22 outubro 2005

Da série "Não estou nada bem" (2)

Seca na Amazônia, incêndios em Portugal, enchentes na Ásia, mais um furacão-tufão-ciclone na América Central. Talvez a maior parte das pessoas permaneça alheia a essas notícias, como se fossem muito distantes, porque de fato são mesmo distantes. Mas fiquei pensando no dia em que os efeitos-da-mão-do-homem-sobre-a-natureza chegarem bem perto, interferindo sem escalas na nossa vidinha de indiferenças.
E se a chuva mudar? Se, em vez de água, caírem pingos endurecidos, metalizados, tilintando no asfalto, como pregos, furando lonas, machucando folhas ou fazendo sangrar os ombros de sem-tetos ou o dorso de cachorros de rua? Que barulho infernal seria. Que tipo de guarda-chuva seria necessário? E se as tempestades não escurecerem mais o céu, mas o contrário: deixarem-no em permanente relâmpago, como uma explosão atômica? E se os raios não vierem mais de cima para baixo, mas de baixo para cima, obrigando as pessoas a andar com proteções pára-raios nos solados ou estudando o próximo passo como se estivessem em um campo minado? E se os ventos não dobrarem mais as esquinas, mas soprarem em nossas cabeças, abrindo carecas à força, como quando ficamos sob ventiladores de teto? E se a terra não der mais frutos e ficarmos dependentes de pílulas de laboratórios americanos? E se a noite durar meses nos obrigando a viver como ursos? E se também o dia durar meses nos impedindo de adormecer como Al Pacino em Insônia?
E se não houver tempo para arrependimentos, remorsos e o derradeiro pedido de desculpas?

2 comentários:

Carlito disse...

E se o Zveiter for presidente?

mc disse...

Compartilho de suas preocupações... e fiz a mesma reflexão no meu blog. Passa lá!

Bem juntinhas

Bem juntinhas
eu e a Búio