17 janeiro 2007

No aeroporto

Sábado de folga, dia 13. Vôo atrasado. Seqüenciamento de aeronaves. Decido achar um canto no chão para me sentar. A sala de embarque está cheia. Há pouco, eu havia recebido uma boa notícia. Meu primo iria para o mesmo lugar que eu no Rio, meu destino, se tudo desse certo. Isso significa que poderíamos nos encontrar e eu teria companhia. Mas o horário agora me preocupa e começo a pensar em um plano b. Desistir seria feio demais. Ligar para a agência de viagens e ver as possibilidades? Talvez elas não existam. É que, dependendo, pode não haver tempo para eu chegar a Niterói.

Vindo do lado direito, ouço uma história triste. Um homem e uma garota – que podia passar por sua filha, mas descubro depois que é sobrinha – avisam familiares do atraso do vôo. E começo a conhecer o motivo da viagem dos dois. Alguma jovem parente de ambos faleceu vítima de câncer. Vão para o enterro, em Curitiba – onde meu vôo faz escala. A moça falecida tinha acabado de se casar quando descobriu a doença, que agiu rápido. Ao conhecer o diagnóstico feroz, liberou o noivo/marido para partir. Ele havia deixado emprego em SP para começar nova vida ao lado dela. Começou, mas a vida se revelou curta depois do casamento. Parece que ele ficou junto dela até o fim.
Ok, me dou conta de que o mundo é bem maior do que meus problemas daquele instante, circunstanciais e tal... mas não consigo achar razoável o atraso (o problema ficaria ainda maior em Curitiba e eu perderia de vez a ida ao Rio).

Os que conversavam ao meu lado – o homem e um rapaz para quem era contada a história do falecimento precoce – agora falam sobre outra coisa. Nunca tinham se visto até então. Quanto tempo vai durar essa amizade?

Salas de espera devem ser os primórdios desse comportamento disseminado na Internet: falar com estranhos. Disparar um oi para alguém. Na rua, falamos com que não conhecemos? No mundo virtual, nos Second Life por aí, sim. Salas de bate-papo reais é o que são as salas de embarque de vôos atrasados. Ou melhor, as salas/os locais de qualquer coisa quando reúnem várias pessoas por um tempo.

Sabia que seria, de qualquer forma, um sábado diferente. Mas não há dúvidas de que não esperava tanto. Estou tensa. Nem só pelo atraso. Mas por haver uma discordância entre o que eu gostaria de fazer (voltar para casa, mas sem perder dinheiro ou a chance do teste para voluntária no Pan) e o que eu deveria fazer (tentar até o último minuto).

Tudo vale a pena se a alma não é pequena.
Acho que a minha é. Mas é bem verdade que tenho me esforçado para que ela cresça um pouco.

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