02 novembro 2009

Irevir

Foi na quinta-feira, véspera da abertura da feira do livro, que eu cruzei a Praça da Alfândega e aquele monte de árvore, aquele monte de jacarandás tão roxos - muito mais roxos do que o roxo poderia ser - me protegeram do calor que fazia. Tudo praticamente pronto para a feira, barraquinhas recebendo livros, o vaivém de quem organizava tudo, a promessa de movimento, de comunhão de ideias, de energia mental.
Cruzei a praça devagar, vendo as pessoas que tomavam café no Margs, o atendente com o cardápio na mão me sorriu, ali na frente uma equipe de TV preparava uma matéria, logo ao lado passei pelo Santander, que recebe parte da Bienal, depois a banca de revista lotada de publicações - como as pessoas têm o que dizer neh?
E segui por entre os carros, lotações, motos, táxi... e pessoas, pessoas, pessoas. Ali na frente, a praça Montevidéu (marco zero da cidade?) em frente à "prefeitura velha", a fonte majestosa e muitos pombos, pombos, pombos... no largo Glênio Peres, uma tenda gigante abrigava um "festival de flores".
Desafiando o calor, entrei e, entre as estandes de flores, um casal mambembe se apresentava. Usava uma bicicleta de uma roda só, como de circo, a moça grávida. Pensei na vida que levavam, trabalhando ali, naquele forno. O que aquilo poderia ter a ver com flores? As palhaçadas no palco não eram tão divertidas assim, mas o senhor com jeito de morador de rua sorria o seu sorriso sem dentes. São sempre eles, os moradores de rua, que se divertem com as encenações de rua, já notou? Eles não tem nada a perder, é isso. Estão relaxados... a maioria de nós assiste a coisas desse tipo valorizando demais o nosso próprio divertimento. A moradora de rua, com jeito de "fugi da pinel", dança sozinha a música q sai da vitrolinha do tio, logo em seguida, quando saio da tenda, confirmando o que eu disse. Parece muito feliz, nem aí para quem passa, nem aí para seu vestido transparente.
Bem perto, uma vendedora tem suco de morango "natural" a 1,20... não sei não... e morangos foram naturais algum dia? E aqueles ali perfurados por um palito, envoltos no chocolate, resistem ao calor?
Então já estou dentro daquele-mundo-Mercado Público... O entra-e-sai, a mistura de ofertas, de rostos, cheiros, corpos e sons... Ali fora, o que fazem aquelas pessoas sentadas nas mesinhas de bar? Quem pode com um cachorro quente daquele tamanho sob um sol desses? O tio que fuma sozinho numa mesa na sombra parece capaz de passar o dia inteiro ali, a criança que empurra pra longe a mamadeira oferecida pela mãe cheia de sacolas. A negra gorda que espreme os seios fartos dentro de uma blusa de tecido brilhante e escasso sorri a boca vermelha para algo que o homem ao seu lado diz. Bebem cerveja Antartica no meio da tarde. O mendigo encostado na porta da padaria fala alguma besteira ou pede algum trocado, não entendo, duas meninas esticam o braço interrompendo quem vem ou vai oferecendo folhetos de uma operadora que não são pegos por ninguém... o garçom vestido de garçom como se noite fosse anota mais um pedido enquanto quatro mulheres berram para que ele vá atendê-las.
A caminho do ônibus, juro que pensei: Porto Alegre é muito legal.

Mas aí eu fui pra Florianópolis, e aqueles morros todos, aquele verde, aquele mar, aquelas praias... e, putz, eu pensei: Porto Alegre não é tão legal assim. Podia ser melhor. Mas também é verdade que, por uma questão de estilo mesmo, Floripa deixa a desejar culturalmente. Ah, sim, estereótipos, eu sei... vai ver os catarinas não têm o cérebro tão devagar assim... ok, e aí dá para dizer que Porto Alegre também não e tão desprovida assim de verdes, morros... afinal, e o badalado pôr-do-sol?
Mas te convence? Não. Questão de estilo de cidade.
O fato é que uma hora o morro-e-mar cansa e a gente quer um pouco de cérebro. E é verdade também que uma hora muito cérebro enche o saco e a gente quer um pouco de morro-e-mar. Então, tem de ir e vir. Não sei se de Porto Alegre pra Floripa, e vice-versa, mas com certeza de um lugar pra outro, seja quais forem.
Ir e vir.
Ir e vir.
Ire vir.
Ir evir.
Irevir. A melhor cidade pra morar é Irevir.

Um comentário:

Sílvia Paz disse...

Lolozinha.... sempre muito obseradora e leva a nossa mente a viajar por ai.
Ambas cidades são lindas, maravilhosas e diferentes.
Mas ainda fico com a nossa Poa que pra ela ser perfeita só falta o Guaiba ter onda e não ser poluido heheheh... seria uma sonho!!!!
BJUS!

Bem juntinhas

Bem juntinhas
eu e a Búio