Com um tombo, já na volta pro clube, sem sapatilha, na calçada em frente à entrada. Bum! Os dois joelhos no chão, meio que por cima da bicicleta. Eu vinha tentando fazer algo que ainda não sei, como se pode notar. Vinha tentando descer da bike com ela em movimento. Cruzei a perna esquerda por trás e joguei um pouco a bike pro mesmo lado quando já tinha as duas pernas juntas, pé direito sobre a sapatilha e esquerdo ali pertinho. Estava conseguindo! Milésimos de segundos de secreta euforia. Eis que vem um casal, saindo do restaurante e cruza minha frente. Depois disso, só lembro que já me levantava do chão. Toda lanhada e suja. O que me fez decidir limpar a bike. Porque basta cair, não preciso ficar cheia de graxa, neh?
Depois, fiquei pensando... A quantos centímetros meu pé esquerdo estava do chão? Poucos, possivelmente. E o direito, livre da sapatilha? Também! Por que caí, então?
Na verdade, eu caí antes de cair. Eu me entreguei quando vi que tinha uma desculpa para cair, o casal. Porque no fundo eu estava duvidando de que conseguiria.
Psicologia barata? Pode ser... Mas ainda assim dá o que pensar.
Lembro que, no curso de educação física, eu vivia caindo nas aulas de ginástica olímpica. Era uma das práticas mais difíceis e tensas para mim. Uma vez, no final da aula, o professor me chamou num canto e disse (eu já contei isso aqui? Não lembro... é a idade.): "Loraine, sabe por que tu cai? Porque tu não confia em ti".
Bah, aquilo valeu por anos de terapia. Tanto que nunca esqueci, nem vou, provavelmente.
Depois de uma semana cocô de treinos, dos quais só se salvou a corrida, o tombo me ajojou. Me encolheu. "Tu pensa demais, Lo", diria meu treinador. Ele só não disse porque não contei nada ainda... rsrs. Hoje, recebemos todos da equipe um email dele. Contava da prova que fez em Lima, no Peru. E ver o entusiasmo dele diante a adversidade meio que me envergonhou. Não havia mais lugar pro meu desânimo - coitado, que eu já vinha brigando com ele o fim de semana inteiro.
Daí fiquei pensando na força que as pessoas têm na vida das outras pelo simples fato de compartilhá-la, de conviverem umas com as outras. É claro que há aquelas que não agregam nada na tua vida, mas tem tantas outras que fazem diferença. Pra ficar nessa área de treinos, tem ainda o Sargento, que gosto de saber que está por perto quando vou competir. Mas falo em geral. Lembrei de um advogado pra quem faço alguns textos. Ele é tão pró-ativo, tão inquieto e vibrante que uma reunião a cada 10 dias com ele deveria ser recomendada pelo Ministério da Saúde. Ele te liga na tomada.
Tenho uma amiga que, embora tão indecisa como eu às vezes, consegue sempre me ajudar, lembrar quem eu sou, o que já fiz, do que sou capaz. "Não te mixa", ela diz. E funciona. Outros amigos e amigas "me enquadram" quando a coisa parece desandar. Outros são apenas conhecidos, não são íntimos, mas também provocam esse clique. E não há nada formal, não há discurso nem fórmulas. É apenas energia mesmo.
Conseguir estabelecer essas conexões é muito legal. Não é o que chamam de viver?
Como eu começo uma nova semana de treinos? Renovada. Pensar sobre isso e escrever me emocionou. E deixar a lágrima cair sempre me renova.
ps.: será que eu deveria ter cruzado a perna direita e não a esquerda?
3 comentários:
tens que tentar fazer isso, em uma transição e não na rua( em frente ao clube) que é tudo apertado e com muita gente saindo e entrando ao mesmo tempo...boa semana de treinos..e te anima guria e não pensa demais, vai lá e faz.Bj
todomundocaiotempotodo...só que não conta.
Na frente do restaurante tb é foda!
Beijo
Pretto
me emocionei!!!!...bj
ps:espero também fazer parte destas pessoas q fazem diferença pra vc, pq vc FAZ MUITA DIFERENÇA NA MINHA VIDA...toda a vez q caiu ou preciso passar por um obstáculo é vc o meu cabo impulsionador em minha mente...(tipo assim: como será q minha duda pensaria em chegar lá nessa situação???daí me levanto e vou...simples assim.)bj
te amo!
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