26 abril 2006

O peso das palavras

Eu odeio quando o jornalismo caga regras. Odeio. (Odeio e caga, duas palavras que eu não queria usar, porque são pesadas, e eu respeito o peso das palavras, principalmente das escritas.) De novo: odeio. Sabe o jornalismo do “como”? Como fazer isso, como não fazer isso, como melhorar aquilo, como, como, como... Saco. É pretensioso, é falso, porque o jornalismo retrata a vida real. E a vida das pessoas, ao menos as mais interessantes, não consegue seguir todas as regras. Até porque, se tu segue todas as regras, tu não questiona nada. E, se tu não questiona nada, nada muda. É preciso muito comprometimento para cagar regras. Parêntese: sabe a história da mãe que foi pedir a um sábio/monge/curandeiro, sei lá, que pedisse para o filho dela parar de comer doces porque estava fazendo mal e tal? Eram só algumas palavras, mas o monge mandou ela vir um tempo depois. Aí, quando ela veio, ele fez o que ela pediu, disse para o guri parar de comer doces. Então, ela quis saber por que o veinho (eu acho que era um idoso, para combinar com “sabedoria”) não tinha feito isso na primeira vez, já que ia só falar. O sábio/monge/curandeiro explicou o básico: como ele podia aconselhar o guri a parar com os doces se ele mesmo comia doces? Então, primeiro se livrou ele do hábito para então cagar as regras pro guri. Nesse caso, e só nesse caso, as palavras (ainda que regras) têm força.
É por isso que eu odeio quando o jornalismo caga regras. E é por isso que eu meio que não gosto do meu post anterior. Eu não quero explicar nada nessa vida – e, ali, parece que estou tentando explicar. Não estou certa do que escrevi, cadê a força das minhas palavras?

Eu acho que o jornalismo tinha de se limitar a fazer o que lhe é genuíno, o que foi a sua origem e a sua consagração, o que lhe faz sedutor e imprescindível: contar histórias. Tão apenas contar histórias. E não é pouca coisa: é a função monumental de contar a nossa história, sem regras, sem “comos”, prestando um serviço à História (agora, com letra maiúscula). Para a História-mãe, vamos parecer uma geração de leitores débeis, que precisava de “comos” diários para tudo.

Um comentário:

Gláucia disse...

Eu também prefiro o jornalismo narrativo-explicativo do que o jornalismo faça-você-mesmo.
Saudades daqui.
Vou ler o post que não gostaste.

Bem juntinhas

Bem juntinhas
eu e a Búio