10 outubro 2008

Uma coisa é uma coisa; outra coisa é outra coisa. Ou não

A idéia deste texto me ocorreu em julho (maio?), quando fiz essa entrevista. Sei lá por que não escrevi na época. Deixei no cantinho da mente, aqui. Às vezes, é bom fazer isso. Que nem massa de pão/bolo: deixar crescer. Foi o que aconteceu (às vezes, embatuma). Não cresceu taaannnto assim, não é nenhum bolo/pão de vó, mas está ocupando espaço demais. Destino: bLOg.

O sociólogo americano, este da entrevista, o Howard Zehr, mencionou conceitos e situações que, à época, eu estava ouvindo num contexto absolutamente diferente (ou nem tão absolutamente assim?). As mesmas idéias em campos aparentemente sem comunicação. Inquietante. Havia uma sincronia, por mais maluca que fosse/seja, e este texto é sobre ela.

Resumindo de forma meio brusca, o que o americano diz é que o modelo de justiça que temos no mundo (o dos tribunais, das penas etc) não serve, é ineficaz, não resolve o problema. Porque ele não inclui a 'vítima' no processo. Ele diz que o modelo distancia "agressor" e "vítima", quando tudo o que esta quer é um pedido de desculpas, um pedido de perdão e uma forma de reparação que faça sentido para ela e não para a sociedade ou para um tribunal, um conjunto de leis. E ele diz (essa parte é boa) que o mais difícil prum agressor é encarar de frente sua vítima. Pra o infrator, é mais fácil o juiz, a prisão, do que olhar no olho da vítima e encarar o mal que causou. Por isso, o sociólogo defende a justiça restaurativa, que põe os dois lados frente à frente em busca de um entendimento. Porque assim vítima e agressor se redesenham entre si. Se restauram. Segundo ele, o método pode ser aplicado em QUALQUER caso, mesmo os mais violentos.

Pois bem. Sabe onde eu estava ouvindo/refletindo sobre as mesmas questões (perdão, ajuste de contas no bom sentido, o frente à frente, a convivência necessária para os reparos etc)?
Em palestras sobre espiritismo. Segundo os espíritas, há uma relação entre o que sofremos na vida atual e o que fizemos em vidas passadas. Tudo aquilo que nos dói muito nessa vida é esse link com o que fomos em outra (me corrijam, se estiver errado isso).

Bom, adiante. Não raro essas dores e esforços pelo entendimento se dão dentro das famílias. Quem não conhece relacionamentos difíceis, aparentemente insolúveis, dentro de famílias? O tal do carma, resumindo grosseiramente também. Então. Sabe qual o único caso em que a justiça restaurativa não é aconselhável, porque não funciona, segundo estudos do sociólogo e de sua equipe? Em situações/crimes envolvendo familiares, violência doméstica. Porque, diz o americano, há variáveis não controláveis (pelo modelo desenvolvido) nas relações familiares.

Carma não é algo tangível mesmo.

Os espíritas também dizem que o "acerto de contas" na vida não é com ninguém, nem com Deus, nem o Diabo. É com a nossa consciência. Então, eu penso nos confessionários católicos, que lembram um 'tribunal'. O sociólogo diz:
"Acho ingênuo um juiz passar uma sentença, um sermão/pena e acreditar que está transformando a pessoa em alguém melhor."
Troca juiz por padre e sermão/pena por penitência... E de novo uma certa sincronia na ineficiência dos modelos.

Sei lá, acho que sou meio maluca às vezes.
Você pode não acreditar na justiça restaurativa e acreditar no espiritismo. Ou vice-versa. Ou não acreditar em nenhum dos dois. Mas que o jogo do perdoar/não perdoar é uma coisa significativa na vida, ah, disso é difícil duvidar.

Um comentário:

Srta. PENÉLOPE disse...

PERFEITA!!!Reflexão....

Tudo se interliga,exatamente tudo...e vc´não é maluca não!!!
bjs

Bem juntinhas

Bem juntinhas
eu e a Búio