02 abril 2006

Simetrias

A Cláudia Laitano escreveu uma crônica com esse título aí, sábado, em Zero Hora. De uma forma bem mais elegante do que esta, que foi como a minha lembrança guardou a idéia, ela mencionou um fio – perceptível por nós, espectadores aprisionados às pequenezas do presente, somente em algumas iluminadas vezes – que perpassa o todo, ligando acontecimentos e épocas – ou os sentimentos sobre estas e aqueles. Aí, a partir do Simetrias da Cláudia, meu pensamento (simetricamente) encontrou de novo uma coisa que há tempos eu queria escrever aqui e sempre adiava.
É que, mesmo sem conseguir explicar direito, eu acredito numa simetria suprema. Eu acho que existem três ou quatro sentimentos, três ou quatro leis, três ou quatro mandamentos, três ou quatro motivações – eu não sei que nome dar a eles, se sentimentos, leis, mandamentos ou motivações -, enfim, três ou quatro “algos” básicos, a origem do todo, e que apenas se repetem nas inúmeras esferas da vida, da natureza e do mundo, maculados pelas circunstâncias e por isso recebendo outros nomes. Então, no fundo são aqueles três ou quatro algos iniciais, repetidos indefinidamente, com alguma roupagem superficial porque influenciados pelo seu tempo e espaço – sempre relativos, o Einsten já garantiu.
Essa sensação tem a ver com a minha teoria do arco dos antônimos complementares, que eu criei numa mesa de bar e nunca mais consegui explicar direito a ninguém (nem com o desenho no guardanapo). Vou tentar: imagine-se em uma das pontas de um arco bem arredondado, tomado por um sentimento de ódio, por exemplo. Na outra ponta do arco, está o antônimo desse sentimento, o amor. Aí, você começa a se afastar da ponta do ódio, porque a vida precisa seguir e tal. Se afasta, se afasta, se afasta. Mas, como você caminha num arco, quanto mais você se afasta e se aproxima do amor, mais perto você está de novo do ódio, porque é um arco, lembra? Um círculo que, além de não ser perfeito, não se fecha. Eu descartei o círculo perfeito para essa teoria porque daria uma idéia de placidez, de fluidez, que eu acho incompatível com a forma como lidamos com esse afasta-e-aproxima de sentimentos/leis/mandamentos/motivações propulsores da vida – como o amor e o ódio. E também porque a gente precisa achar que está indo a algum lugar que não é o mesmo do ponto de partida. Um círculo poderia sugerir isso, e, ainda que a vida seja isso, é melhor parecer que não, para ficar atraente. A gente está sempre partindo e chegando aos mesmos pontos – ainda que com novas roupagens, graças à relatividade – e isso precisa ser uma descoberta, não algo previsto e sabido. Até dá para dizer que amor e ódio são o mesmo sentimento, apenas com identidades diferentes num complô para acreditarmos que o mundo é diverso.
Ok, eu sei que este post está difícil... Ele bem que poderia fazer parte da série “Não estou nada bem”. Talvez eu esteja falando não de uma, mas de duas coisas, ou de várias, querendo explicar (pretensiosamente) o mundo numa única teoria... É isso mesmo! :)
Segue-se outro exemplo, então, desse mundo absolutamente simétrico, só a gente não vê.
No Globo Repórter especial sobre a viagem ao espaço do brasileiro Marcos Pontes, a reportagem entrevistou um astronauta que foi quem mais horas já ficou fora de naves, entre as estrelas, com a escuridão do infinito na frente, dos lados e às costas. Sabe o que ele sentiu?
- Paz, uma sensação completa de paz – ele contou.
E aí eu lembrei que essa é rigorosamente a mesma sensação sabe de quem? De quem mergulha. No fundo do oceano ou no infinito do espaço (e podia-se dizer “no infinito do oceano ou no fundo do espaço”), sentimos a mesma a coisa.
Te convenci?

2 comentários:

Unknown disse...

Lô, eu sempre achei isso. Só não tinha conseguido verbalizar.

Gostei

:-)

Lo disse...

Jura, Cássia, que tu acha isso tb? Um dia seremos compreendidas!

Bem juntinhas

Bem juntinhas
eu e a Búio