mulher de muita força. Muita - tanta, que me soa pouco dizer apenas "muita". Os orientadores agrícolas da Souza Cruz (agentes que lidam diretamente com os produtores) confirmam em conversas comigo: as mulheres são fundamentais para a estruturação daqueles homens e famílias.

Ainda que dessa constatação se desprendam coisas que eu não sei responder - como, por exemplo: elas foram ou são felizes? são realizadas como mulheres? amam e respeitam esses homens? são amadas e respeitadas por eles? têm alguma fraqueza emocional ou de caráter? estão satisfeitas com o que fazem e vida que levam? tiveram outras opções? (de novo a reflexão sobre a facilidade de baixar a cabeça e fazer o que precisa ser feito sem dramas ou devaneios quando não se tem outra oportunidade para questionar nosso íntimo) - ainda assim nada impede que a força delas me inspire mais do que a excelência da Souza Cruz. Tomara que eu consiga dizer isso para elas de algum modo, algum dia.

Um comentário:

Srta. PENÉLOPE disse...

Vc deveria mandar esse textos a elas, pois muitos de nós, não sabemos a real dimensão de nossa existência perante as pessoas a nossa volta. (descobri isso no hospital)
Necessitamos de trocas afetivas, como essa sua.
bj
mana

Bem juntinhas

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eu e a Búio