30 abril 2006

Agarradinho

Sempre que ele andava por perto eu sabia. Pelo perfume. Mesmo que não cruzasse com ele, o rastro de cheiro indicava sua passagem recente. Um perfume daqueles com popa e proa, porque algumas vezes o aroma embicava primeiro que ele. Mas esses dias algo em sua orelha direita distraiu meu olfato. Sequer lembro se seu perfume nessa vez antecipou sua presença ou foi o rastro dela. Aquilo na orelha, o que é?, pensei. De longe, eu não conseguia identificar, mas já conseguia estranhar.
Um telefone! Mais de perto, pude perceber.
Cumprimentei-o distraída por força da surpresa. Sim, eu já tinha visto um celular daqueles, dos bem modernos, que se fixa à voltinha da orelha como um urso agarradinho hi-tech. Só que vi na revista. E li como eu acho que um jovem lê uma matéria sobre geriatria, ou seja, não imaginei que se materializaria na minha frente pouco tempo depois.
Olha, não tenho nada contra penduricalhos em orelha ou novidades tecnológicas. Mas uma coisa é enfiar os fones de um tocador de música, por exemplo, e sair caminhando por aí balbuciando letras ou com um sorriso desenhado no rosto por causa da melodia. Agora, um celular? Quem precisa ter um telefone acoplado na orelha e andar por aí com a testa franzida, como que resolvendo um problema de segurança nacional estilo Jack Bauer? Quem? Que diabos tem de tão importante para ouvir e saber?
Haja paciência.
Naquele dia acho até que podia estar mal-humorada, mas tive certeza de que, se estamos mesmo nesse caminho, vou puxar a cordinha, me dá o ladinho porque eu quero descer já.

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