É uma idéia...
Espia lá.
22 agosto 2006
13 agosto 2006
Glup!
10 agosto 2006
Meu voto invisível
Tenho assistido ao Jornal Nacional com uma expectativa que há muito tempo não sentia. O JN não está entre meus telejornais preferidos – que vêm a ser, primeiramente, o Bom Dia Brasil, às 7h, e o Jornal da Globo, lá pela 0h, em segundo lugar; mas, como se nota, existe uma certa incompatibilidade de horários para que eu consiga assistir, na seqüência, aos meus dois noticiários prediletos.
Pois o JN renovou minha atenção ao abrir uma série de entrevistas com os candidatos à presidência. Ok, eu não vi a do Alckmin, mas isso não significa nada, porque o Alckmin está fora de cogitação para a Loraine-eleitora.
Os candidatos têm 11min30s para falar, o Bonner sempre avisa. E o meu nervoso começa. Tenho sempre a sensação de que há 20 perguntas para serem feitas, porque fica aquele clima pré-interrupção, a Fátima com a mãozinha suspensa, o Bonner com a boca entreaberta pra emendar uma questão, o candidato falando, falando, falando uma resposta três vezes maior do que a necessária e o reloginho correndo. Se há uma coisa que a faculdade de jornalismo não ensina (bem, há muitas coisas...) é interromper entrevistado. Que nervoso que me dá. Parece um jogo. Parece prorrogação de decisão de título com o teu time precisando de um único gol.
Mas acho que o nervoso também é provocado pela postura dos dois entrevistadores. É postura mesmo: embora as perguntas estejam sendo bem cruas, sem rodeios ou confetes (ok, EU NÃO VI A DO ALCKMIN), o Bonner e a Fátima me parecem mais agressivos. E arrisco dizer que isso tem um pouco a ver com a frustração geral com a classe política. Com o festival de mentira e corrupção revelado sem trégua, se perdeu um pouco o respeito, o pudor. E, como o jornalismo sempre teve demais disso ao tratar com as “vossas excelências”, a decepção acabou por dar uma boa aparada (natural/inconsciente) nos excessos da relação mídia-políticos. Acho.
Ok, mas o que eu queria dizer é que acho que defini meu voto ontem, na terceira entrevista da série. Na verdade, não foi o voto que defini, foi a minha postura. Eu não tenho esperança que ele ganhe. Mas eu decidi ser humilde. Decidi parar de acreditar que o próximo vai, sim, resolver os problemas do país que o outro não conseguiu. Desisti de pensar grande, desisti de pensar que o Brasil vai dar certo em quatro anos, basta pôr lá a pessoa certa. Desisti de tudo isso e vou pensar pequeno, miúdo. Vou votar pensando a longo prazo, tipo: é preciso pôr o primeiro tijolo para ter uma parede, né? Tipo isso eu decidi. E esse primeiro tijolo é qualquer coisa, mas qualquer coisa mesmo de uma daquelas que o candidato de ontem disse que ia fazer. Qualquer uma que for feita eu já vou me sentir em paz com o meu voto. O entrevistado foi o cândido Cristovam Buarque.
Qualquer coisa que seja feita na área da educação terá valido a pena. O futuro vai me dar razão. O Brasil precisa de sutilezas. Precisa de ações que não pareçam grandes ações. Precisa de atos meio que invisíveis, para que nem a teia de corrupção nem o olho gordo da oposição os perceba. O Brasil precisa ser humilde e começar do começo, com atos invisíveis, mas altamente transformadores – e isso só ocorre numa área: educação.
Pois o JN renovou minha atenção ao abrir uma série de entrevistas com os candidatos à presidência. Ok, eu não vi a do Alckmin, mas isso não significa nada, porque o Alckmin está fora de cogitação para a Loraine-eleitora.
Os candidatos têm 11min30s para falar, o Bonner sempre avisa. E o meu nervoso começa. Tenho sempre a sensação de que há 20 perguntas para serem feitas, porque fica aquele clima pré-interrupção, a Fátima com a mãozinha suspensa, o Bonner com a boca entreaberta pra emendar uma questão, o candidato falando, falando, falando uma resposta três vezes maior do que a necessária e o reloginho correndo. Se há uma coisa que a faculdade de jornalismo não ensina (bem, há muitas coisas...) é interromper entrevistado. Que nervoso que me dá. Parece um jogo. Parece prorrogação de decisão de título com o teu time precisando de um único gol.
Mas acho que o nervoso também é provocado pela postura dos dois entrevistadores. É postura mesmo: embora as perguntas estejam sendo bem cruas, sem rodeios ou confetes (ok, EU NÃO VI A DO ALCKMIN), o Bonner e a Fátima me parecem mais agressivos. E arrisco dizer que isso tem um pouco a ver com a frustração geral com a classe política. Com o festival de mentira e corrupção revelado sem trégua, se perdeu um pouco o respeito, o pudor. E, como o jornalismo sempre teve demais disso ao tratar com as “vossas excelências”, a decepção acabou por dar uma boa aparada (natural/inconsciente) nos excessos da relação mídia-políticos. Acho.
Ok, mas o que eu queria dizer é que acho que defini meu voto ontem, na terceira entrevista da série. Na verdade, não foi o voto que defini, foi a minha postura. Eu não tenho esperança que ele ganhe. Mas eu decidi ser humilde. Decidi parar de acreditar que o próximo vai, sim, resolver os problemas do país que o outro não conseguiu. Desisti de pensar grande, desisti de pensar que o Brasil vai dar certo em quatro anos, basta pôr lá a pessoa certa. Desisti de tudo isso e vou pensar pequeno, miúdo. Vou votar pensando a longo prazo, tipo: é preciso pôr o primeiro tijolo para ter uma parede, né? Tipo isso eu decidi. E esse primeiro tijolo é qualquer coisa, mas qualquer coisa mesmo de uma daquelas que o candidato de ontem disse que ia fazer. Qualquer uma que for feita eu já vou me sentir em paz com o meu voto. O entrevistado foi o cândido Cristovam Buarque.
Qualquer coisa que seja feita na área da educação terá valido a pena. O futuro vai me dar razão. O Brasil precisa de sutilezas. Precisa de ações que não pareçam grandes ações. Precisa de atos meio que invisíveis, para que nem a teia de corrupção nem o olho gordo da oposição os perceba. O Brasil precisa ser humilde e começar do começo, com atos invisíveis, mas altamente transformadores – e isso só ocorre numa área: educação.
08 agosto 2006
Ei, amigos
Se estou lendo algum blog de amigo ou conhecido e volto pra cá, na maior parte das vezes acho meus textos muito chatos. Quanto drama. Quanta instrospecção. Quanta emoção (?!). Quanto pretensão. Ok, o blog é meu, eu faço dele o que quiser, mas às vezes parece que não é assim: é ele que faz de mim o que quer. Ops. Tá, chega.
Eu só entrei para dizer (após ter mais uma vez a sensação de que sou uma chata) que eu não sou tão chata assim, ok? Ei, amigos, testemunhem a meu favor! Não deixem esses textos acabarem comigo! :)
***
Uma vez, quando eu era bem mais novinha, pensei em ter uma agenda/diário pros dias tristes e outra pros dias alegres. Mas daí fiquei com medo de não preencher as duas igualitariamente... Desisti. Achei melhor tocar a vida sem a expectativa sobre qual agenda eu pegaria no final do dia.
***
O receio acima pressupunha um relato sincero, imparcial. Mais uma vez, meu jeito chato prevalecendo. Porque eu simplesmente poderia usar as duas agendas para brincar, relatar o mesmo dia nos dois cadernos, um sob olhar triste, outro sob olhar feliz. Algo como Melinda & Melinda, sabe? Seria, ao menos, a garantia de um exercício ficcional todo dia.
Mas não tive essa boa idéia, na época. O chato, em geral, não vê alternativas na situação, não vê o todo. Ok, vou parar de dizer que sou chata. Ficar dizendo isso é mesmo muito chato.
Eu só entrei para dizer (após ter mais uma vez a sensação de que sou uma chata) que eu não sou tão chata assim, ok? Ei, amigos, testemunhem a meu favor! Não deixem esses textos acabarem comigo! :)
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Uma vez, quando eu era bem mais novinha, pensei em ter uma agenda/diário pros dias tristes e outra pros dias alegres. Mas daí fiquei com medo de não preencher as duas igualitariamente... Desisti. Achei melhor tocar a vida sem a expectativa sobre qual agenda eu pegaria no final do dia.
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O receio acima pressupunha um relato sincero, imparcial. Mais uma vez, meu jeito chato prevalecendo. Porque eu simplesmente poderia usar as duas agendas para brincar, relatar o mesmo dia nos dois cadernos, um sob olhar triste, outro sob olhar feliz. Algo como Melinda & Melinda, sabe? Seria, ao menos, a garantia de um exercício ficcional todo dia.
Mas não tive essa boa idéia, na época. O chato, em geral, não vê alternativas na situação, não vê o todo. Ok, vou parar de dizer que sou chata. Ficar dizendo isso é mesmo muito chato.
06 agosto 2006
E quando entra minha amiga nessa história?
Teve uma vez que entendi um filme pelos olhos de uma amiga. Estávamos no cinema, lado a lado, a história se desenrolava na tela há algum tempo e foi só quando percebi sua emoção discreta (quase sem deixar marcas depois que as luzes se acenderam), já no final do filme, é que entendi a força dele.
Eu disse a ela que escreveria sobre isso no blog logo em seguida, o tempo passou, ela foi pra São Paulo e, porque me ligou ontem, lembrei da vontade de contar o episódio aqui.
Há várias produções, principalmente recentes, que se valem da brincadeira da metalinguagem para pôr um filme dentro de outro. Estrela Solitária é francamente isso – e foi nesse filme que a reação de minha amiga valeu o ingresso.
Estrela Solitária é (aparentemente) ingenuamente isso: um filme dentro de um filme. O recurso nem parece importante, porque é a história de um ator que larga as filmagens de uma produção repentinamente, num surto, para rever suas escolhas, rever o caminho percorrido – aquele batido acerto de contas com a gente mesmo, nada raro em muitos filmes. E ele chuta tudo para o alto, porque esse tudo não o motiva, não lhe preenche mais, e vai reencontrar o passado, que significa uma mãe, uma paixão e dois filhos deixados para trás numa cidade, por sua vez, ainda mais perdida, no meio do nada. E, como o próprio personagem, o espectador realmente se fixa nesse lado do filme e põe à parte, em segundo plano, as filmagens – a dificuldade da produtora, do diretor de terminar a obra sem a presença do ator principal.
A necessidade da finalização do filme está presente em todo momento, na figura, inclusive, de um cara (advogado? Não lembro) que vai atrás do personagem/ator para que ele volte e termine as filmagens. Como o personagem, o espectador pensa toda vez: “Que merda, deixa ele resolver o passado dele, porra, deixa ele reparar os erros, fazer as pazes com os filhos e tal”. A gente fica nessa torcida até que se dá conta de uma sensação sutil, mas que se agiganta sem volta: qual filme está dentro de qual? Qual é a História dentro da história?
Evidentemente, era na “vida real” que se concentrava a carga emocional do filme: o reencontro com a mãe, com a (ok...) mulher de sua vida, a descoberta dos filhos e a sensação, claro, de que fez tudo errado (mas como saber disso antecipadamente? Depois da vida percorrida, fica fácil, né?). Era ali, nessas cenas, que o personagem e o espectador sofriam. Era para aquilo tudo que esperávamos a virada, o desfecho, o grande desfecho. E enquanto ele não vinha, segurávamos todas as emoções que estávamos experimentando no escuro. Só que o desfecho não vem. Não há nada mais o que fazer na “vida real”. O personagem revive todo aquele passado como num sonho (e a fotografia do filme por vezes lembra uma atmosfera onírica, um silêncio como que quando mergulhamos no fundo da piscina e nada mais é ouvido, só há nós mesmos e os personagens de nosso sonho). Até que, depois dessa espécie de regressão, ele tem de voltar e cumprir seu contrato com a “vida de mentirinha”. Tem de voltar às filmagens. Ele acorda para a vida que escolheu. Todo o resto fica como estava (claro que não fica, mas não é esse realmente o efeito de um sonho? Tudo continua igual aqui fora, mas algo em você mudou depois dele). Então, o espectador percebe que vinha torcendo por algo impossível: mudar o passado. Dito assim fica até superficial, mas não é, até porque já sobraram talento (dos atores), sensibilidade (sua, se vc não é um idiota) e tempo suficientes para que o espectador tenha se identificado com essa angústia de simplesmente aceitar o que não pode ser mudado.
E quando entra minha amiga nessa história?
Bem, o personagem volta para terminar o filme para o qual foi contratado. E a cena do filme dentro do filme é a de sua despedida da mocinha. Eles se despedem apaixonadamente. Ele terá de deixá-la, com coragem, desapego, uma força de herói (que ele não teve na vida real). Uma cena boba, de um filme de sessão da tarde, mas o estopim perfeito que faltava. Explico: foi nesse momento que vi minha amiga se emocionar. Eu também me emocionei nessa hora. E arrisco dizer que mais gente se emocionou na sala só nesse momento. Nesse momento, na “história de mentirinha”, é que nos permitimos soltar um pouquinho da emoção contida durante todo o tempo da “história de verdade”. Por que chorar só no momento que parecia menos real? É evidente que a emoção geradora das lágrimas não tinha rigorosamente nada a ver com a história da mocinha, que sequer conhecíamos. Talvez porque ali o choro era mais fácil, mais inofensivo, menos revelador de nós mesmos. Ali, com a mocinha, o choro nos atingia menos.
Foi aí que percebi a impossibilidade de definir que filme estava dentro de qual – e mais: definir que história pessoal está dentro de qual em nossas vidas. Foi aí que percebi como enrolamos a nós mesmos quando se tratam de emoções. Como nos atrapalhamos com escolhas emocionais, exatamente como o personagem do filme. E, então, acho que, se tive a intenção, no início do filme, de julgar o personagem ou suas escolhas, desisti – como acabaram fazendo a mãe, a ex-mulher, os filhos, o advogado e ele próprio.
Eu disse a ela que escreveria sobre isso no blog logo em seguida, o tempo passou, ela foi pra São Paulo e, porque me ligou ontem, lembrei da vontade de contar o episódio aqui.
Há várias produções, principalmente recentes, que se valem da brincadeira da metalinguagem para pôr um filme dentro de outro. Estrela Solitária é francamente isso – e foi nesse filme que a reação de minha amiga valeu o ingresso.
Estrela Solitária é (aparentemente) ingenuamente isso: um filme dentro de um filme. O recurso nem parece importante, porque é a história de um ator que larga as filmagens de uma produção repentinamente, num surto, para rever suas escolhas, rever o caminho percorrido – aquele batido acerto de contas com a gente mesmo, nada raro em muitos filmes. E ele chuta tudo para o alto, porque esse tudo não o motiva, não lhe preenche mais, e vai reencontrar o passado, que significa uma mãe, uma paixão e dois filhos deixados para trás numa cidade, por sua vez, ainda mais perdida, no meio do nada. E, como o próprio personagem, o espectador realmente se fixa nesse lado do filme e põe à parte, em segundo plano, as filmagens – a dificuldade da produtora, do diretor de terminar a obra sem a presença do ator principal.
A necessidade da finalização do filme está presente em todo momento, na figura, inclusive, de um cara (advogado? Não lembro) que vai atrás do personagem/ator para que ele volte e termine as filmagens. Como o personagem, o espectador pensa toda vez: “Que merda, deixa ele resolver o passado dele, porra, deixa ele reparar os erros, fazer as pazes com os filhos e tal”. A gente fica nessa torcida até que se dá conta de uma sensação sutil, mas que se agiganta sem volta: qual filme está dentro de qual? Qual é a História dentro da história?
Evidentemente, era na “vida real” que se concentrava a carga emocional do filme: o reencontro com a mãe, com a (ok...) mulher de sua vida, a descoberta dos filhos e a sensação, claro, de que fez tudo errado (mas como saber disso antecipadamente? Depois da vida percorrida, fica fácil, né?). Era ali, nessas cenas, que o personagem e o espectador sofriam. Era para aquilo tudo que esperávamos a virada, o desfecho, o grande desfecho. E enquanto ele não vinha, segurávamos todas as emoções que estávamos experimentando no escuro. Só que o desfecho não vem. Não há nada mais o que fazer na “vida real”. O personagem revive todo aquele passado como num sonho (e a fotografia do filme por vezes lembra uma atmosfera onírica, um silêncio como que quando mergulhamos no fundo da piscina e nada mais é ouvido, só há nós mesmos e os personagens de nosso sonho). Até que, depois dessa espécie de regressão, ele tem de voltar e cumprir seu contrato com a “vida de mentirinha”. Tem de voltar às filmagens. Ele acorda para a vida que escolheu. Todo o resto fica como estava (claro que não fica, mas não é esse realmente o efeito de um sonho? Tudo continua igual aqui fora, mas algo em você mudou depois dele). Então, o espectador percebe que vinha torcendo por algo impossível: mudar o passado. Dito assim fica até superficial, mas não é, até porque já sobraram talento (dos atores), sensibilidade (sua, se vc não é um idiota) e tempo suficientes para que o espectador tenha se identificado com essa angústia de simplesmente aceitar o que não pode ser mudado.
E quando entra minha amiga nessa história?
Bem, o personagem volta para terminar o filme para o qual foi contratado. E a cena do filme dentro do filme é a de sua despedida da mocinha. Eles se despedem apaixonadamente. Ele terá de deixá-la, com coragem, desapego, uma força de herói (que ele não teve na vida real). Uma cena boba, de um filme de sessão da tarde, mas o estopim perfeito que faltava. Explico: foi nesse momento que vi minha amiga se emocionar. Eu também me emocionei nessa hora. E arrisco dizer que mais gente se emocionou na sala só nesse momento. Nesse momento, na “história de mentirinha”, é que nos permitimos soltar um pouquinho da emoção contida durante todo o tempo da “história de verdade”. Por que chorar só no momento que parecia menos real? É evidente que a emoção geradora das lágrimas não tinha rigorosamente nada a ver com a história da mocinha, que sequer conhecíamos. Talvez porque ali o choro era mais fácil, mais inofensivo, menos revelador de nós mesmos. Ali, com a mocinha, o choro nos atingia menos.
Foi aí que percebi a impossibilidade de definir que filme estava dentro de qual – e mais: definir que história pessoal está dentro de qual em nossas vidas. Foi aí que percebi como enrolamos a nós mesmos quando se tratam de emoções. Como nos atrapalhamos com escolhas emocionais, exatamente como o personagem do filme. E, então, acho que, se tive a intenção, no início do filme, de julgar o personagem ou suas escolhas, desisti – como acabaram fazendo a mãe, a ex-mulher, os filhos, o advogado e ele próprio.
04 agosto 2006
Plantão
Caminhava pelos bairros Farroupilha e Cidade Baixa hoje e vi e ouvi várias vezes o chamado. Era um carro com aqueles sistemas de som. A voz grave e séria explicava que um cachorrinho havia se perdido ou sido roubado. Os vidros e a lataria do veículo exibiam cartazes/reproduções de fotos do animalzinho. A mensagem frisava o fato de ele estar doente, de precisar de cuidados regularmente. E gratificava-se quem o encontrasse, claro.
Até aí nada muito extraordinário.
Acontece que o texto em tom grave era precedido por aquela musiquinha do plantão da Globo. Aquela com a qual todo mundo pára o que está fazendo e fixa os olhos na tela da TV, a espera da notícia que, diferentemente de todas as outras do dia, não podia esperar. A vinhetinha do flash extra, fora dos telejornais, sabe? Bem, então eu fiquei algumas horas ouvindo de tempos em tempos a musiquinha e, por causa dela, acionando a pesada sensação de atenção que ela provoca -- desnecessariamente.
Mas que a idéia do cara foi boa, ah, isso foi, né?
Tomara que o cachorrinho esteja bem.
Na real, eu queria que a vinheta do plantão tocasse agora na TV avisando que o bichinho foi encontrado. Ok, menos, Loraine...
Até aí nada muito extraordinário.
Acontece que o texto em tom grave era precedido por aquela musiquinha do plantão da Globo. Aquela com a qual todo mundo pára o que está fazendo e fixa os olhos na tela da TV, a espera da notícia que, diferentemente de todas as outras do dia, não podia esperar. A vinhetinha do flash extra, fora dos telejornais, sabe? Bem, então eu fiquei algumas horas ouvindo de tempos em tempos a musiquinha e, por causa dela, acionando a pesada sensação de atenção que ela provoca -- desnecessariamente.
Mas que a idéia do cara foi boa, ah, isso foi, né?
Tomara que o cachorrinho esteja bem.
Na real, eu queria que a vinheta do plantão tocasse agora na TV avisando que o bichinho foi encontrado. Ok, menos, Loraine...
Elogio
Uma vez cheguei da rua, ainda morava com meus pais... Mais anterior ainda: meu pai ainda era vivo. Mais mais anterior ainda: eu acabara de me formar em jornalismo. Cheguei em casa, oi, oi, tudo normal. Daqui a pouco, meu pai veio com essa:
- Li tua monografia.
Tinha um rascunho impresso sobre a minha escrivaninha.
Eu queria lembrar aqui exatamente o que ele disse, mas não guardei a palavra para abrir o travessão e me autorizar a ordem direta. Lembro apenas (apenas?) que ele fez um comentário positivo, tinha gostado mesmo, seus olhos diziam.
Foi a surpresa que me impediu de gravar a frase exata que ele disse. Mas o fato era esse: meu pai, em algum momento daquela tarde, tinha parado o que quer que fosse para ler, espontaneamente, algumas dezenas de páginas do meu trabalho final de curso. Nem precisava ter gostado. Ainda seria o maior elogio que uma pessoa podia receber mesmo que ele não tivesse gostado.
O elogio está na consideração (para dizer o mínimo), evidente no gesto e interesse espontâneos.
- Li tua monografia.
Tinha um rascunho impresso sobre a minha escrivaninha.
Eu queria lembrar aqui exatamente o que ele disse, mas não guardei a palavra para abrir o travessão e me autorizar a ordem direta. Lembro apenas (apenas?) que ele fez um comentário positivo, tinha gostado mesmo, seus olhos diziam.
Foi a surpresa que me impediu de gravar a frase exata que ele disse. Mas o fato era esse: meu pai, em algum momento daquela tarde, tinha parado o que quer que fosse para ler, espontaneamente, algumas dezenas de páginas do meu trabalho final de curso. Nem precisava ter gostado. Ainda seria o maior elogio que uma pessoa podia receber mesmo que ele não tivesse gostado.
O elogio está na consideração (para dizer o mínimo), evidente no gesto e interesse espontâneos.
Dois verbos
Pertencer
Aprender
Pertencer para aprender ou aprender para pertencer, tanto faz. Pode ficar sozinho cada um, mas os dois verbos meio que aprendem um com o outro, meio que se pertencem.
Aprender
Pertencer para aprender ou aprender para pertencer, tanto faz. Pode ficar sozinho cada um, mas os dois verbos meio que aprendem um com o outro, meio que se pertencem.
Lead
Claro que não é meu. É do Fabrício Carpinejar, num texto* sobre o poeta Manoel de Barros:
“Manuel de Barros tem uma letra miúda, a caligrafia emendada e tímida. Em um mínimo cartão, aproveita os dois lados, curte toda borda. Não desperdiça uma vírgula da resma. Qualquer fresta é a festa do grafite. Com lupa, atinge-se o tamanho normal de leitura. A olho nu, é um canteiro de formigas no açúcar da folha. É necessário cheirar o papel para entender o que ele escreve.”
*Revista Vida Simples, edição de agosto
“Manuel de Barros tem uma letra miúda, a caligrafia emendada e tímida. Em um mínimo cartão, aproveita os dois lados, curte toda borda. Não desperdiça uma vírgula da resma. Qualquer fresta é a festa do grafite. Com lupa, atinge-se o tamanho normal de leitura. A olho nu, é um canteiro de formigas no açúcar da folha. É necessário cheirar o papel para entender o que ele escreve.”
*Revista Vida Simples, edição de agosto
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