21 abril 2008

O meu quiche

Então, eu abri um vinho e comecei a espalhar na mesa os ingredientes de que precisava.
Não, antes ainda: o dia amanheceu chuvoso, e era a desculpa de que eu precisava para não treinar. Porque muitas vezes a gente precisa de desculpas para justificar a nossa vontade. Não consegue apenas assumir a vontade. E a minha vontade era não treinar. E o dia amanheceu feio, com chuva. Não que isso fosse uma ótima desculpa. Já treinei com chuva. Não uma, várias vezes, e adorei. Porque estava com vontade de treinar. E quando tu tem vontade de fazer uma coisa, tu faz, independentemente de qualquer coisa. Então, a chuva era apenas uma desculpa que servia.

De trabalho, eu tinha apenas um compromisso: uma reunião às 14h. Depois disso, decidi me entregar àquela vontade que eu não aceitava, mas fui obrigada a aceitar, porque era o que meu corpo pedia: a vontade de ficar escondida em casa. Lembrei da receita. Da vontade de fazê-la, para enfim devolver o prato da minha amiga. Não que eu não tivesse mil coisas mais importantes para fazer, mas essas mil coisas não estavam conectando comigo... Tava difícil focar... me concentrar... Então, lembrei da receita. E todo o resto fica pra depois.

Minha amiga havia feito um bolo de chocolate para mim no meu aniversário, e o prato está aqui ainda. Amanhã não estará mais. Vou devolvê-lo com algo dentro: a receita que acabo de fazer. Meu aniversário foi no final de fevereiro... E até eu comer o bolo, veio março. Aí, a minha amiga saiu de férias. Pra Patagônia. Pra ver os pingüins e salvar o casamento. Viu os pingüins (as fotos das geleiras são mais impressionantes), mas não salvou o casamento... E aí depois eu me acidentei, e o braço direito ficou comprometido, visto que fazer a receita, fazer o prato, foi uma decisão adiada até agora...

Então, eu abri o vinho e comecei a fazer a receita... Abri o vinho e liguei o rádio. E fui fazendo a receita. Gosto da parte em que tem de misturar a farinha à manteiga. No começo, é estranho seus dedos afundarem naquele macio que é manteiga. Mas em seguida fica gostoso. E tuas mãos se misturam na farinha e na manteiga a ponto de tu não distinguir os dedos. E é gostoso. Vai misturando, misturando, tu tem certeza de que nunca mais verá teus dedos, que aquilo nunca mais vai se desgrudar, mas de repente a coisa faz sentido. Tua mão vai ficando lisinha novamente, e a massa também. Sim, a farinha, a manteiga e água se transformaram numa massa homogênea. Mágica. Culinária é um pouco isso, né? Comecei a pensar como que, na gênese, cozinhar é na verdade apoderar-se de algo. Você se sente com poder.

Fiz algumas mudanças na receita. Gosto de inventar... Daí lembrei da vez que fiz um quentão prum cara... e segui à risca a receita... Enquanto aquecia, ele me dizia isso: que não fazia nada à risca, ia colocando os ingredientes como que por intuição. No meu íntimo, concordei. Eu sou assim tb. Mas quando a gente se apaixona perde a naturalidade, a espontaneidade... Por isso, segui à risca a receita do quentão... no fundo, não queria o risco de errar. A receita seguida à risca era pra agradá-lo, mas isso eu não disse, né... ah, se a gente tivesse consciência, durante todo o tempo, que o que faz o outro se apaixonar é justamente a nossa naturalidade, né...

Voltando.
A rádio em que liguei começou a tocar músicas conhecidas. E quando me dei conta cantava sozinha na cozinha, com a taça de vinho na mão. Dançava e cantava.
".. o que eu quero é que ela quebre a minha rotina...", dizia o Lobão.
"...Não quero luxo nem lixo / Meu sonho é ser imortal... (...) E como vai você? Uma pessoa comum, filho de deus...", dizia a Rita Lee.

Quanto mais eu bebia, mais conhecidas me pareciam as músicas... Beeemmm bom. Pensei nos amigos, nas pessoas próximas, nos últimos acontecimentos, pensei em um monte de coisa junta e... neste clichê: em como na vida às vezes falta uma receita pra gente seguir, né?

Os treinos? Ah, ficam pra amanhã... Na real, não sei o que fazer com eles enquanto o cotovelo não fica bom... Dúvidas, dúvidas, dúvidas... Nossa! A Loraine-dramática atacando novamente.

O vinho acabou. A tarde se foi. A receita ficou pronta (foto).

O prato que fiz se chama Quiche Lorraine.
É francês.
Quiche Lorraine. Nossa, só penso em mim...
Você não? Ah, tá?! Vai dizer que vc pensa em como salvar o mundo? Ahã, me engana que eu gosto.

Quer um pedaço de Lorraine?

5 comentários:

Srta. PENÉLOPE disse...

Coisa muito BOA é ver que a minha Dudinha(sei que vc odeia que EU te chame assim,ehehe!!!Mas eu A-D-O-R-O!rsrs)está FELIZ...Mana realmente adoraria um pedacinho de Lorraine, mas aí me dei conta que já a tenho, porque vc é a MELHOR IRMÃ DO MUNDO e que felizmente o cara lá de cima ainda fez nascermos juntinhas. Mesmo com tantas diferenças que temos, nascemos juntas pra crescermos e evoluirmos com elas.E é justamente por isso que TE AMÚ MUUITO!!!

PS: E viva esse nosso lado pisciano de ser, viajandão, sonhador e com muita LIBERDADE!!!

Bjú

sebastiao disse...

Dudinha, ops, Lorraine, eu bem que queria um pedaço teu, mas sabe como é, sou um cara casado, esperando um filho... Então, melhor oferecer pro carinha este, mesmo. Bjo

Deco disse...

Será....
Pedaço ou Salvar o mundo...
Duvida cruel.....

muito legal seu texto, espero que vc tenha se recuperado bem...

Adriana Schnell disse...

Li só hoje...e amei cada palavra de felicidade. Beijo em ti, querida Lo!!!

André Cruz disse...

Puxa vida..olha que "perdi" fiquei muito tempo sem ler o teu blog e até quiche rolou aqui...hahaha é muito bom mesmo esse quiche..pena que perdi..bj

Bem juntinhas

Bem juntinhas
eu e a Búio