31 julho 2009

Onde nós, leitores, estamos?

Enquanto estou online, trabalhando, quero saber a todo momento "o que está rolando no mundo". Para isso, tenho acessado tanto (ou mais) a página do twitter quanto a dos portais de jornais impressos. Talvez, na maioria das vezes, acesse primeiro o twitter. Por quê? Porque me interessa primeiro o MEU mundo. E no final desse texto acho que vai dar para entender o que quero dizer com esse "meu".

Jornal impresso mesmo, só abro quando encontro um exemplar dando sopa em cima de algum balcão. E o folheio mais para passar o tempo. Corro os olhos pelas notícias e, frequentemente, duas impressões se instalam em mim.

1) Sensação de ler notícia velha. E não é sensação não: eu realmente já tinha ouvido falar daquilo, já tinha lido em algum site no dia anterior.

2) sensação de ler notícia inútil. E não é sensação não: a maioria dos textos que ocupam páginas e páginas parece atender a uma cartilha de interesses oficialesca, de uma vida antiga (nem que seja a vida de ontem, porque tudo aquilo eu já li/vi/ouvi, como disse no item acima), uma vida que não "soma". Oficialesca no sentido de que o jornal frequentemente ignora ou subestima o que tem de mais ordinário na vida das pessoas para tratar do que julga o "mundo sério". E é um erro.
(Erro que alguns jornais acham que evitam ao abrir espaço para contar histórias de pessoas comuns, mas questiono isso. Porque, para isso, dependem do talento e da sensibilidade do repórter, algo nem sempre garantido. Não raro, também, acontece de a história da pessoa ser ajustada ao modo de ser daquela publicação e não contrário, o que, evidentemente, põe quase tudo a perder). 

Não há nada mais interessante - e eu diria, também, útil, e aí vc precisa rever seu conceito de utilidade - do que a vida ordinária e comezinha das pessoas. Nós queremos saber isso. Viver é interagir com iguais e sempre será. Desejamos a identificação. "Mundo sério" nos ajuda a fazer redação pra vestibular, a ter papo em rodinhas de festas chatas... mas não nos faz sorrir, não responde dúvidas existenciais, não faz diferença lá no nosso íntimo. Ou seja: o que realmente importa na vida da gente é tão particular que é quase impossível os jornais impressos corresponderem. Precisamos achar nossa turma.

Esses dias ouvi um médico reclamar que soube muito em cima da hora sobre um espetáculo de dança que gostaria de assistir. Ele se perguntava: "onde está a informação? Leio os jornais e não sabia disso". Sua indagação me fez pensar de outra forma: onde nós, leitores, estamos?

É muito provável que a notícia do show estivesse mesmo nos jornais que ele lê, mas não com o destaque que o apreço/o gosto dele exigia. O jornal falou com ele, mas não do modo que ele esperava, logo, a notícia não foi "achada". É natural: como os jornais impressos, que falam a milhares, poderão atender aos gostos de todas as pessoas, dando destaque ao que é peculiar a cada uma delas?

Por isso, os grandes jornais ficam com o "mundo sério". O inócuo e asséptico mundo das notícias "importantes". Sim, importantes, necessárias. Para todos. E porque para todos, sem distinção, não são importantes em especial para mim. Não me tocam especialmente. Não me preenchem. De certa forma, os jornais impressos parecem nos dizer todo dia que nossos anseios mais pessoais e íntimos não são importantes. Quase nos convencem de que somos bobos.

As plataformas colaborativas online (twitter, blogs, sites de relacionamento) acenaram justamente com o contrário. Primeiro porque têm genuinamente a informalidade, o ar coloquial e a leveza sempre bem-vinda de não nos exigir como leitores. Seremos se quisermos. 

No twitter, nos blogs, nos sites pessoais... quem buscamos? Os meus, aqueles que leio, provavelmente são diferentes dos seus. O que há em comum entre a minha lista e a sua? Isso: a montamos baseados em nossos anseios mais pessoais e íntimos. Seguimos AMIGOS no twitter. Ou acessamos sites e sites pessoais de gente ou instituições com as quais nos identificamos. Há interesse mútuo entre quem escreve/dá a informação e quem a recebe. E esses papéis se alternam. A relação é horizontal, e não vertical. 

Então, respondendo àquela pergunta "onde nós, leitores, estamos?", estamos com quem gostamos, cada vez mais. Com quem temos vínculos reais, intimidade, cumplicidade. E ser leitor não é isso? Ler é intimidade e cumplicidade sim. Estamos usando o tempo com quem confiamos. Estamos onde nos sentimos entendidos, acolhidos, com quem admiramos e respeitamos - e com quem podemos interagir em tempo real e receber uma resposta que não vai passar pelo setor de atendimento ao cliente/leitor. 

O médico de quem falei nesse texto, ele soube por meio de amigos sobre o espetáculo que queria ver. Foi numa roda de amigos. Mas poderia ter sido no twitter ou numa frase de MSN. O twitter, a lista de blogs ou sites que acessamos todos os dias, com a regularidade antes dedicada aos jornais (que diriam nossos avôs e pais...), são isso: nossa roda de amigos online.

Por isso, eu escrevi o MEU lá no início desse texto: "... quero saber o que está rolando no MEU mundo". Cada vez mais, a imprensa "oficial" parece uma realidade paralela que pode até me interessar, mas não me é essencial.

Enquanto isso... nos Estados Unidos, centenários jornais impressos deixam de circular, afetados pela recessão e pela queda no número de leitores e de anunciantes. E é um cenário curioso... Lembro de ter lido que um jornal discutiu seu fechamento com os funcionários em uma grande e conturbada assembléia em tempo real pelo... twitter! 
Por aqui, para citar um exemplo local desse cenário complexo, Zero Hora inaugura nova rotativa ao mesmo tempo em que investe em blogs cada vez mais segmentados, em twitter, em facebook. Imagino a ordem expressa da diretoria de Redação para que todos os repórteres "sigam" no twitter suas fontes costumeiras...

Enquanto isso, acaba a obrigatoriedade do diploma para ser jornalista e eu entro no meu terceiro ano trabalhando com textos sem vínculo algum, muito menos com jornais/redações. Também me dou conta de que, nesse período, experimentei uma satisfação enorme ao ver textos meus publicados - satisfação muitas vezes maior do que a sentida em matérias impressas no jornal onde trabalhava. Por quê? Porque foram em revistas de que gosto, que busquei, sobre temas que me interessam, com pessoas com as quais me dou bem. 

Porque fazemos melhor quando fazemos o que gostamos, estamos com quem nos identificamos e confiamos. Quando o processo, o durante é divertido; e o resultado apenas consequência. Quando os meios é que justificam os fins. Quando se consegue ser leve e despretensioso, sem abrir mão de responsabilidade e comprometimento. 
Acho que é isso que essas plataformas colaborativas estão ensinando. Por isso, me atrevo: sobreviverão as revistas e os jornais impressos que conseguirem "imprimir"  (literalmente) isso em suas páginas. Não adianta fazer blog, blog e blog, obrigar os repórteres a seguirem fontes no twitter ou entrar no facebook se isso não for entendido.
Acho que as pessoas sentem (e estão confiando no que sentem) que não há mais tempo nem espaço para relacionamentos (quaisquer que sejam) vazios, ocos, feitos só de embalagem. Essas características estão cada vez mais fáceis de identificar e de rechaçar.

Um comentário:

Anônimo disse...

ito bom texto Loraine. Para quem continua num jornal impresso e trabalha no online tu resume tudo! Bjus querida!

Bem juntinhas

Bem juntinhas
eu e a Búio