10 agosto 2006

Meu voto invisível

Tenho assistido ao Jornal Nacional com uma expectativa que há muito tempo não sentia. O JN não está entre meus telejornais preferidos – que vêm a ser, primeiramente, o Bom Dia Brasil, às 7h, e o Jornal da Globo, lá pela 0h, em segundo lugar; mas, como se nota, existe uma certa incompatibilidade de horários para que eu consiga assistir, na seqüência, aos meus dois noticiários prediletos.
Pois o JN renovou minha atenção ao abrir uma série de entrevistas com os candidatos à presidência. Ok, eu não vi a do Alckmin, mas isso não significa nada, porque o Alckmin está fora de cogitação para a Loraine-eleitora.
Os candidatos têm 11min30s para falar, o Bonner sempre avisa. E o meu nervoso começa. Tenho sempre a sensação de que há 20 perguntas para serem feitas, porque fica aquele clima pré-interrupção, a Fátima com a mãozinha suspensa, o Bonner com a boca entreaberta pra emendar uma questão, o candidato falando, falando, falando uma resposta três vezes maior do que a necessária e o reloginho correndo. Se há uma coisa que a faculdade de jornalismo não ensina (bem, há muitas coisas...) é interromper entrevistado. Que nervoso que me dá. Parece um jogo. Parece prorrogação de decisão de título com o teu time precisando de um único gol.
Mas acho que o nervoso também é provocado pela postura dos dois entrevistadores. É postura mesmo: embora as perguntas estejam sendo bem cruas, sem rodeios ou confetes (ok, EU NÃO VI A DO ALCKMIN), o Bonner e a Fátima me parecem mais agressivos. E arrisco dizer que isso tem um pouco a ver com a frustração geral com a classe política. Com o festival de mentira e corrupção revelado sem trégua, se perdeu um pouco o respeito, o pudor. E, como o jornalismo sempre teve demais disso ao tratar com as “vossas excelências”, a decepção acabou por dar uma boa aparada (natural/inconsciente) nos excessos da relação mídia-políticos. Acho.
Ok, mas o que eu queria dizer é que acho que defini meu voto ontem, na terceira entrevista da série. Na verdade, não foi o voto que defini, foi a minha postura. Eu não tenho esperança que ele ganhe. Mas eu decidi ser humilde. Decidi parar de acreditar que o próximo vai, sim, resolver os problemas do país que o outro não conseguiu. Desisti de pensar grande, desisti de pensar que o Brasil vai dar certo em quatro anos, basta pôr lá a pessoa certa. Desisti de tudo isso e vou pensar pequeno, miúdo. Vou votar pensando a longo prazo, tipo: é preciso pôr o primeiro tijolo para ter uma parede, né? Tipo isso eu decidi. E esse primeiro tijolo é qualquer coisa, mas qualquer coisa mesmo de uma daquelas que o candidato de ontem disse que ia fazer. Qualquer uma que for feita eu já vou me sentir em paz com o meu voto. O entrevistado foi o cândido Cristovam Buarque.
Qualquer coisa que seja feita na área da educação terá valido a pena. O futuro vai me dar razão. O Brasil precisa de sutilezas. Precisa de ações que não pareçam grandes ações. Precisa de atos meio que invisíveis, para que nem a teia de corrupção nem o olho gordo da oposição os perceba. O Brasil precisa ser humilde e começar do começo, com atos invisíveis, mas altamente transformadores – e isso só ocorre numa área: educação.

Um comentário:

Fernanda Souza disse...

Pois o Jornal da Globo estava fazendo a mesma rodada de entrevistas, e a única que eu vi foi do Cristovam Buarque. E senti nos apresentadores essa mesma tensão e agressividade.
Ando sem esperanças também. Mas gostei das tuas colocações.

Bem juntinhas

Bem juntinhas
eu e a Búio