16 março 2008

A vida como ela é

Levar o cachorro para passear. Meus vizinhos fazem muito isso. E alguns têm horário certo para isso. É quando, então, os vejo. É só nessa hora que vejo a maioria. Não converso muito com eles. Ok, você, me conhecendo, não esperaria outra coisa. Mas eles também não conversam entre si. A não ser que as saídas pra calçada com cachorros coincidam. E aí eles falam entre si sobre... cachorros.

Levar o cachorro para passear não é mais a mesma coisa. Aquela coisa novela das 6, sabe? Aquela coisa filme comédia-romântica de sessão da tarde. Aquela coisa plácida, pueril, cor-de-rosa. A donzela e seu cachorrinho. Ou, a vovó e seu pequinês. Nada disso. Hoje em dia, da donzela à vovozinha, todos saem para passear com o cachorro levando um saco plástico na mão. Para juntar as fezes do bichinho.

Não sei quando isso começou, mas de uma hora para outra era muita merda em calçada. E o passeio inocente com o cachorrinho no fim da tarde ganhou espaço nas assembléias de condomínio, na conversa da hora do jantar. Era preciso fazer alguma coisa! Não dava mais para caminhar uma quadra com segurança! O risco de pisar num cocô era imenso. Em qualquer lugar, mas principalmente nos bairros residenciais. Um problemão, nossa! E aí, com o poder de persuasão que só campanhas pelo trivial (ou supérfluo) têm, todo mundo sai com a sacolinha. De uma hora para outra. Adesão total. Incrível.
Fico pensando nas mudanças domésticas ocorridas a partir disso. Os donos mais organizadinhos devem separar as sacolas certas, no tamanho ideal, para serem levadas. A guardam em lugar estratégico, junto da coleira do animal, por exemplo. Pra não esquecer. Cachorros, robotizados que são, já devem associar o chiado do saco plástico na mão do dono ao feliz passeio da manhã ou do final da tarde. E as lojas de pet? Será que já não vendem saquinhos? "Saquinho do cocô - Leve 5, Pague 4".

E fico pensando que, como em muitos momentos da vida moderna, também do novelesco passeio com o cachorrinho sumiu a tranqüilidade. Duvido que o dono sossegue seus pensamentos até que o bichinho faça o cocô. Cheira aqui, cheira ali, o cão indeciso, o dono ansioso, à espera... Parece que vai não vai... E quando tá indo, vai sair, lá vem um conhecido... "Será que o cachorro vai fazer justamente agora e eu terei de juntar na frente desse cara?", pensa o infeliz do dono. E se por acaso aquela ração nova causar uma diarréia no peludo?

Eu não sei o que pode ser mais desconcertante: se a espera pelo cocô ou se os minutos finais do passeio, em que depois de juntar a merda com as mãos envoltas no plástico fica-se segurando aquela pasta ou bisnaga quente, até achar um lixo.
Eu posso estar exagerando, mas que passear com o cachorrinho já foi mais simples e inconseqüente, ah, isso foi.


ps1.: eu desconheço a capacidade de área dos canteiros Porto Alegre afora, mas eu acho que em vez de descer com o saco plástico, tinha de ser com pá. Tira o cocô da calçada, onde as pessoas passam, e põe no canteiro. Adubo, sabe? Normal, a natureza gosta. Essa história de saquinho plástico... bah, o mundo tá muito cheio de plástico. Chega.

ps2.: lembrei de outra coisa! Lembra do "manhêêêêê, tô pronto!"???. Criança chama mãe pra limpá-la no banheiro, depois do cocô. Eu fiz isso. Até que a sacolinha/pá tem mesmo sentido nesse mundo em que cães fazem as vezes de filhos. As vezes e as fezes.

4 comentários:

vitor disse...

concordo quanto ao lance do saco plástico, que é mais plástico a poluir e tal... mas merda de cachorro na calçada é muito varzeano...
:o)

André Cruz disse...

Bah guria fiquei sabendo do teu incidente...te cuida e levanta a cabeça e segue na luta. Bjs

Deco disse...

Lo...
Naum tenho intimidade pra te chamar assim,
Fiquei sabendo do seu acidente ontem no treino de pista do CETE, puxa vida espro que vc esteja bem...
Acidentes, mesmo que não estejam planejados acontecem...
Boa recuperação e espero ver vc rodando em breve por ai...

Lo disse...

André... Deco...
Obrigada!
acho q preciso tirar carteira pra dirigir bike rsrsrs
bjs

Bem juntinhas

Bem juntinhas
eu e a Búio