20 março 2009

Feliz ano novo (ou.. eu não tinha título melhor)

Quando se vê de fora e quando se começa nisso, parece que correr é só correr, pedalar é só pedalar, nadar é só nadar. São coisas inteiras, cada uma, uniformes. 
Com o tempo, isso muda. Ao menos pra mim mudou. Não vejo mais só uma corrida, só um pedal, só uma natação. Isso é o que está na superfície. Na intimidade com cada modalidade, se descobre corridas dentro da corrida, pedais dentro do pedal, nados dentro do nado. 

Eu posso correr com passadas largas, depois com curtas, eu posso correr com o braço fazendo um movimento mais amplo ou mais curto, balançando-os ou firmes na técnica. Eu posso ritmar tudo isso pensando no tira-põe-tira-põe-tira-põe dos pés ou contando as expirações. Eu posso correr fazendo o movimento concentrada no abdomen. Ou concentrada nos glúteos. Eu posso olhar pro chão ou posso correr buscando referências lá na frente. Posso me inclinar ou me manter mais reta.
Eu posso pedalar girando muito rápido, girando bem pesado, puxando o pedal, empurrando o pedal, fazendo força com os braços trazendo a direção para o peito. Ou socada no banco ou encostando nele de leve. Posso ir subindo a velocidade devagar até encaixar. Posso passar o treino todo tentando encaixar uma velocidade que eu ainda não alcanço sem morrer logo ali na frente. Posso pedalar pensando em jogar os joelhos pra cima, ou querendo enfiar a sola do pé no asfalto. Posso me deitar sobre a direção ou erguer o tronco mais pra trás.
Eu posso nadar deslizando os braços lá na frente, fazendo carinho na água, girando bem o corpo. Posso, ao contrário, nadar fincando a mão na água como se tivesse pás, agredindo a água, ou abraçando-a, empurrando-a como montes de terra para baixo de mim. Posso nadar retomando o braço rapidamente ou posso finalizar demoradamente, empurrando com a palma toda a piscina para longe. Posso bater pouco as pernas, posso bater muito. Ou posso não bater nada, trazendo o corpo de arrasto. Posso variar o número de respirações/braçadas. 

Nadando, pedalando ou correndo, as variações dinamizam o treino e ajudam (muito) a passar o tempo mais rápido. Mas não é só isso. A grande sacada, eu acho, é que não se trata apenas de descobrir jeitos de correr, jeitos de pedalar, jeitos de nadar. Na brincadeira da variação, a grande descoberta é de você mesmo. São vários vocês dentro de você. Um deles é o você ideal pra cumprir a planilha naquele dia.

Hoje, encontrei a Loraine certa já no ônibus a caminho do clube. Eu senti que seria um treino bom. Deve ser o ano-novo astrológico, a energia ariana, de Marte, o fogo. Estava louca pra correr. A cada 50m na piscina, eu pensava "menos 50m pra eu ir pra rua". Veio a chuva e eu queria mais ainda. 15km de prazer. Nem sempre é assim. E tudo bem. Não precisa ser sempre assim. Não tem de ser. Não quero que seja. Quero descobrir mais Loraines e, principalmente, encarar de frente aquela que sugere desistir, reduzir, parar quando tá difícil.

E agora eu lembrei de outra coisa associada aos treinos, que eu vou contar noutro post. Preciso "encaixar" no post certo. Eu sei que o texto vem. Ele sempre vem. Texto também tem disso: quem vê de fora parece que escrever é só escrever. Não é. Há opções de textos dentro do texto: ritmo, tom, tamanho das frases, pontuação, humor, o lugar certo da palavra, com blablabla, sem blablabla.

De suar e de escrever. Eu gosto dessas duas coisas intimamente.

2 comentários:

Pretto disse...

Muito bom, professora! Tem várias formas de ler um texto também. Te ler é sempre agradável. Seja com pressa, com tempo, sono ou despretenção.
Beijo e bom decathlo!
Pretto

Pretto disse...

ops...despretensão!

Bem juntinhas

Bem juntinhas
eu e a Búio