30 dezembro 2008

Lô de lôca

Pra 2009.
É difícil, é bem difícil fazer e ser aquilo que acreditamos. Me refiro aquele aquilo tão único, tão só teu que parece absurdo, estranho, impossível. Aquele aquilo que tu quase não tem coragem de dizer pro espelho.
Não, nem vem. Se você acha fácil, é porque não está sendo e fazendo aquele aquilo mesmo. Não está, sinto informar-lhe.
Eu tenho tentado. De um jeito torto, desengonçada (embora finja bem, quase com classe), pegando umas caronas frau (frau de fraude, morô? é do teu tempo essa?), outras profundamente esclarecedoras. 

De 2008, agradeço todos os insights. Insight é aquela coisa que brilha dentro de você. Uma idéia que vem, nascida de uma imagem. Ela pá, explode na cabeça, faz arregalar os olhos, sorrir com eles, arrepiar as costas. E pum, some. É rapidinho, mas é um combustível e tanto.
Todo o resto que surge depois, em geral, tende a atrapalhar. E é aí que fica difícil. O insight dura o tempo exato de você saber o que precisa fazer. Mas o como fazer é que a questão. E nessa jornada, não falta gente pra atrapalhar. Você tem vontade de contar pras pessoas, mas, infelizmente, não é por mal, elas vão te atrapalhar. Poucas ajudam. Verdadeira e genuinamente ajudam.

Meu consolo nessa jornada meio solitária (ui! ón, ón, ón - sirene para alertar que texto pode estar escorregando na breguice) é olhar em volta e sentir que quem optou por uma coisa diferente da de ser e fazer o que realmente acredita, essas pessoas levam uma vida profundamente desinteressante para mim. 
Às vezes, eu me perco (ok, muitas vezes). Canso. Me sinto realmente sozinha (ón, ón, ón, ón), olho pra dentro, procurando aquilo em que realmente acredito e está tudo bagunçado, revirado, alguém passou por ali esculhambando tudo. Me desespero. E agora? 
Olho pra fora de novo, em volta, e as pessoas que desistiram de tentar continuam me parecendo profundamente desinteressantes. Não quero ser como elas. Então, volto a olhar pra dentro e tento achar por onde começar a arrumar a bagunça. Porque o que eu realmente acredito está ali. Bem bagunçado, mas está. Na maior parte das vezes desses momentos, eu não sei o que fazer e o que ser. Eu só sei o que eu não quero fazer e o que eu não quero ser. E é a esse começo que eu volto sempre.

Pra 2009, meu maior desejo é conseguir compreender e aceitar que meu maior desejo precisa ser esquecido. Esquecido não é bem o termo. Que ele precisa ir. Ganhar o mundo. Seguir em frente. Pra poder dar frutos. Ele precisa ir, ir, ir até bater nas paredes do Universo e voltar. Sim, é isso. Sabe quando dizem que o mundo gira, que as coisas voltam e tal? Não é porque o mundo gira. As coisas voltam porque batem nas paredes do Universo, lá no fundo, na parede que dá para o quintal do Universo, batem lá e voltam. Como é muito longe, o mundo gira para nos distrair enquanto isso. 

Ón, ón, ón, ón...

O outro meu maior desejo é, conseguindo ser e fazer aquilo em que realmente acredito, contar tudo, timtim por timtim, quando puder. Sem medo. Sei de gente que conseguiu ser e fazer o que acredita, mas não conta como. Prendeu o segredo num cofre. Com medo que lhe roubem o encanto. Ou faz de conta que não aconteceu nada demais em sua vida. Disfarça.  
Quem não conta é verdade que se protege (e pode ter lá seus motivos pra isso), mas impede os outros de acreditar que dá. De confiar que dá. E tem vezes que tudo o que a gente precisa é ouvir do treinador que vai dar sim.
 
Ón, ón, ón 
(tah, péraí que eu vou tentar dar uma melhorada nesse texto)

Eu estava pensando esses dias que a arte, que toda manifestação artística, antecipa estados de consciência. É assim desde que o mundo é mundo. Os artistas, com seus insights, suas excentricidades e suas obras, esses artistas foram incompreendidos em suas épocas justamente por isso. Ainda que refletindo características do mundo que habitavam, suas obras traziam algo de um mundo que não existia, que viria a ser. Por isso, a incompreensão dos outros. (também não sei se a arte antecipa o mundo do futuro, como se ele já existisse, ou se ela direciona as pessoas a construírem esse mundo aos moldes do que exibe... iiiiiiiiiiiiihhh)
Até aí, tudo bem? Me acompanhou? Não falei nada de novo, neh?

Então, eu estava pensando sobre o que significa a rede mundial de computadores na nossa vida. A Internet. E eu acho que ela é arte. O que ela é e o que fazemos com ela é a criação artística do homem do nosso tempo. Passo seguinte: o que ela está nos dizendo? O que ela antecipa? O que ela anuncia como sendo o próximo mundo? 
Eu acho que a palavra é: compartilhar. É esse o recado, mesmo a você que não usa a Internet. A própria rede, seu funcionamento e seu sentido no mundo, é fruto de compartilhamento. Ela é compartilhar. Ela está para compartilhar, seu sentido de existência e o que a faz renovar-se em vez de envelhecer a cada dia é o compartilhar. E o que ela anuncia como forma de ser e agir do novo mundo é isso: compartilhe. É essa condição que precisaremos levar para todos os setores da nossa vida.
E, antes disso: tenha algo (valoroso) para compartilhar. Ou seja, aprenda algo verdadeiramente. (mas como saber o que terá valor no futuro?)
Pode parecer, mas eu não sei se é fácil isso. 
A gente precisa de muita humildade para aprender as coisas. Mas de N vezes mais humildade para compartilhar o que aprendeu/entendeu.

***

Enquanto isso, na Sala de Justiça....
Fala sério que eu vou ter de reaprender a acentuar as palavras, colocar hífen etc etc etc?
E aqueles dias todos que fiquei estudando aquelas regras de acentuação na sétima série? Vão me roubar pra sempre aqueles dias, é isso? Já que agora mudou tudo, quem vai me devolver aqueles dias?
E me diz: que moral as escolas vão ter se abrir esse precedente? Tah liberado mudar tudo agora?
E se alguém decidir mudar a fórmula de báskara?
Ok, não faz falta, mas...
e a regra de 3? 
Tô fuuuuu, se mudarem ela.

***
Apesar de todos os meus defeitos, loucurinhas e draminhas, eu tenho humor.
Tenho. 
:)
Agora, deu.
Se "achega" aí, 2009. Tamu tudo te esperando.
Mas vê se chega direito, que ninguém é teu bobo aqui. Te orienta, que a gente tem muita coisa pra fazer junto.

26 dezembro 2008

26 de dezembro

Olhando em volta, pra ver se está tudo de pé. Essas datas de final de ano parecem meio apocalípticas. 
(Dia 2/1, essa sensação é ainda maior.)

*
Até o início da semana, ainda era noticiado algo. Brevemente, espremido entre uma notícia e outra. Agora, não ouvi mais falar do cara que atirou o sapato no Bush. A última informação que eu lembro era de que ele era mantido preso e que tinha no corpo sinais de tortura, segundo o seu irmão informou. 
O cara está preso e está sendo torturado, e isso não é mais "notícia" para a imprensa. É difícil mesmo entender todo o contexto disso, mas algo soa estranho, neh? Mostra que a notícia foi notícia porque era o Bush. Ok. Mas será que deveria ser assim? Dessa forma, a história está sendo contada na perspectiva de Bush. Contada para quem está ao lado dele, não?
E quem está ao lado dele? Tu? Eu?
Nós somos os espectadores da notícia e parecemos satisfeitos em não saber exatamente o que está acontecendo com o cara que atirou um sapato no presidente dos EUA. E sabemos o que pode acontecer quando as câmeras (e o olhar do mundo) estão longe.

*
Não tranque o cruzamento. Dê preferência a quem está na rotatória. Respeite o pedestre ao converter. Assentos reservados a idosos. Use apenas duas folhas para secar as mãos. 

Alguém nos acha muito idiotas ou é só pegadinha?

*
Depois da olhadinha, parece que está tudo normal. Ou não, como diria o Caetano Veloso.

24 dezembro 2008

Baaah, não deu pra ir ao shopping...

Passa das 10 da manhã, tô saindo pro treino na pista, fecha o tempo, cai a chuva.
No caminho até o CETE, as pessoas correm da chuva, tentam se abrigar. Eu corro pra chegar lá e fazer a série da vez de uma vez. 
Que chuva?
Encontro Pedrinho e Márcio, já voltando. "Fala, Lo!" Eu: "Como assim?". Loraine-yin queria eles por lá. Quanto mais gente mais legal. Loraine-yang: "Bóra, guria, vc não precisa de ninguém não. Tu sabe: essa vai ser a parte só tua mais legal do teu 24 de dezembro de 2008". 
Chuva e chuva.
No CETE, a gente sempre encontra alguém. Mesmo sob chuva, mesmo no dia 24 de dezembro.
Chuva e chuva.
Frank abana de longe, está no meio de uma série casca com o Roberto Lemos.
Chuva e chuva. Loraine-yang ordena: "Nem pára, já entra no treino". Loraine-yin nem teve tempo de pedir algo diferente.
Fernandão vem vindo a passos largos, está no início da série, folgado, folgado... Loraine-yin até acredita que vai ser fácil. 
Chuva e chuva.
Frank e Roberto Lemos passam voando. Quantos de 400 a 1'15, 1'11???? Deusdocéu.
O Roberto bufa, o Frank arregala os olhos. A Loraine-yang gosta. A Yin começa com aquela choramingação "o que eu tô fazendo aqui mesmo?". Loraine-yang dá risada.
Chuva e chuva.
2k trote + 1.2km trote/firme 
Chuva e chuva.
Meu café da manhã dá sinais de vida... um arroto por favor... 
Chuva e chuva.
Roberto Lemos de sunga. de sunga e boné (ok... e tênis). Frank com aquelas meias até os joelhos. Que dupla.
Eu preciso arrotar.
Chuva e chuva.
+ 4x200 + 5x400 
Arroto, finalmente.
Chuva e chuva.
Loraine-yang para Loraine-yin: "Tu tá roubando nos intervalos". Yin: "Mas é que não vai dar..." 
O Frank grita de lá: "Tá-e-aí????"
Ops. 
Vambóóóra. Falta pouco.
Chuva e chuva.
Brinco: "Eu volto amanhã e faço os 800".
Frank e Roberto riem.
Fui.
+ 3x800
Chuva e chuva.
Meu short tá caindo porque encharcado. Meus tênis nunca estiveram tão fofinhos de tão molhados.
Fernandão terminou.
Chuva e chuva.
Falta mais um de 800.
Loraine-yin toda feliz: "conseguimos". Loraine-yang: "ah pára! podia ter forçado mais".
Chegou o Guilherme.
+ 2km de trote. De volta pro clube.
Assou o meio das pernas.
Foi legal. Sempre é legal qdo termina.
Como diria o seu Serafim, feliz Natal.

23 dezembro 2008

Qual vai ser o último texto de 2008?

O mundo corporativo está destinado a morrer.
Alguém já deve ter dito ou pensado isso, mas eu quero dizer também.
O mundo corporativo vai morrer e sobreviverão apenas aqueles que não entendem de planilhas, power points, metas, follow up, gap, feedback, benchmark, target... Ou seja, sobreviverão os operários de chão de fábrica que fazem o que precisa ser feito e ponto. 

Ah, já sei, vc quer que eu convoque uma reunião e comprove a morte com planilhas, power points, matrizes etc...  Tem gente que não é do mundo corporativo mas raciocina como eles, e é esse o ponto. Esse tipo de raciocínio, postura, forma de agir se esvaziou. Quando a idéia - e aqui a gente poderia chamar de alma - morre, fica só a carcaça, o esqueleto. Vamos combinar: carcaça e esqueleto estão lá, mas já não são nada.
É a idéia, a alma, o significado da coisa que sustenta a coisa. Se você não acredita naquilo, aquilo se esvazia, a necessidade se extingue.
As coisas são antes de ser. E deixam de ser antes de desaparecer completamente.
Essencialmente.

*
Chega uma hora em que tu te dá conta que faz por uma empresa o que vc não faz pra si, nem pros amigos, nem pra família. Há zilhões de palestrantes, revistas, artigos ensinando os 10 passos para chegar lá não sei onde. Ou a receita para defender com segurança e assertividade seu projeto na reunião com o chefe. E por aí vai. Sempre que eu ouvia esse tipo de papo, eu pensava: e na vida? Quando vinham lá na redação do jornal com "temos de ser precisos","temos de ser assertivos", "temos de ser criativos", "temos de surpreender o leitor", eu pensava: "e na vida, porra? Eu quero ser criativa, precisa, assertiva e surpreendente na minha vida! Na minha!"
Eu quero estar entre as 10 mais da Loraine Corporation mesmo!

*
Acompanhei recentemente vários painéis que discutiram o futuro (?!) da comunicação, da publicidade e propaganda e tal. Eu estava lá cobrindo para uma revista. E de novo pensei em tudo isso. E amigos vos digo: só conseguiram ser tudo o que toda empresa sonha/todo chefe gostaria de ter como funcionário aqueles profissionais que são criativos, surpreendentes, precisos, inquietos e apaixonados em sua própria vida. 

*
Ok, não descobri a América. Talvez Paulo Coelho tenha escrito sobre isso até melhor do que eu. ("até", iurru!) Mas e aí? De posse dessa informação, o que você fez com ela? 
Vc consegue transpor para sua vida lições, idéias, metas que cumpre tão bem para o seu chefe?

Eu li essa lista feita pela Gringo , uma agência de publicidade bacana aí, pensando não como publicitária, claro, até porque não sou. Li a lista pensando em mim como pessoa. Com alguma ou outra adaptação (que vai depender de sua capacidade de doidice, abstração e disposição), transpor o que está dito ali para o contexto da sua vida pode ser um exercício interessante.
Afinal, como vai o seu próprio mundo corporativo? Você SA.
Se vc não fosse vc, você se acharia legal? Gostaria de ficar perto de vc? Passar a vida com você, se dedicando a você? Seguir uma carreira, cumprir expediente etc etc etc?

*
Então eu disse prum amigo: tem vezes que eu tomo decisões baseada em coisas muito sutis. 
Ele respondeu: "como diria o Belchior, não quero o que a cabeça pensa, quero o que a alma deseja. Assim, quase sempre funciona, Loraine".

(Belchior!!!!... bom, acho que tirando aquele bigode dele, não tenho nada contra, e vc?)
mas é isso: ninguém quer carcaça ou esqueleto, resumindo. 
Por isso o mundo corporativo encarcaçado vai morrer. Sua alma já se foi.
E o seu mundo corporativo, como vai?

Ufa. Escrevi. Tava precisando. Escrever me faz bem, desentope, descongestiona. 
Música rolando enquanto eu terminava esse texto: aqui. (q voz bacana tem essa mulher)

19 dezembro 2008

Vendo jipe

Teve uma época em que eu gostava de Retrospectiva. Na TV ou no jornal. Lia. Assistia tudo. Acho que duas sensações meio conflitantes explicavam esse meu gosto. Ao mesmo tempo que era confortante ver tudo o que tinha acontecido em um ano de forma tão organizadinha, distanciada, era também meio confuso. Porque a memória tem das suas. Eu me "chocava" várias vezes ao perceber que o fato X tinha acontecido tão perto (ou tão longe) do fato Y. Como é que podia? Eu tinha certeza que um deles sequer era desse ano!!!!
Sacou a viagem? Looping total.
Mas eu não gosto mais. E desconfio que não foi eu quem mudou. Foram as retrospectivas.

Faz mais ou menos meio ano que a minha impressora está avisando que a tinta vai acabar. Quanta precipitação neh? Cada um com sua noção de tempo... Quanta dedicação a mim, né? Me avisa, me avisa. Eu: "Tah, ok, imprime aí". E ela imprime. Hoje, pedi pra imprimir preto e vermelho e ela me veio com verde e amarelo. Acho que ela está fazendo o que pode. É isso aí.

Tô imprimindo um cartazete avisando que vou vender o jipe.
É, pode espalhar: está a venda. "Infelizmente", acrescentei ao cartazete.
Ok, ok, eu sei que já inventaram formas mais eficazes de anúncio do que um cartazete, verde-e-amarelo ainda por cima. (Avisar num blog, por exemplo.)
Calma, cada coisa a seu tempo.

16 dezembro 2008

Um dia de fúria

Tipo assim. É sábado à tarde e faz calor. Melhor, melhor: tarde de sábado anterior ao Natal e faz muito calor, muito. Você dentro do supermercado. Melhor: tarde quente do sábado anterior ao Natal e você dentro do Big ou do Carrefour. Agora, o detalhe ar-ra-sa-dor: no ar, músicas natalinas!
Então é isso: tarde quente do sábado anterior ao Natal, dentro do Carrefour, lah na Bento, ouvindo canções natalinas!!!!

Sabe o que pode ser o cúmulo do estresse, da correria total do dia-a-dia? É você ter de pensar/decidir naquele tempinho mirradinho que sobrou, não se imagina nem como possa ter sobrado, decidir se você mija ou toma água.

Tah, eu não tenho nada contra o Papai Noel. Tah, eu tenho sim. O problema é a relevância. Ou a falta dela. Por que as pessoas fazem tanto teatro? Só eu que sinto isso? Só eu???
Pô, gente, vamos lá! A gente pode ser e fazer mais do que isso. Vambora.

Sei não... Se essa coisa de atirar sapatos nos outros pega...

14 dezembro 2008

E vamos ver no que vai dar

Suspenderam os jardins da babilônia. A vaca foi pro brejo. O tecido deu de si. A velha subiu no telhado. A volta dos que não foram. A lua fora de curso. Água mole em pedra dura. E quando chegar a meia-noite, tem de pular sete ondas. Cada macaco no seu galho. E vamos dançar a noite inteira. O olhar 43, aquele assim. Com a faca e o queijo na mão. Não pisa na grama. Como vai você? Não tranca o cruzamento. Ommmmm. Desmarca a reunião. O cachorro com a cara no vento na janela do carro. Junta o cisco. Tira o pó. Que cor você vê? Não confunde as senhas. Tem pão velho? O copo d'água alcançado na curva. A pergunta da criança. Tira a mão daí. A noite em claro. Fecha os olhos e abre a boca. Abre os olhos e fecha as pernas. O mar de gente, o calor senegalesco, o próspero ano novo. Faz frio. Lágrimas de crocodilo. Para que pentes de pentear? Mágica e lógica. Um olhar que vale como um beijo. Um beijo que pode valer como uma transa. Uma transa que não vale um beijo seco no dorso da mão. O abraço que entendeu tudo. E ela falou que não é sempre uma questão de ganhar, mas de descobrir do que você é feito. E ele disse que crises testam convicções. E todos acharam um absurdo. Roeram o osso. Você está bem mesmo? E ele disse que não adiantava. E antes dele aquele outro disse que esperava que eu chorasse. Mais do que chorar, eu lhe revelei uma verdade. Ele gostou da surpresa. Vai chover. Sandra de Sá ou Tina Turner? www.nãotôpraninguém.com.br

O que quer dizer esse texto? Eu não sei.
Por que você leu até aqui? Não sei. O texto não tem fim. 

Não tô louca. Um texto triste não quer dizer que sou ou estou triste. Um texto engraçado/feliz não quer dizer que sou ou estou engraçada/feliz. Os textos são só textos.
É só uma vontade. Uma vontade maior, pra qual a gente solicita companhia. Como aquela frase na contracapa daquele livro do Galeano que eu não li. Uma frase que valeu por muitos livros. O garoto, embasbacado com a paisagem, pede ao pai: "Me ajuda a olhar".
É isso. 
Psss. Escuta. O tempo parou pra te esperar. Saudade do que não se ouve.

12 dezembro 2008

Sem noção

Sempre que conheço uma Duda ou um Duda, penso: isso não quer dizer que ela/ele se chame Eduarda/Eduardo. Pode ser Loraine ou Loraino.
Duda é um dos meus apelidos. De casa. Uma porção de gente me chama de Duda - a maioria dessas pessoas é da família. Sei lá por que um dia minha mãe passou a chamar de Duda e Dadá as filhas gêmeas que ela queria que fossem Juliana e Daniele e meu pai colocou Loraine e Liliane. 
Lo, Lolo, Loluz, Lori, Lola, Duda, Dudu. Tenho alguns apelidos. Mas o mais certeiro deles é até meio recente. Ganhei durante uma viagem a trabalho para a Alemanha há três anos. 
Sem-noção. É assim que me chamavam os outros jornalistas. Só porque eu perdi o vôo de ida, só porque quase fui buscar meu passaporte na pista, na porta de uma aeronave Varig, só porque não levei casacos... só porque enfim... deixa pra lá. Mal sabem eles que o melhor da viagem foi justamente perder aquele vôo e ter de chegar sozinha a Frankfurt e depois a Munique arranhando muito no inglês e sem entender nadica de alemão. 
Minha chefe na redação na época gostou das histórias que contei de lá e adotou o "apelido".
- Ô, sem-noção, vem cá - dizia ela.
Esses tempos nos encontramos na rua. Parei na sinaleira, olhei pro lado e lá estava ela, a minha ex-chefe. Eu no jeep, ela num Scenic, eu acho.
Eu: "Beeeeeeella, olha pra mim!!!"
Ela: "LORAINE! O QUE TU TÁ FAZENDO NESSE JEEP? Mas é uma sem-noção mesmo..."
Rimos as duas.
Próxima sinaleira.
Ela: "Mas me diz uma coisa, e se chover?"
Eu (o jeep não tem capota): "Se chover, molha!"
Ela (arrancando o carro): "Sem-noção!!!"

Eu gosto desse apelido. Definitivamente, eu gosto de ser sem-noção.
Eu sou.
Gente muito esperta me cansa. E tá fora de moda.

***
Ok, agora chega de posts tão assim eu. Vou olhar pra fora nos próximos. Eles serão sobre esse tudo que nos cerca. Tem tanta coisa pra fotografar no mundo. Fotografar com um texto. 
Como diz aquela música (Cowboys Espirituais? TNT? Cascaveletes? Sempre confundi todo mundo.. sem-noção neh...):
"O mundo é maior que o teu quarto", garota.


04 dezembro 2008

Vou entrar pra história

Por que ter/ler blogs?

***

É sempre assim quando encontro algum ex-colega. 
O encontrado: "E aeh, como é q tá? Que anda fazendo?"
Eu (ganhando tempo): "Eu?"
Aí, vasculho o hardware aqui, fuço ali, fuço lá, olho atrás dos móveis e dentro das gavetas e, ah, sim, encontro a resposta: "Nada!"
Então, o encontrado ou a encontrada solta um "ah" seguido de um sorrisinho monalisa, daqueles que segura algo, não imagino o q, mas segura algo que não sai. 
É quase sempre assim. Mas ontem foi diferente. E tive uma idéia. 
Adoro ter idéias. Executar é outra coisa, mas tê-las, ah, é do que mais gosto. Eu costumava dizer que o dia que eu não tinha alguma idéia lá no trabalho era como se não tivesse trabalhado.
Ao fato, pois.
Estava eu ontem esperando o TÍ Seven na parada do ônibus depois de encontrar uma amiga quando vejo, e ele me vê de volta, um ex-colega-do-bem-quase-amigo esperando também o TÍ Seven. Era perto das 10 da noite e ele fugia da Cidade Baixa, onde mora, por conta da festunça (mistura de festa + bagunça) que os colorados prometiam fazer (e fizeram). Ele mora bem em cima de um dos tantos barbotecos da Cidade Baixa. Mas a verdade verdadeira é que ele é muito, mas muito gremista. Cara do bem ele, bacana, mas que realmente perde o controle diante a alegria do adversário. Esse meu ex-colega-do-bem-quase-amigo gosta da palavra bacana tanto quanto eu. Bacana isso. Enfim. Nos vimos e lá veio ele:
- E aeh, como é que tá?
- Tudo bem!
- Bacana. Que tá fazendo?
- Eu? (... tempoooo!...) Nada. Vagabundeando.
- Que bom! - ele disse!!! - Eu sou da opinião que, se tu vagabundeia e não faz mal a ninguém, então, tá beleza. É  o teu caso neh?
(e o sorriso monalisa pulou pra minha cara) 
- É! 

Foi nesse momento que me veio a idéia! 
A de criar o movimento dos vagabundos não-violentos. Porque o problema do mundo são os vagabundos violentos! Vim pra casa pensando em tudo no ônibus! Vou convidar um amigo designer, vagabundo não-violento que ele é também, só não sabe ainda, vou convidar ele para fazer um logotipo do Movimento pela Vagabundagem sem Violência (MVV? MV2?). Então teremos uma bandeira, um site, e depois só precisa daquele papinho de-onde-viemos-pra-onde-vamos, e parará-piriri, pronto! Entrei pra história.

***

Então, me diz: onde eu despejaria essa "brilhante" idéia (pra uma quarta-feira à noite...) não fosse um blog?! E a gente escreve, escreve, escreve. Coisa séria, coisa engraçada, coisa boba, coisa importante, viaja, viaja, viaja, e cada um pensa e interpreta dum jeito. Não tem controle. É uma viagem só. Cada um prum lado, mas todo mundo xunto-incluído.
Essa é a bossa: as pessoas exporem, exibirem idéias, boas ou ruins, bregas ou brilhantes, não importa. Confiar nas conexões possíveis e impossíveis que fazemos diante os outros, e estes outros também fazem quando nos lêem. Essa é a revolução. Muitos não acham. Mas é que acreditam que revolução precisa de barulho e palco. Não precisa. O sutil tem força.

Ok, esse final era dispensável, hehehe. Me entusiasmei. Ah, mas o bLOg é meu... Vai lá cuidar do teu.





01 dezembro 2008

Sonho de panga

Há no mínimo dois resultados depois de uma prova. Aquele que confronta o seu com os dos outros e aquele que compara você a você mesmo. Qual o que importa? 
O que inclui os outros, claro, hahaha... 
Falando sério: tem coisas que é mesmo só vc e vc durante uma prova. Por mais que se tente explicar em texto, nem sempre conseguimos detalhar o que são elas. E essas coisas validam uma prova independentemente do resultado.
Fiz domingo meu primeiro triatlo em água aberta. A estréia denuncia minha panguice. Quanto mais panga se é, mais se acha que tem coisa pra contar. E coisa pra contar em triatlo, entenda-se, é coisa relacionada a dificuldades. Vc nunca, ou dificilmente, verá um triatleta descrevendo para outro sobre como foi fácil tal prova. Fácil não tem a menor graça. Se foi fácil, aliás, esquece: fica quietinho, porque você não tem nada pra contar. 
Quando se é panga, no entanto, tudo é difícil. Mas... nada desse tudo surpreende ninguém. :D
Pensemos no treinador. A gente compete também para dar respostas a ele. Afinal, se planilha fosse só aquele festival de A1, A2, A3, A4, todo mundo usava programa de computador pra fazer. Não precisaria de alguém te treinando. Mas há uma pessoa ali, apostando algo em vc. Então, você em alguma medida quer surpreendê-lo, quer contar algo significativo depois da prova. Mas sendo ele um triatleta experiente, fica difícil. Não adianta dizer que levou uma pesada na cara e nadou com um olho só durante a natação inteira. Não adianta dizer que o homem da faca te pegou na primeira volta do ciclismo e que vc mandava as pernas girarem e elas ignoravam solenemente. Não adianta dizer que no primeiro retorno da corrida sentiu algo estranho na nádega esquerda (ops, "algo estranho na nádega esquerda", Loraine? explica isso melhor...). Não adianta, ele não vai se surpreender, porque já sentiu coisas muito mais intensas e variadas do que seu pobre repertório panga de primeira viagem. 
Meu treinador até tenta, paciente que é, voltar no tempo e se identificar com o que tô dizendo, se colocar no meu lugar. Me ouve. Fica sério, atento. Mas eu noto que no fundo ele não achou nada demais no relato de minhas "dificuldades". Aliás, depois que passa, nem eu mesma acho. Troço estranho esse, mas eu realmente esqueço do que parecia ser o maior desconforto do mundo. Daí sou obrigada a ouvir do treinador no outro dia: "ah, então tu não deu tudo de ti". 
Caramba...
Uma queda na transição bike/corrida, por exemplo. Eu vou ter que caprichar muito na minha (DEUSOLIVRE, TOC-TOC-TOC NA MADEIRA; esse trecho do post é apenas uma licença prosística, mas enfim...)... Vou ter de caprichar muito numa queda dessas para impressionar meu treinador. Porque na última prova ele levou um tombo ES-PE-TA-CU-LAR. Então, levantou-se e continuou correndo. Corte no pé e sei lá mais onde, meia nádega de fora por causa do rasgo na queda, todo errado, mas firme na passada. Não contente em continuar a prova todo estoporado, venceu. É. Venceu!
Não disse? É difícil a minha vida de panga... 
Mas é verdade também que eu consegui impressionar o meu treinador. Num sonho. 
Duas noites antes da prova (porque na noite anterior  à prova eu não ia conseguir dormir mesmo, então meu sonho se antecipou), sonhei que tinha ido pra competição sem... a sapatilha? Não. Sonhei que tinha esquecido o tênis? Não. Sonhei que não achava a bike na transição? Não. Sonhei que tinha furado o pneu? Não.
Eu sonhei que tinha esquecido de levar a bike pra prova.
Nessa hora, no sonho, eu consegui surpreender meu treinador e todo mundo. 


obs.: eu não acho que eu seja triatleta. Treinar as 3 modalidades e experimentar duas provas não me fazem uma triatleta. E isso não é falsa modéstia. Sou meio louquinha e tenho realmente dificuldades para afirmar coisas a meu respeito. É como se, ao anunciar uma certeza, ela em seguida estourasse no ar como bolha de sabão. Mas isso é tema pra outro post. Mas sim eu queria ser uma triatleta um dia. Sonho de panga.

Bem juntinhas

Bem juntinhas
eu e a Búio