26 abril 2009

Empurrão

Eu gosto de correr, mas uma competição envolvendo apenas corrida não me dá frio na barriga como no triathlon. Então, eu insisto no triathlon. "Na dúvida, escolhe o que te provoca frio na barriga", me ensinou uma amiga uma vez. Não sei se faz sentido, mas me parece mais corajoso.
Detalhe técnico: esse frio na barriga pode irradiar para um arrepio nas costas, viu? E o contrário dele é o gato embolado. Atenção, porque o gato embolado no estômago é quando tem algo errado, amargo, ruim. Arrepio é refrescante, tipo brisa do mar. É o chamado da coragem. Gato embolado é abafado, é conluio com a covardia, quando a gente se mixa, se encolhe ou é atingido pela mixaria e pelo encolhimento vindos de fora. 
Por que ambos são nessa região do corpo? Acho que pode ter a ver com os chacras localizados ali. Será que não? O gato entope o chacra, e o arrepio liga-o, ilumina-o. 
Pode acontecer, ainda, uma terceira sensação, que parece a mistura do frio na barriga com o gato embolado. Bah, daí é um trabalho para o Jack Bauer. Ou pro James Bond. Ou pra Lara Croft. Ou pro Pedro Bial. Ou pro Obama. Assim, ó: nesses casos..., sei lah, apura os 9 sentidos. E espera. Se der.   

Então, ontem, sem frio na barriga (mas também sem gato embolado, ufa), saí para 21km noturnos (foto com merchandising para o power gel). O mais legal do percurso? Quando a gente passava por trás da quadra da Imperadores do Samba, quase próximo do retorno. O som da bateria da escola de samba arrepiava os cabelinhos do braço (quase as costas tb!) e abria a passada de todo mundo. Como um grande e invisível empurrão. 
Corrida e paradinha de bateria combinam!

Post-trivial, esse. Em geral, consigo falar sobre sexo dos anjos e trivialidades enquanto rumino, nos fundos do pensamento, um assunto mais importante e significativo pra mim. Como se eu ficasse selecionando o que sai e o que não sai, na portinha que dá para varanda, onde todo mundo tem acesso. Pro palco, onde tem platéia. Fico ali, empurrando o que pode sair e se exibir e o que ainda precisa ficar nos fundos mais um pouco. No camarim. No backstage. 
Vc tem backstage?
E frio na barriga?
E gato embolado?

23 abril 2009

Pequenas felicidades

Acho que eu buscava isso há algum tempo, até que veio a oportunidade, através dos treinos. (valeu!)
Depois de um treino puxado, a gente experimenta felicidades simples, prazeres sutis facilmente perdidos no dia-a-dia corrido que nos acostumamos a entender como correto e com o qual parecemos conformados.
Eu falo da felicidade que é beber um gole d'água quando o esforço acaba. Falo do sabor, da delícia de morder uma maçã, chupar uma laranja, quando a sede já foi saciada. Do prazer da ducha forte na cabeça, nos ombros, nas costas, o olho fechado, prestando atenção na felicidade da pele. Quente no inverno, fresquinha no verão. E falo até do prato de comida, consumido para cumprir sua função primordial e básica: repor energia, literalmente.
É tudo muito simples, mas com muito mais sentido. Ao menos pra mim. E sei que pode parecer bobo ou brega escrito assim. Mas, sei lá, experimenta lá e escuta/sente se teu corpo não viverá mais intensamente essas pequenas felicidades. 

21 abril 2009

Inspirações

Tem umas histórias tão bonitas que acontecem comigo... e eu ainda não posso contar. As pessoas não entenderiam. E por "culpa" minha. Eu tenho de saber como contar, para que elas entendam. Um dia eu vou saber, tenho certeza.
É cansativo e frustrante escrever e não ser entendido e, se alguém não entendeu seu texto, a culpa é sua - ensinam as redações de jornal. Quase sempre. Falando em jornalismo, para quem gosta da coisa, sugiro acompanhar o Minueto, "linkado" aqui à esquerda. O Rodrigo ganhou uma bolsa de estudos em um jornal americano. É verdade que do curso, do curso mesmo, ele não contou muito ainda... Vai ver por isso os post estão bons! hahah, Que implicância a minha (com o jornalismo, não com o Rodrigo, ok?).

Desde que comecei a fazer textos para uma revista da Souza Cruz, duas coisas me chamam a atenção. Uma macrocoisa e uma microcoisa.
O contexto macro. A Souza Cruz impressiona por sua excelência. Ver de perto o que uma empresa com mais de cem anos consegue fazer, o que ela tem, sua capacidade de refinamento e de antecipação renova a minha confiança no trabalho. Na capacidade que o homem tem de mudar o meio, transformá-lo e, em última instância, de fazer o mundo girar. É verdade que em seguida eu lembro que tudo isso, toda essa máquina de esforço intelectual, braçal, energético, inventivo é, no final das contas, para produzir cigarro... e aí meu coração aperta. Voltei há pouco de uma visita ao centro de pesquisa e melhoramento da empresa, em Rio Negro (PR). Achei tudo muito lindo e empolgante (até porque é impossível ficar indiferente à dedicação e à seriedade dos que contam pra mim o que fazem ali - todos devidamente e orgulhosamente vestidos com uma camisa social que exibe o emblema Souza Cruz), mas tive outra vez vontade de dizer: "Cara, é tudo lindo e impressionante, mas, tchê, a Souza Cruz está na contramão da história, vocês não percebem?". Depois penso, esperançosamente, que talvez sejam as grandes empresas do segmento, as que apostam tanto nesse negócio, talvez sejam elas as únicas entidades capazes de combater (evitar?) os malefícios do produto final. Porque todo problema traz em si a solução.

O microcosmo. A outra coisa que me impressiona desde que comecei a viajar pelo interior dos Estados do RS, SC e PR, para fazer a revista, é a vida dos pequenos produtores. É verdade que, sendo uma revista da empresa, dificilmente vou entrevistar um produtor insatisfeito com a parceria. São todos muito realizados e agradecidos. A maioria começou com nada. E quando eu digo nada, você pode pensar em um galpão de chão batido, sem luz ou sem cama pros filhos, que quase sempre são mais de um. (Embora seja uma realidade difícil..., quando não se tem nada e surge UMA oportunidade, me parece mais fácil do que se ter o bastante e muitas oportunidades. Vc não vacila. Diante muitas opções, é mais demorado sair do lugar, seguir em frente. O nada objetiva a coisa. Eu não disse que o problema pode trazer a solução? - mas esse não é o tema do post.) Então, os anos passam, e eu encontro esses produtores que começaram com nada confortavelmente instalados numa boa casa de alvenaria, com carro na garagem, netos escolarizados, na universidade (um orgulho para eles), tecnologia no manuseio da lavoura e invariavelmente um florido e bem-cuidado jardim na frente de casa. Esse jardim é muito simbólico.
Quem o fez e cuida? As mulheres da casa. Elas te recebem serenamente, sem atropelos, de cantinho, observadoras e atentas. Parecem se contentar quando eu elogio o jardim (mas elas mereciam muito mais do que isso). Na conversa que começa com os homens, percebo: na trajetória de progresso da família, por trás do produtor bem-sucedido, e eu sempre me emociono ao constatar mais uma vez isso, como foi agora em Itaiópolis (SC), há sempre uma mulher de muita força. Muita - tanta, que me soa pouco dizer apenas "muita". Os orientadores agrícolas da Souza Cruz (agentes que lidam diretamente com os produtores) confirmam em conversas comigo: as mulheres são fundamentais para a estruturação daqueles homens e famílias.

Ainda que dessa constatação se desprendam coisas que eu não sei responder - como, por exemplo: elas foram ou são felizes? são realizadas como mulheres? amam e respeitam esses homens? são amadas e respeitadas por eles? têm alguma fraqueza emocional ou de caráter? estão satisfeitas com o que fazem e vida que levam? tiveram outras opções? (de novo a reflexão sobre a facilidade de baixar a cabeça e fazer o que precisa ser feito sem dramas ou devaneios quando não se tem outra oportunidade para questionar nosso íntimo) - ainda assim nada impede que a força delas me inspire mais do que a excelência da Souza Cruz. Tomara que eu consiga dizer isso para elas de algum modo, algum dia.

16 abril 2009

A vagina, a Gisele e eu

As três saíram juntas do chuveiro. Vestiam-se falantes, animadas, havia uma corrente elétrica ali, porque é isso que há quando mulheres se juntam, em qualquer idade. As três tinham idades entre, não sei, sou péssima em dizer idades, mas talvez entre 10 e 12, 13 anos. Essa variação, embora pequena em anos, pode ser gigantesca se comparados atitudes, desejos, pensamentos etc. As três conversavam daquele jeito que mulher conversa: falando todas ao mesmo tempo e se entendendo. Falando cada uma um assunto, mas o todo fazendo um certo sentido. Pra elas. Daqui a pouco, um diálogo ganhou corpo, tomou conta do ambiente, veio embaladinho bonitinho inteiro para a minha atenção. Não era bem um diálogo, vou mudar os nomes.
Menina 1 - Eu queria ter o cabelo da Julia, o rosto da Fernanda e o corpo da Débora.
Menina 2 - Eu queria ter a voz da Amanda...
Menina 3 - Eu queria ter o teu cabelo...

De certo modo, vi nelas eu. Vi nelas qualquer mulher. Tão meninas. Tão francas e (levemente) ingênuas entre si. Tão dissimuladas e (levemente) más entre si.
É, meninos, confesso: acho que, lá no fundo, lá no fundo, esse raciocínio e sentimento, essas comparações continuam existindo mesmo que o tempo passe e as idades pulem para 20, 25, 30, 35... hehe Mais ou menos como vocês, que repetem já adultos (e muito mais acintosamente) comportamentos da quarta série do Fundamental... 

Eu, por exemplo, queria ter as pernas da Gisele Bündchen. Além de lindas, me ajudariam a dar uma passada maior na corrida :D
Ah, a delícia de escrever bobagens.... Experimenta! É bom...
Mas sabe que eu tenho uma coisa em comum com a Gisele? É, tenho. Eu li numa revista. Ela não penteia o cabelo. Bingo. U-huuu.
Aliás, vale registro. Vi hoje numa outra revista mulherzinha: 
"SEXO, Tudo, tudo, tudo sobre a vagina".

Hein?
Tudo, tudo, tudo.

13 abril 2009

De Porto Alegre

Uma das coisas mais legais que fizeram em Porto Alegre nos últimos tempos é aquele estacionamento da Fundação Iberê Camargo. O estacionamento não propriamente, mas a entrada e a saída dele. Vai dizer?
Você vai por ali, costeando o Guaíba, daqui a pouco, sleptch, mergulha no asfalto, some do mapa, desaparece da via, vai pras profundezas do rio, pro porão da Beira Rio. E lá dentro? É bem baixinho, o teto fica pertinho da cabeça, e os carros, os ônibus, os motoboys, as carroças, os ciclistas... todo mundo passando por cima de ti. Pra sair, mesma coisa: zuuummm e vc emerge lá do fundão, volta pra via, de surpresa para quem está passando desavisado por ali.
A Fundação? Ah, é legal... Alvaro Siza, o arquiteto, bambambam e tal. Mas, sei lá, me pareceu apertado. Incomoda. Arte neh? Dizem que arte não tem de agradar, tem de incomodar. E o prédio é arte. Ok, fui lá faz tempo, nem o tinham acabado direito ainda.
Passo essa parte.

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A programação de TV da BusTV é uma coisa bizarra. BusTV é a TV do ônibus. Será que, se abríssemos mão da TV nas linhas, a passagem baixa de valor? Bizarro também é aquele telefone, que NINGUÉM usa. Até agora, e ele já deve estar rodando por aí há quase um ano ou mais, até agora só vi as pessoas se engancharem no fio. O pessoal tenta se segurar no... no... no.. como chamam os caninhos onde nos agarramos no ônibus?, engata um dedo no fio e atira o fone no primeiro que está pela frente. Involuntariamente, claro. Desculpa pra cá, desculpa pra lá, risinhos ou rubores e mais um tempão para acertar o fone no buraco de volta. 
Será que, se abríssemos mão do telefone e da TV, o valor da passagem diminuiria? R$ 1,50 ia ser legal.

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Ainda dentro do roteiro das bizarrices, você que não é de Porto Alegre precisa conhecer a mais nova ciclovia da cidade. Ali pertinho da Fundação Iberê. Ela vai do nada pra lugar nenhum. Tem britas nas laterais. Muito bueiros. E o piso não é antiderrapante, ele é anti-qualquer coisa. Quadriculadinho, segura o pé da gente, puxa pra baixo. Mas eu juro que me esforço pra ver ali o primeiro passo para uma cidade mais pró-vida saudável. Ao menos, para que se saiba como não fazer na próxima.

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Mas, em compensação (nem que seja só dentro desse post a compensação), correr na Beira-Rio, no fim da tarde, com o sol parecendo uma gema de ovo sumindo devagar (e, de repente, bem rápido) onde o Guaíba encontra o horizonte... bah, isso é muito bom. Muito simples e muito bom. 

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E pra combinar com esse post de amenidades, vou lá terminar de ver o Se Eu Fosse Você que está rolando na TV da minha casa, na HouseTV, ou HomeTV. O Se Eu Fosse Você 2 é bem mais, mas bem mais engraçado. É sempre curioso rever um filme. Porque você muda com o tempo, e ele não. Muda nem que seja com relação a ele, afinal, ele não vai te surpreender mais (exceto os clássicos...). E pode ter sido o próprio filme que mudou você. Eu tenho essa sensação quando estou para entrar numa sessão de cinema e vejo os outros saindo, os da sessão anterior. Me passa a sensação de que eles estão ligeiramente "superiores" a mim... hehehe, eles já viram o filme! Já passaram pela "transformação". 
Enfim.
Que vontade de sentir minha barriga doer de novo, de tanto rir... 

08 abril 2009

A lesma

Devo ter sido a única competidora a percebê-la no meio do caminho. Não era do tipo de jardim. Era robusta, vitaminada, criada no campo, uma lesma da fronteira, literalmente. Afinal, estávamos em Livramento.
Passei cinco vezes por ela. Quatro delas de bike. Eu e uns tantos outros, despencando ladeira abaixo, socando no pedal (eles), trepidando punho, braços e tronco (só eu, hein? ai, meus miolos...). A cada nova volta, eu via que ela havia resistido. Sem noção, a lesma. Se ela soubesse que passou perto de morrer tantas vezes... quantos éramos? Poucos, mas o bastante para acertá-la em cheio com um grosso pneu a qualquer momento. Mas não. Ela foi avançando, abrindo um rastro na estradinha estreita, indiferente ao cross triathlon. Na quinta vez que passei por ela, agora correndo, constatei: ela havia conseguido, já se aproximava da margem oposta da estradinha. 
Preciso explicar por que seguramente devo ter sido a única a ver a lesma e acompanhar sua aventura inconsciente? Ai, bem-vindo leitor, te puxa, vai. Não seja lesminha das idéias.

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O treino de pista me surpreendeu hoje. 
Dois dias sem treinar, dormindo mal, horas em ônibus... (depois de Livramento, encarei Frederico Westphalen. Esse meu trabalho... como jornalista, às vezes me sinto um caixeiro viajante)... e com um desempenho ruim em prova pesando meus miolos, seguei a cogitar nem enfrentá-la. A pista. Queria apenas correr por aí. Pra voltar pra casinha, sabe? Me encaixar de novo.
Mas fui. Ao meio-dia, sozinha. Meu nível de irritação por não encontrar água no bebedouro junto à pista era indício de que os 6x200 e os 3x400 pré-série não tinham sido fáceis. Não foram, mas fiquei dentro do tempo pedido. Então vieram os 5 de 1km, que eu tinha de fazer pra 4'30 a 4'20.
Fiz o treino na seguinte "batida": vou fazer sem olhar pro relógio e ver no que vai dar. Girei as voltas na pista pensando em um monte de coisa e me fazendo algumas perguntas. Senti raiva, felicidade, dor, vontade de chorar e de rir. Sensações. Quando a cabeça parou de girar, vi que a pista podia ajudar minhas pernas. No sentido, digamos, bairro-centro, tinha um vento firme. Ali eu me soltava, e o esforço foi (ao menos psicologicamente) reduzido pela metade, já que num lado da pista eu tinha esse empurrãozinho. 4'20, 4'20 e 4'20 os três primeiros 1km.
Quando finalizava o terceiro, pensei: "eu posso ir embora agora. Posso. Claro. Ninguém vai me impedir, ninguém vai me prender, xingar, bater em mim, nem ficar de mal". Mas o intervalo... ah, o intervalo... A gente termina o tiro pensando "vou parar agora, chega dessa porcaria-dessa merda-dessa pista-o-que-adianta-se-na-prova-não-faço-esse-tempo". Aí, vem o intervalo. O coração vai acalmando, acalmando, acalmando... É tão bom quando o coração acalma, neh? Lá no meio do intervalo, o pensamento já muda para "tah bem, vou fazer só mais esse". "Só mais esse". 
O quarto 1km pesou a perna. Lembrei que podia ir até 4'30, ainda não tinha usado essa "vida" hehe. Ficou em 27". Usei. E no intervalo pro quinto, já nem estava mais irritada com a falta de água no bebedouro. Outro 4'20. Tchau, pista. Preciso de água.
Na volta pro clube, no trote, fiquei pensando se todas as sensações da pista ficavam impressas em algum lugar da gente. Ou se a gente seleciona inconscientemente as que vão ficar. Ou se não fica nada, e por isso a gente volta pra ela na semana seguinte.

Mas e a lesminha, hein!? Digo, lesmão. Se ela soubesse como se arriscou na pista...

Bem juntinhas

Bem juntinhas
eu e a Búio