10 janeiro 2011

Com fome, com sede, algo assim

De repente, eu notei que precisava daquilo. Por algum tempo, empurrar pro lado tudo o que ainda tinha de fazer - afinal, sempre vai ter algo pra fazer - e abastecer parte de mim que estava esvaziando, com fome, com sede, algo assim. Uma parte que não tem a ver com o meu corpo físico (e eu acho que nem com o mental...), mas que precisa de atenção e de atividades, que precisa ser alimentada tanto quanto ele.

Então, fui pro shopping! :D

Melhor dizendo, fui passear numa livraria. Folhear revistas, olhar os livros, tocá-los, caminhar entre as mesas e prateleiras, sem procurar nada específico, apenas permitindo que o olhar fosse ele mesmo, como um cachorro de rua, sem guia. Mas não cachorro de rua com olhar pidão. Cachorro de rua feliz, sabe? Aquele que atravessa a rua e cheira aqui e acolá como se soubesse exatamente de onde veio e pra onde vai. O dono do pedaço.

E as boas livrarias, hoje megalojas, têm espaço de café, e o cheirinho dele sendo feito na hora deixou tudo mais prazeroso. Quanto tempo eu fiquei ali? Meia hora? Quarenta minutos? Uma hora? E quanto tempo demorou para que uma certa sensação de impotência fosse percebida em mim? Um dó ao constatar o tanto que há para ver, ler, conhecer...

É muito grave a gente levar uma vida que quase não encontra tempo para isso? Não me refiro a ler. Tem gente que tem o hábito de ler todos os dias. É como almoçar e jantar. Mas eu me refiro a mais do que isso, a mais do que atitude mecânica, habitual. Eu me refiro a uma entrega. Se relacionar com os livros. Viajar na batatinha com cada um deles. Quem consegue, todos os dias, na mesma hora, como um relogiozinho, mente e alma limpas para entrar nessa? Já não se consegue direito nem com as pessoas com quem convivemos, imagina com objetos! (estranho pensar livros como objetos... não os sinto assim). Tudo tão superficial... E é superficial porque é difícil mesmo o contrário disso.
Então acontece de eu ver sobrar umas horas do meu dia para eu pegar o livro, mas pegar o livro e começar a ler é uma coisa; pegar o livro e me relacionar com ele intimamente é outra coisa. Precisa de energia. De um tipo de disposição e energia que são especiais, e não ordinárias.
E desse dó que eu tô falando: vai faltar tempo com essas condições ideais para ver tudo o que há para ver nesse mundo. Ai, que dorzinha que me dá. Fazer o q?

Pois nesse passeiozinho de minutos, eu me entregaria curiosa e por completo a pelo menos três livros: O Andar do Bêbado (Leonard Mlodinow), Solar (Ian McEwan) e História da Beleza (Humberto Eco).
Embora meio saturada de torturas mentais, acho que sucumbiria também à biografia de Clarice Lispector. Acho que ela é a deusa maior dos atormentados, com mentes e/ou corações que se debatem procurando o sentido das coisas - e isso é o que ela tem de melhor e de pior.

Levaria ainda algumas revistas de decoração, outras duas femininas e uma sobre bike.

Notei que muitos lançamentos, expostos nas primeiras gôndolas, têm seus títulos começando com "O Segredo de...", "Os segredos para...". Nossa, pensei, pelo jeito se acabaram os segredos do universo, tudo já foi revelado.

Vi que o Eduardo Bueno continua escrevendo sobre o Brasil... Lá se vão, pelo menos, 8 anos? 9? O que terá mudado desde o primeiro que resenhei ainda para ZH?

Vi que o Justin Bieber, o Fiuk e o José Alencar têm livros - biografia, diário e biografia, respectivamente. Vi também que educar cachorros parece ser uma grande necessidade: há uns 10 títulos diferentes sendo exibidos como novidade.

Vi que o espaço para títulos sobre espiritualismo está cada vez maior e não mais escondido lá no fundo.

Vi, especialmente, que os livros estão cada vez mais lindos. (*suspiro*). Ai que dó de não levá-los comigo. Já contei que eu tive um profe na Fabico que dizia que a gente nem precisava ler os livros, apenas tê-los por perto? Eu concordo. Não faz o menor sentido, mas eu concordo.

E, diante dessa beleza toda, lembrei da coluna do Sant'Ana de ontem, que li por acaso, diga-se de passagem. Ele falava sobre como existem jornalistas/escritores com espaços nobres por aí e que, no fundo, não dizem nada. Escrevem mas não arrebatam seus leitores.
Então, na livraria, fiquei imaginando quanto de ideias, raciocínios realmente interessantes poderia haver por trás de tanta beleza. E, já que o assunto é texto, quer ler um bom texto? Vai aqui, no blog do Tião, e lê o que tem data de hoje.

Da livraria, quase levei este e muito mais este. Mas não. Já tô com um outro, nessa mesma linha, para ler em casa. Então, com esforço, os devolvi à prateleira e pensei "fica pruma próxima", "a gente se ama, mas nossas agendas são incompatíveis no momento". :)

Para amenizar a minha dó, saí da livraria com uma revista Yoga Journal e o último do Roberto DaMatta (Fé em Deus e Pé na Tábua - Ou Como e Por que o Trânsito Enlouquece no Brasil) - este último mais por uma demanda de trabalho do que um desejo de fato. Mas sei que DaMatta é sempre DaMatta e um pouco do antropologia não faz mal a ninguém.

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