27 março 2008

É a ilógica

Folheei o livro e claro que não consegui achar... Mas a frase era mais ou menos essa, dita por uma das personagens sobre a morte de alguém querido: "foi a coisa mais adulta que me aconteceu na vida até hoje". O livro é o Alta Fidelidade, do Nick Hornby. E, se minha memória não se confunde com a associação emocional que fiz, foram essa frase e esse episódio sim.

Quando li, foi um achado, porque ela deu palavras a uma sensação que tive quando meu pai morreu. Me senti adulta por estar sentindo aquela dor absurda e irrevogável. Senti uma série de coisas, na verdade, principalmente raiva do meu pai. Sim, raiva. A inocência, a pureza, a singeleza do meu raciocínio me redimem de um sentimento tão baixo. O raciocínio que justificava minha raiva era: "por que ele havia permitido que eu o amasse tanto se iria me deixar?"
Tem lógica, né? A lógica de uma criança... (embora eu já fosse bem crescidinha).

Nos últimos (ou nem tão últimos) tempos, a sensação que a frase do livro expressa bem retornou à minha vida - a reboque de uns acontecimentos e experiências que, olha q coisa, eu não mudaria se voltasse no tempo. A maioria iniciativas minhas carregadas de boa intenção. Então, há dores e sofrimentos que não se evita. Mais do que isso: que não se quer evitar.
Cadê a lógica nisso? Não tem. É a ilógica dos adultos.

***

E, pra não perder a viagem...

Caí de bike e é verdade q sinto falta de um olécrano inteiro no cotovelo direito, mas o que tá doendo mesmo é a coxa esquerda... um marimbondo me picou hoje.
vou me benzer.

Queridos Amigos é a pior minissérie de todos os tempos ou é implicância minha? É a prova de que os anos 80 foram um porre. Na verdade, ressaca de anos bem mais "minisseriáveis", os 60 e os 70. Assim ó: o melhor dos anos 80 são as balonês 20 anos depois... e olhe lá.

16 março 2008

A vida como ela é

Levar o cachorro para passear. Meus vizinhos fazem muito isso. E alguns têm horário certo para isso. É quando, então, os vejo. É só nessa hora que vejo a maioria. Não converso muito com eles. Ok, você, me conhecendo, não esperaria outra coisa. Mas eles também não conversam entre si. A não ser que as saídas pra calçada com cachorros coincidam. E aí eles falam entre si sobre... cachorros.

Levar o cachorro para passear não é mais a mesma coisa. Aquela coisa novela das 6, sabe? Aquela coisa filme comédia-romântica de sessão da tarde. Aquela coisa plácida, pueril, cor-de-rosa. A donzela e seu cachorrinho. Ou, a vovó e seu pequinês. Nada disso. Hoje em dia, da donzela à vovozinha, todos saem para passear com o cachorro levando um saco plástico na mão. Para juntar as fezes do bichinho.

Não sei quando isso começou, mas de uma hora para outra era muita merda em calçada. E o passeio inocente com o cachorrinho no fim da tarde ganhou espaço nas assembléias de condomínio, na conversa da hora do jantar. Era preciso fazer alguma coisa! Não dava mais para caminhar uma quadra com segurança! O risco de pisar num cocô era imenso. Em qualquer lugar, mas principalmente nos bairros residenciais. Um problemão, nossa! E aí, com o poder de persuasão que só campanhas pelo trivial (ou supérfluo) têm, todo mundo sai com a sacolinha. De uma hora para outra. Adesão total. Incrível.
Fico pensando nas mudanças domésticas ocorridas a partir disso. Os donos mais organizadinhos devem separar as sacolas certas, no tamanho ideal, para serem levadas. A guardam em lugar estratégico, junto da coleira do animal, por exemplo. Pra não esquecer. Cachorros, robotizados que são, já devem associar o chiado do saco plástico na mão do dono ao feliz passeio da manhã ou do final da tarde. E as lojas de pet? Será que já não vendem saquinhos? "Saquinho do cocô - Leve 5, Pague 4".

E fico pensando que, como em muitos momentos da vida moderna, também do novelesco passeio com o cachorrinho sumiu a tranqüilidade. Duvido que o dono sossegue seus pensamentos até que o bichinho faça o cocô. Cheira aqui, cheira ali, o cão indeciso, o dono ansioso, à espera... Parece que vai não vai... E quando tá indo, vai sair, lá vem um conhecido... "Será que o cachorro vai fazer justamente agora e eu terei de juntar na frente desse cara?", pensa o infeliz do dono. E se por acaso aquela ração nova causar uma diarréia no peludo?

Eu não sei o que pode ser mais desconcertante: se a espera pelo cocô ou se os minutos finais do passeio, em que depois de juntar a merda com as mãos envoltas no plástico fica-se segurando aquela pasta ou bisnaga quente, até achar um lixo.
Eu posso estar exagerando, mas que passear com o cachorrinho já foi mais simples e inconseqüente, ah, isso foi.


ps1.: eu desconheço a capacidade de área dos canteiros Porto Alegre afora, mas eu acho que em vez de descer com o saco plástico, tinha de ser com pá. Tira o cocô da calçada, onde as pessoas passam, e põe no canteiro. Adubo, sabe? Normal, a natureza gosta. Essa história de saquinho plástico... bah, o mundo tá muito cheio de plástico. Chega.

ps2.: lembrei de outra coisa! Lembra do "manhêêêêê, tô pronto!"???. Criança chama mãe pra limpá-la no banheiro, depois do cocô. Eu fiz isso. Até que a sacolinha/pá tem mesmo sentido nesse mundo em que cães fazem as vezes de filhos. As vezes e as fezes.

Bem juntinhas

Bem juntinhas
eu e a Búio