04 agosto 2006

Elogio

Uma vez cheguei da rua, ainda morava com meus pais... Mais anterior ainda: meu pai ainda era vivo. Mais mais anterior ainda: eu acabara de me formar em jornalismo. Cheguei em casa, oi, oi, tudo normal. Daqui a pouco, meu pai veio com essa:
- Li tua monografia.
Tinha um rascunho impresso sobre a minha escrivaninha.
Eu queria lembrar aqui exatamente o que ele disse, mas não guardei a palavra para abrir o travessão e me autorizar a ordem direta. Lembro apenas (apenas?) que ele fez um comentário positivo, tinha gostado mesmo, seus olhos diziam.

Foi a surpresa que me impediu de gravar a frase exata que ele disse. Mas o fato era esse: meu pai, em algum momento daquela tarde, tinha parado o que quer que fosse para ler, espontaneamente, algumas dezenas de páginas do meu trabalho final de curso. Nem precisava ter gostado. Ainda seria o maior elogio que uma pessoa podia receber mesmo que ele não tivesse gostado.
O elogio está na consideração (para dizer o mínimo), evidente no gesto e interesse espontâneos.

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Bem juntinhas

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eu e a Búio