21 setembro 2005

os Domingos

Eu não consigo entender uma pessoa que conhece os dias da semana e escolhe Domingos como nome de seu filho. Eles, os Domingos-seres humanos, geralmente são carpinteiros, pedreiros, no máximo donos de mercadinhos. Ok, acho que fui um pouco (?) preconceituosa agora. Mas voltando à cabeça daquela mãe: como pode alguém que viveu todas as possibilidades de um sábado e a iminência de uma segunda-feira por anos na vida dar a luz a uma criança, olhar para a carinha do menino e tascar Do-min-gos? Ok, eu provavelmente estou sendo ignorante além de preconceituosa. Vai ver a palavra originariamente tem um significado, sei lá, bíblico, católico, e se aportuguezou (existe essa palavra? Alguém precisa aportuguesar ela – agora com S, pelo menos uma vez acertarei). Segunda-feira em espanhol, por exemplo, é Lunes, de Lua, a sentimental, introspectiva e, por isso, às vezes, dolorosa Lua. E vamos combinar que o dia de segunda-feira é mesmo tudo isso, ou você nunca desejou ficar em casa cavocando seus baús e recomeçar a vida só na terça?
Mas para mim os domingos são dias de extremos. Não me parece à toa que ele seja o fim e também o começo da semana, ficando a escolha a critério de cada um (ou do calendário mais próximo). Domingo é o dia em que a gente dorme demais, come demais, fala demais, ouve demais, acha que o sábado foi tudo de bom ou tudo de ruim.
O que são as manhãs de domingo? Ma-ra-vi-lho-sas. Se você abre a janela e o sol vai entrando, é possível acreditar que realmente tudo vai dar certo na vida. Revigorantes. Ninguém na rua, está todo mundo resgatando esperanças, cada um de sua janela. Os donos das calçadas são os cachorros (de rua), abanando seus rabos e se cheirando como num cumprimento, como se estivessem vindo de uma bela noitada pelo meio do asfalto, livres. Aí, você almoça, aquele almoço compriiiiiido, e a tarde quase se foi, mas ainda dá para pegar um cinema ou encontrar alguém querido que você não vê há algum tempo – e a expectativa disso já é suficiente. Breve, breve, tudo vai mudar. O que são as noites de domingo? Hor-ror absoluto. A lunática segunda-feira logo ali, o tudo por fazer na semana batendo na porta, o balanço – muitas vezes rigoroso demais, extremado – do que rendeu o fim de semana, o Faustão, a Glória Maria em mais uma viagem fantástica (como ela consegue?). Horror. Os domingos são dias de extremos, eu disse. Acho que as únicas pessoas que não sentem os domingos assim são as mães de Domingos. Acho que entendi o motivo da escolha do nome.

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