20 março 2006

Angústia (ânsia de rir)

Tenho um desafio pessoal: não me levar a sério. Esse blog é parte desse plano algo iconoclasta. É por isso que ponho aqui o que invento, para tirar do pensamento a solenidade pesada que parece vir de fábrica. Às vezes, demora um pouco para eu conseguir rir de mim. E tenho respeitado esse tempo.
O texto a seguir, por exemplo, não é de hoje ou do fim de semana passado. Recente é a frouxidão de seu ar solene. Embora reconheça e respeite os sentimentos que o provocaram, agora posso rir dele e de sua provável breguice. Posso mais: posso submetê-lo ao seu riso, leitor. E é assim que ele e os sentimentos que o provocaram ficam ainda mais legítimos.
Ainda assim, ainda que tente convencê-lo, leitor, de uma força que nem eu acredito existir neste texto, a razão de ele estar aqui é bem outra: eu precisava voltar ao blog. Precisava. De qlq jeito. Porque se ele é parte de um plano algo iconoclasta e já fazia tempos que não escrevia aqui, é possível imaginar o quanto tenho me levado a sério. Chega. Ao texto (risível, por favor; comentários debochados, plis):


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Pode ser por causa do sol que não veio e dos pingos de chuva que não secam no vidro da janela.
Pode ser por causa do dia que insiste nos ingredientes de inverno apesar de ser um domingo de verão.
Pode ser porque é, enfim, domingo.
Pode ser porque não dormi muito bem e não tomei café da manhã.
Pode ser porque o restaurante do almoço mudou de endereço, e uma fila enorme me separou da segunda opção.
Pode ser porque de nada adiantou sair corajosa, indiferente à chuva, pois ruas e avenidas estavam vazias e eu voltei sem o que o silêncio da minha casa mandou buscar.
Pode ser porque nenhum amigo ligou. Nem um irmão. Nem a mãe.
Nem a mãe.
Pode ser porque, quando tentei eu ligar, o primeiro telefone deu ocupado.
Pode ser porque as horas não passam, e o pensamento parece exausto de ir e voltar pelo mesmo caminho.
Ok, pode ser por tudo isso. Às vezes os dias avançam e encontram a noite assim mesmo: meio que desajeitados, apesar de toda a vontade de acertar.
Mas a questão é que há outras possibilidades.
Pode ser porque ele ficou quieto e eu falei demais, porque ele esperou eu falar justamente quando resolvi calar. Então, pode ser pelo que dissemos e não dissemos um ao outro. E pode ser, principalmente, pelo que deixamos de fazer juntos ocupados que estávamos buscando palavras ou tentando acertar o momento ideal para aquele silêncio eloqüente.
Pode ser simplesmente porque tinha de ser assim – e quase consigo suspirar de alívio.
Quase:
- Por que, então, está tão difícil me comportar como quem realmente acredita que as coisas são como têm de ser?

Bem juntinhas

Bem juntinhas
eu e a Búio