10 novembro 2009

O brownie do Goethe

Gosto bastante de cobrir a Semana ARP da Comunicação. O tema me agrada: tendências em comunicação, o para-onde-vamos quando queremos comunicar com eficiência uma ideia, um conceito, num mundo tão cheio de estímulos e de pessoas ora desatentas demais, ora criterioras e exigentes demais.
Por mais que a gente saiba que, na vida real, a teoria é... só teoria.

Passo tardes e noites no bairro Moinhos de Vento, onde os painéis acontecem, principalmente no simpático Instituto Goethe (ah, essa minha simpatia genuína e gratuita pela Alemanha!). O Goethe é o lugar em que o aluno chega, passa no bar, pega uma cerveja e sobe para a sala de aula. Ou será que estou imaginando coisas? Juro que já vi essa cena lá.
(parêntese: a Uniban aprovaria??!?!? hehe fecha o parêntese)
Aliás (mais parênteses...), o bar do Goethe é uma delícia. Do ambiente a tudo o que tu consumir lá, do chopp ao café expresso. Sugiro um brownie que é criação do bar mesmo. Um bolinho com açúcar mascavo e um quadradinho de chocolate no centro. Eles aquecem um pouquinho no microondas e o chocolate molinho faz a diferença. Se preferir algo salgado, sugiro as empanadas, claro.
Por que não vou mais vezes ao bar do Goethe? Não sei... ah, sim: porque minha vida quase não passa pelo Moinhos de Vento... hmmm, que saco essa nossa mania de frequentar só os lugares por onde passamos pela frente cotidianamente...
Aliás... sobre o Moinhos de Vento... depois de uma semana por lá, acho que preciso passar umas duas tardes na Voluntários da Pátria ou na Azenha. Como contraponto. Sabe como é... muito Moinhos de Vento na cabeça a gente perde a noção...

Bom, mas o que ia dizer aqui é que uma das primeiras palestras que assisti me lembrou um assunto sobre o qual pensei em escrever uma vez.
O palestrante, diretor de uma agência de publicidade bambambam aí, veio falar sobre integração. Na agência dele, tudo foge do convencional. Pra começar, eles trabalham numa casa, com piscina, sala de estar, churrasqueira... as pessoas se espalham por lá, ficam onde querem ficar. Não raro as coisas são solucionadas durante um churrasco improvisado no final da tarde - daqueles assim, de última hora: vai ali compra carne, carvão, cerveja e era isso. E se quiserem tomar um banho de piscina enquanto pensam algum projeto que tomem... Como uma casa de verdade, tem até um gato que eles adotaram.
Não tem hierarquia de "empresa", nem pinta de escritório. E ele falou isso: que nos cartões de visita deles, os cargos são denominações bem vagas mesmo, porque isso é o que menos importa. O que vale é o que tu é afim de fazer. Então, uma hora tu vai acabar naturalmente "chefe" de um colega num projeto, que poderá ser teu "chefe" num outro projeto... As hierarquias são flutuantes, porque elas realmente não interessam, Interessa é tu colaborar com o teu melhor praquele negócio sair melhor.

É a implosão, o esfarelamento das convenções vazias.

Daí eu lembrei do filme Tratamento de Choque, com o Jack Nicholson e o Adam Sandler. Quando o personagem do Sandler vai pra primeira sessão com o psiquiatra vivido pelo Nicholson, o médico pergunta para ele: "quem é você?"
O Sandler dá várias respostas, muitas delas nós daríamos, tipo dizer a profissão, tipo dizer de quem é filho, onde nasceu, tipo dizer o cargo que ocupa... Para todas as respostas, o Nicholson rebatia: "Não, eu perguntei quem você é."
Nada servia.

E a gente nem sempre precisa de um psiquiatra doidão como o Nicholson para ver essa pergunta piscando no espelho do banheiro logo que a gente acorda de manhã (se é que a gente conseguiu dormir...). Eu quero dizer que "as coisas da vida" (da vida vivida mesmo) te colocam a pergunta: ei, quem é você? Se tudo te for tirado, o que fica?
O que é que fica? Qual a origem de tudo?

Daí lembrei também que recentemente duas coisas meio que implodiram com a minha profissão - se levar em conta o modelo convencional de profissão.

1) Me refiro à reforma ortográfica, sem que nem pra quê. De uma hora para outra, quem sabia escrever não sabia mais e quem nunca soube passou a acertar sem querer ou se dar conta. Resultado: não existe mais jeito certo de escrever.
2) O fim da obrigatoriedade do diploma para ser jornalista.

São mudanças relevantes, mas que na prática não tiveram nenhum ou quase nenhum impacto na minha vida. E tinham tudo para provocar, né? Houve um implosão total, sim, mas reveladora do que era fake e do que era real.
Ao implodir, ao ir pros ares o que era convenção, ficou só o que importa: eu gosto de escrever. A origem de tudo. E ponto.

Se tudo implodir, se tudo "te tirarem" (se tiraram não era teu...), fica só o que é.

O que importa é o que você sabe fazer e o que você gosta de fazer - duas coisas que, aliás, não têm de estar separadas e que juntas dão boas pistas de quem somos. Melhor: de quem viemos ser nesse mundo.

Esses são os "novos cargos" dos "novos empregos" do mundo. É um pouco do que o cara disse na palestra: os melhores trabalhos/resultados estão nas mãos de pes-so-as (e é elas que estão sendo "contratadas", é para elas que existem "empregos"). Capacitadas, com cursos disso e daquilo, sim, mas antes de tudo pessoas inteiras, e isso quer dizer que a emoção, a subjetividade, as sutilezas, as imperfeições, a bagagem pessoal, o teu jeito só teu, enfim, todo o kit de que somos compostos pode (e deve) estar junto. Porque é o que faz diferença. Porque é o nosso melhor.

É o quadradinho de chocolate amolecido no centro do bolinho.

Na publicidade/propaganda, fazer a diferença é o desafio (será que o brownie tah vendendo bem?). Mas será só na publicidade?

***

Agora, nesse exato momento, assisto a um painel em que a ARP discute o fim ou não do Salão da Propaganda e do Anuário... O troço virou um "elefante-branco", sem relevância - palavras deles, ali no palco. Ou seja, tá implodindo, esfarelando.
Nessa fase, há tensão... apegos... ansiedades... discussões acaloradas... Parece que não há saída (já são quase duas horas de falação...).

Mas logo, logo, eles vão descobrir o que fica. O que é. O que importa. O que vale.
Porque quando tudo desmorona, fica só o que é.
Claro que da missa não sei nem a metade, mas a impressão que tenho é que eles criaram um troço muito legal, que é a Semana da Comunicação, e em vez de valorizar isso estão olhando pro peso-morto do Salão...
Tipo assim... lembra do programa do Silvio Santos em que as pessoas entravam numa cápsula onde não ouviam nada e tinham de dizer sim ou não quando uma luz vermelha acendia dentro da cabine? Aí o Silvio Santos perguntava: "Vc troca um carro zero por um par de meias sujas?", e o cara dentro da cápsula, surdo: "Siiiiiiiiiiiimmmmm".
A ARP tah dentro dessa cápsula.

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